São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2008

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ENTREVISTA
RALPH BAER

Inventor do videogame projeta novos brinquedos

EMERSON KIMURA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Verão de 1966, um lampejo: usar um televisor para brincar. O engenheiro alemão Ralph Baer colocou a idéia no papel e, no ano seguinte, construiu o primeiro videogame da história. Após patentear sua invenção em 1968, apresentou, em 1969, o Brown Box, aparelho que deu origem ao Magnavox Odyssey, o primeiro console de videogame lançado comercialmente, em 1972.
Baer, que continua a trabalhar, falou à Folha sobre diversão eletrônica e a polêmica com Nolan Bushnell, fundador da Atari.

 

FOLHA - Quando o senhor começou a criar videogames, percebeu que eles poderiam ser tão bons e viciantes?
RALPH BAER -
Não, eu não posso predizer o futuro, não mais do que você.

FOLHA - O que o senhor faz hoje?
BAER -
Ando extremamente ocupado escrevendo minhas memórias, trabalhando com universidades e museus sobre a história do videogame e ainda projeto novos brinquedos eletrônicos e itens para games.

FOLHA - Como surgiu a idéia para uma pistola [a primeira para videogames, criada no fim dos anos 60]?
BAER -
Simplesmente pensei. Sou um engenheiro de televisão de profissão. Uma vez que tínhamos uma marca na tela, era natural atirar nela e fazê-la desaparecer. É assim que funciona a cabeça de um engenheiro criativo.

FOLHA - O senhor joga games?
BAER -
Eu tenho 86 anos... Eu não jogo games, exceto quando meus netos vêm, trazem um e me colocam no meio. Não tenho consoles. Mas continuo a fazer acessórios para usar com o PlayStation, o Xbox e o Wii, sobre os quais não posso falar.

FOLHA - Qual sua opinião sobre violência em videogames?
BAER -
Eu deploro violência e brutalidade em qualquer forma e não terei nada a ver com isso.

FOLHA - Quais foram os principais fatos na tecnologia de games e brinquedos dos últimos 25 anos?
BAER -
Brinquedos eletrônicos de todos os tipos têm sido os beneficiados (e, às vezes, os benfeitores) do desenvolvimento da tecnologia eletrônica -especialmente dos microprocessadores semicondutores, sem os quais nenhum de nossos brinquedos e games atuais seria possível.

FOLHA - Quais foram os principais obstáculos na tecnologia desse tipo de entretenimento?
BAER -
Tecnicamente, a indisponibilidade de microprocessadores de baixo custo até mais ou menos 1980; em negócios, a relutância costumeira dos fabricantes de brinquedos e games de arriscar em produtos totalmente novos.

FOLHA - O que o senhor espera para as próximas décadas?
BAER -
Eu gostaria que parte da violência e brutalidade de muitos dos jogos desaparecesse, mas isso não acontecerá no mundo real.

FOLHA - O que guia a evolução da tecnologia em jogos e brinquedos?
BAER -
Uma coisa e apenas uma coisa: microprocessadores cada vez mais capazes que possam executar de modo eficiente softwares cada vez mais complexos.

FOLHA - O senhor chegou a imaginar que a indústria de games ficaria tão grande?
BAER -
Não havia como ler uma bola de cristal nos anos 1970. O crescimento da indústria ocorreu porque a disponibilidade de componentes eletrônicos necessários para fazer jogos cada vez melhores veio junto com a revolução dos semicondutores.

FOLHA - Qual sua opinião sobre Nolan Bushnell [co-fundador da Atari e criador de Pong]?
BAER -
Bushnell tem sido extremamente deselegante em não reconhecer que eu estava lá antes e que o negócio de console doméstico começou com o Magnavox Odyssey, que era a versão de produção do meu Brown Box de 1968.
Tentei ter uma educada troca de e-mails com ele no passado, mas ele não respondeu.
De qualquer maneira, o grande mérito por tornar o Atari bem-sucedido pertence a Alan Alcorn, que projetou o jogo de arcade Pong original -a partir de uma descrição resumida de Bushnell, que jogara o game de pingue-pongue para o Odyssey em um evento da Magnavox, em maio de 1972. O conceito para o Pong originou-se do jogo de pingue-pongue do meu Brown Box, que Bushnell jogou com o Odyssey.


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