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comportamento
Jovens usam celular para criar mundo particular
ENTRE DUAS TELINHAS Conversas por mensagem de texto excluem os pais e reafirmam privacidade proporcionada pelos aparelhos tecnológicos pessoais
DO "NEW YORK TIMES"
No cargo de presidente da
editora de livros e revistas para
crianças da Walt Disney Company, Russell Hampton conhece mais ou menos bem o universo dos adolescentes. Ou
pensou que conhecesse até que
levou sua filha de 14 anos, Katie, e duas amigas dela para verem uma peça de teatro no ano
passado, em Los Angeles.
No carro, a caminho, as meninas pararam de conversar.
Quando Hampton olhou pelo
retrovisor, viu a filha enviando
uma mensagem de texto pelo
celular. "Katie, você não deveria ficar enviando mensagens.
Suas amigas estão do seu lado.
Isso é falta de educação", disse
à filha. Katie revirou os olhos.
"Mas, papai, nós estamos trocando mensagens", afirmou.
"Eu não quero que você escute
o que estamos dizendo."
Essa é uma cena que se tornou comum hoje. As crianças
apelam com freqüência cada
vez maior aos dispositivos pessoais para se definirem e criarem círculos de convívio distantes de suas famílias.
Savannah Pence, 15, diz que
seu pai, John, não deixou que
ela e seu irmão Alex, 19, tivessem um celular antes de chegarem ao ensino médio. John
Pence, dono de um restaurante
de Portland, Oregon, ficou inseguro sobre como se relacionar com a filha. "Eu não sabia
de que forma deveria me comunicar com ela", disse Pence. Então, fez um curso rápido sobre
as mensagens com Savannah.
Pence diz que teve de aprender a enviá-las porque a filha
não respondia às ligações dele.
Savannah conta que envia
mensagens de texto para seu
pai ao menos duas ou três vezes
por dia. "Eu não posso perguntar nada porque ele é muito devagar", disse.
Mudança social
As inovações tecnológicas,
claro, sempre provocaram amplas mudanças sociais. Os automóveis acabaram por inaugurar uma era na qual os adolescentes conseguiam ter encontros amorosos longe dos olhares vigilantes dos responsáveis
por eles. E os computadores,
com a internet, disponibilizaram, até para crianças bem jovens, vidas virtuais separadas
de seus pais e irmãos.
Analistas de negócios e pesquisadores prevêem que a popularidade dos celulares junto
à mobilidade e à intimidade
que oferecem vai aprofundar e
acelerar essas tendências.
Em 2010, 81% dos norte-americanos entre 5 e 24 anos
terá seu próprio celular, contra
os 51% de 2005, revelou a IDC,
que acompanha mercados.
Psicólogos sociais como
Sherry Turkle, professora do
MIT (Instituto de Tecnologia
de Massachusetts), que estudou o impacto social dos portáteis de comunicação, diz ser
provável que essas tendências
continuem. "Para as crianças,
ele [o celular] se transformou
em um objeto que molda a
identidade delas e altera sua
psique", disse Turkle.
Vendedores e fabricantes de
celulares transbordam de alegria diante da possibilidade de
superar a mais nova barreira de
gerações. A IDC diz que o faturamento com serviços e produtos para os jovens e os pais deles deve aumentar de US$ 21 bilhões em 2005 para US$ 29 bilhões em 2010.
Até agora, o fato de os pais de
hoje conseguirem encontrar
seus filhos quando bem entendem tem se traduzido para as
famílias em mais vantagens do
que desvantagens. Hampton,
que é divorciado, afirmou ser
fácil falar com Katie, mesmo os
dois morando em regiões com
fusos horários diferentes. E
universitários, como Ben Blanton, podem enviar uma mensagem de texto para os pais quando desejam, pedindo algo ou só
para dar um alô. "A mensagem
de texto fica entre ligar e mandar um e-mail", disse Blanton.
No entanto, como qualquer
mudança cultural envolvendo
pais e filhos -o nascimento do
rock'n'roll ou a revolução sexual de 1960-, vários abismos
se fazem presentes. A geração
"baby boomer", que décadas
atrás reclamava de não poder
confiar em seus pais conservadores, agora se vê por vezes
criando filhos que, devido, à internet e aos celulares, também
consideram a mamãe e o papai
fora de órbita. Os jovens estão
mais conectados do que nunca
-e muito mais independentes.
Tradução de RODRIGO CAMPOS CASTRO
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