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São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 2003

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MERCADO

Memorandos apontam possível uso de descontos para tirar concorrente do mercado; para empresa, prática é normal

Documentos revelam táticas da Microsoft

THOMAS FULLER
DO "INTERNATIONAL HERALD TRIBUNE"

Pelo menos 90% dos computadores pessoais utilizam o sistema operacional Windows. Mas a Microsoft quer ainda mais.
No ano passado, Orlando Ayala, então encarregado das vendas mundiais da Microsoft, enviou uma mensagem por e-mail, com o título "Microsoft Confidencial", aos gerentes seniores da empresa.
Ele traçava uma estratégia para dissuadir governos de todo o mundo de escolher sistemas concorrentes do Windows, que são mais baratos.
A mensagem dizia aos executivos que, se um negócio envolvendo governos ou grandes instituições parecesse condenado ao fracasso, eles estariam autorizados a lançar mão de um fundo especial para oferecer o software com descontos progressivos -ou até de graça, se necessário. Steve Ballmer, presidente da Microsoft, recebeu uma cópia do e-mail.
O memorando também mencionava o sistema Linux, que é mantido por voluntários e pode ser usado gratuitamente: "Em nenhuma circunstância perca para o Linux", escreveu Ayala.
Esse memorando, bem como outros documentos internos da Microsoft, oferece um relance, raro nos dias de hoje, das entranhas da empresa, a maior companhia de software do mundo.
Os documentos descrevem um programa de táticas que foi posto em prática nos últimos anos e inclui desde descontos progressivos nos preços até funcionários da Microsoft mentindo sobre sua identidade em feiras comerciais.
A concessão de descontos é uma prática empresarial normal. Mas, sob as leis européias, as empresas que detêm uma posição dominante no mercado, como a Microsoft, estão proibidas de oferecer descontos destinados a tirar os concorrentes do mercado.
Em uma entrevista concedida por telefone, Jean-Philippe Courtois, presidente das operações da Microsoft na Europa, na África e no Oriente Médio, defendeu o uso do fundo especial descrito na mensagem de e-mail de Ayala, dizendo que ele era parte de uma estratégia para que a Microsoft fosse "competitiva" e tivesse uma posição "relevante" no mercado de grandes negócios com governos e na área educacional.
Rivais usam táticas similares, disse Courtois. "A Sun Microsystems, por exemplo, está cedendo o StarOffice basicamente a governos e escolas", disse ele. O conjunto de programas da Sun funciona com o Windows e com o Linux.
Outro memorando da Microsoft revela os detalhes de um programa para conceder descontos a clientes empresariais sobre as taxas cobradas por consultoria.
Segundo o documento, aproximadamente US$ 180 milhões seriam destinados a esse propósito no ano fiscal de 2003, que termina em junho. A Microsoft tem uma participação crescente nesse mercado, mas ainda enfrenta vigorosa concorrência de empresas como a IBM, que promove o Linux.
Os programas para servidores motivam duas ações antitruste contra a Microsoft na Europa. A Microsoft é acusada de usar o seu domínio esmagador do mercado de software para PCs para ganhar o mercado de servidores.
Chris O'Rourke, um funcionário da Microsoft, compareceu à LinuxWorld, uma feira comercial na Califórnia, "fazendo-se passar por um consultor independente em computação" a serviço de escolas públicas, segundo uma mensagem de e-mail enviada por ele em 20 de agosto de 2002.
"Em geral, as pessoas acreditavam", escreveu O'Rourke. Ele disse que seu objetivo era obter informações sobre a concorrência. O disfarce, disse O'Rourke, "fez com que as pessoas se abrissem e falassem". A reportagem tentou falar com O'Rourke, mas não obteve resposta.

Brasil
Está prevista para hoje a apresentação, na Assembléia Legislativa de São Paulo, de um projeto de lei do deputado Simão Pedro (PT) que obrigaria o governo estadual a utilizar softwares gratuitos e de código aberto.


Com Redação; tradução de Angela Caracik


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