São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 2000

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Andróides imitam gente, mas ainda são burros



DAVID WILSON
DA PLANET SYNDICATION

Os andróides têm uma péssima reputação, o que não é nada surpreendente: basta observar como essas máquinas (projetadas para agir como humanos) são representadas na cultura popular.
De um lado, há o "Mochileiro das Galáxias", de Douglas Adams, com o personagem Marvin, o Andróide Paranóico, famoso por frases como "não finja que quer falar comigo" ou "sei que você me odeia".
De outro lado, há o Exterminador do Futuro e os replicantes assassinos do filme "Blade Runner".
Mas, na vida real, muitos dos andróides em operação nos laboratórios do mundo não são deprimidos ou ameaçadores - apenas divertidos.
Há andróides que imitam celebridades como o presidente americano Franklin Roosevelt, robôs bobinhos especializados em artes marciais e andróides-bebê super-realistas que arrotam, dão gritinhos e sorriem.

Sonho platinado
Possivelmente, a rainha dos andróides, no momento, é Ursula, da Florida Robotics. Essa máquina que participa de promoções de filmes é capaz de cantar e dançar graciosamente, movimentando os braços, a cintura e o pescoço.
Não surpreende que Ursula tenha tantos admiradores. "Eles se espantam com a aparência da máquina", diz Fay Martin, porta-voz da Florida Robotics.
Ela nega que Ursula tenha sido baseada em uma pessoa real. "Meu marido sonhou com ela. Mas o cabelo loiro foi idéia minha". Como os olhos azuis brilhantes de Ursula, ele é feito de fibras ópticas.
Segundo Martin, o maior desafio do projeto foi acomodar todos os circuitos necessários dentro do corpo do andróide.
Movimentos fluidos, aparência atraente e personalidade são elementos cruciais para qualquer andróide, diz Martin. Ela descreve a personalidade de Ursula como "definitivamente reservada, refinada e de alta classe".
É preciso dizer, porém, que -como muitas modelos- Ursula não é exatamente brilhante do ponto de vista cognitivo. Na verdade, ela não pensa e é controlada por um operador.
Os analistas concordam que ainda estamos muito longe de construir andróides com consciência e um senso de autonomia. Isso é possível?
Josh Calder, da Coates & Jarratt, consultoria especializada em previsões tecnológicas, é cético. Ele ressalta que até mesmo o Deep Blue (computador enxadrista da IBM) "não sabe que está jogando xadrez, ou sequer o que é xadrez. Ele simula o conhecimento de xadrez. Toda inteligência artificial existente hoje é uma simulação de compreensão, e não compreensão real".
Mesmo que um dia cientistas consigam criar andróides inteligentes, será que poderemos dotá-los da capacidade de responder fisicamente ao ambiente com a mesma versatilidade humana?
Yasuo Kunisyoshi, que dirige o Laboratório de Interação Humanóide, no Japão, reconhece que esse é um grande desafio. "Uma ação física do corpo humano envolve um controle coordenado de muitos elementos", diz.

Protótipos
A sofisticação desse processo é muito difícil de reproduzir eletronicamente. Mesmo assim, no futuro, alguns andróides com certeza terão papéis valiosos a desempenhar na sociedade.
Um bom exemplo é o andróide P3, da Honda. Ele ganhou o apelido de Honda Sapiens, e pode ser o precursor de andróides que trabalhariam em hospitais ou usinas nucleares.
Outra máquina sofisticada é o Robonaut, um andróide de tamanho humano criado pela Nasa (agência espacial norte-americana) para auxiliar astronautas em missões espaciais.
Suas mãos têm cinco dedos, incluindo uma palma articulada, e foram projetadas especificamente para trabalhar com as ferramentas que os astronautas empregam.
O Robonaut é capaz de cortar e desencapar fios usando ferramentas comuns e também sabe operar uma furadeira elétrica e apertar parafusos.
O andróide consegue até usar alicates para manipular pequenos objetos, mas também não é autônomo: um operador controla os movimentos do robô usando equipamentos de realidade virtual.
Mesmo que sejam intrigantes e frequentemente divertidos, os andróides atuais fazem uma barata parecer um gênio.
As principais exceções continuam a ser personagens de ficção como o pobre Marvin paranóico, que lamenta a existência dos andróides -ou de qualquer outra coisa.


Tradução de Paulo Migliacci.


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