São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 2000

Próximo Texto | Índice

CIBORGUE




Veja a história do cientista que realizou um implante de chip para estudar seu sistema nervoso e conheça os andróides, robôs que imitam características humanas

Cientista implanta computador no braço



France Presse
A andróide Ursula, que sabe cantar e dança mexendo a cintura


DANNY PENMAN
DA PLANET SYNDICATION

O professor Kevin Warwick nasceu humano, mas isso foi apenas um "acidente": seu objetivo é se transformar em um ciborgue, parte homem, parte máquina.
Se obtiver sucesso, daqui a 18 meses ele terá seu sistema nervoso conectado a um minicomputador implantado em seu braço.
Warwick pretende realizar experiências com o seu sistema nervoso: ele tentará desenvolver novos sentidos, criar drogas eletrônicas -que o deixarão feliz ou triste por meio de pulsos elétricos- e depois começará a explorar os limites de sua recém-criada consciência mecânica. Em seguida, ele tentará transformar sua mulher e seus colegas de laboratório em ciborgues, realizando o sonho de fundir homem e máquina.
À medida em que a tecnologia salta adiante, não é impossível que o professor Warwick e seus sucessores acabem vivendo tão interconectados que se tornarão uma colméia, uma forma de vida inteiramente nova e maior do que a soma de suas partes humanas -e mecânicas.
Mas Warwick, que é professor de cibernética na Universidade de Reading, na Inglaterra, alerta: "Quero que o desenvolvimento de ciborgues e de inteligência artificial seja monitorado e detido antes que vá longe demais".
"Os usos militares desse tipo de tecnologia seriam terríveis. Haveria máquinas capazes de se proteger e sustentar, e não seria possível desligá-las".
De acordo com Warwick, os ciborgues poderiam ter um papel importante: "Deveríamos colocar o melhor da inteligência mecânica em nossos corpos".

Inseto
Atualmente, o professor Warwick não parece um ciborgue: seu escritório é reconfortantemente bagunçado. Warwick não conseguiu criar uma faxineira robótica, mas inventou uma barata eletrônica altamente inteligente que imita perfeitamente o comportamento de insetos verdadeiros.
Com a barata de 60 centímetros me olhando desanimadamente do outro lado da sala, começo a acreditar em sua visão do futuro.
"A realidade será diferente para os ciborgues, os conectados. Se incluirmos tecnologia em nossas mentes, talvez possamos viver em dimensões paralelas. Imagine que aparência o mundo teria se você tivesse visão de raios X ou pudesse sentir campos magnéticos."
O professor Warwick acredita que assim que as tarefas tediosamente complexas forem entregues às máquinas, a diversão -talvez perigosa- começará.

Viagens digitais
Ele crê que, dentro de dez anos, drogas eletrônicas eficazes serão desenvolvidas. Elas trabalharão estimulando o sistema nervoso e ajudarão a curar o corpo, a combater a depressão ou a suprimir dores.
Logo depois, as empresas de jogos eletrônicos tentarão aproveitar essas descobertas para criar aventuras que alterem o estado mental dos usuários, aumentando o realismo dos games.
Depois dos jogos legais, virão as drogas ilegais, que se conectarão diretamente aos centros de prazer do cérebro, cortando a necessidade de drogas químicas.
"Essas máquinas ficarão o mais próximo possível das drogas, legalmente. Versões mais poderosas -mas ilegais- surgirão logo depois", acredita Warwick.
Se isso também soa como ficção científica, vale a pena lembrar que os elementos básicos já existem: pesquisadores norte-americanos testaram drogas eletrônicas em chimpanzés.
Os animais foram conectados a uma máquina simples que estimulava os centros de prazer de seus cérebros. Eles ficaram tão sobrecarregados de prazer que quase morreram de fome.
Experiências parecidas foram feitas com ratos, que suportaram altos níveis de dor física desde que pudessem continuar ligados às drogas por mais tempo.

Tradução de Clara Allain.


Próximo Texto: Andróides imitam gente, mas ainda são burros
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.