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ENTREVISTA
RALPH BAER
Inventor do videogame projeta novos brinquedos
EMERSON KIMURA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Verão de 1966, um lampejo: usar um televisor para brincar. O
engenheiro alemão Ralph Baer colocou a idéia no papel e, no
ano seguinte, construiu o primeiro videogame da história. Após
patentear sua invenção em 1968, apresentou, em 1969, o Brown
Box, aparelho que deu origem ao Magnavox Odyssey, o primeiro console de videogame lançado comercialmente, em 1972.
Baer, que continua a trabalhar, falou à Folha sobre diversão
eletrônica e a polêmica com Nolan Bushnell, fundador da Atari.
FOLHA - Quando o senhor começou a
criar videogames, percebeu que eles
poderiam ser tão bons e viciantes?
RALPH BAER - Não, eu não posso
predizer o futuro, não mais do
que você.
FOLHA - O que o senhor faz hoje?
BAER - Ando extremamente
ocupado escrevendo minhas
memórias, trabalhando com
universidades e museus sobre a
história do videogame e ainda
projeto novos brinquedos eletrônicos e itens para games.
FOLHA - Como surgiu a idéia para uma
pistola [a primeira para videogames,
criada no fim dos anos 60]?
BAER - Simplesmente pensei.
Sou um engenheiro de televisão de profissão. Uma vez que
tínhamos uma marca na tela,
era natural atirar nela e fazê-la
desaparecer. É assim que funciona a cabeça de um engenheiro criativo.
FOLHA - O senhor joga games?
BAER - Eu tenho 86 anos... Eu
não jogo games, exceto quando
meus netos vêm, trazem um e
me colocam no meio. Não tenho consoles. Mas continuo a
fazer acessórios para usar com
o PlayStation, o Xbox e o Wii,
sobre os quais não posso falar.
FOLHA - Qual sua opinião sobre violência em videogames?
BAER - Eu deploro violência e
brutalidade em qualquer forma
e não terei nada a ver com isso.
FOLHA - Quais foram os principais fatos na tecnologia de games e brinquedos dos últimos 25 anos?
BAER - Brinquedos eletrônicos
de todos os tipos têm sido os
beneficiados (e, às vezes, os
benfeitores) do desenvolvimento da tecnologia eletrônica
-especialmente dos microprocessadores semicondutores,
sem os quais nenhum de nossos brinquedos e games atuais
seria possível.
FOLHA - Quais foram os principais obstáculos na tecnologia desse tipo de entretenimento?
BAER - Tecnicamente, a indisponibilidade de microprocessadores de baixo custo até mais
ou menos 1980; em negócios, a
relutância costumeira dos fabricantes de brinquedos e games de arriscar em produtos
totalmente novos.
FOLHA - O que o senhor espera para as
próximas décadas?
BAER - Eu gostaria que parte da
violência e brutalidade de muitos dos jogos desaparecesse,
mas isso não acontecerá no
mundo real.
FOLHA - O que guia a evolução da tecnologia em jogos e brinquedos?
BAER - Uma coisa e apenas uma coisa: microprocessadores
cada vez mais capazes que possam executar de modo eficiente softwares cada vez mais
complexos.
FOLHA - O senhor chegou a imaginar
que a indústria de games ficaria tão
grande?
BAER - Não havia como ler uma
bola de cristal nos anos 1970. O
crescimento da indústria ocorreu porque a disponibilidade de
componentes eletrônicos necessários para fazer jogos cada
vez melhores veio junto com a
revolução dos semicondutores.
FOLHA - Qual sua opinião sobre Nolan
Bushnell [co-fundador da Atari e criador de Pong]?
BAER - Bushnell tem sido extremamente deselegante em
não reconhecer que eu estava lá
antes e que o negócio de console doméstico começou com o
Magnavox Odyssey, que era a
versão de produção do meu
Brown Box de 1968.
Tentei ter uma educada troca
de e-mails com ele no passado,
mas ele não respondeu.
De qualquer maneira, o grande mérito por tornar o Atari
bem-sucedido pertence a Alan
Alcorn, que projetou o jogo de
arcade Pong original -a partir
de uma descrição resumida de
Bushnell, que jogara o game de
pingue-pongue para o Odyssey
em um evento da Magnavox,
em maio de 1972. O conceito
para o Pong originou-se do jogo
de pingue-pongue do meu
Brown Box, que Bushnell jogou
com o Odyssey.
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