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Cultura móvel rouba da arte seu aspecto de espetáculo
GISELLE BEIGUELMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Paralelamente ao sucesso
comercial dos celulares com
câmera, multiplicam-se os
festivais dedicados a obras
filmadas com telefones celulares, como o Mobile Exposure (www.microcinema.com/index/mobile2006) e
o CanariasMediaFest
(www.canariasmediafest.org/)
Esse tipo de vídeo, que pode ve ser visto nos próprios
aparelhos em que é produzido, aponta para um inequívoco processo de desespetacularização da arte.
Isso não é decorrência do
porte minúsculo das telinhas
dos celulares, mas do contexto de fruição pautado pelo nomadismo da cultura da
mobilidade.
Trata-se de uma arte que
se confunde com os meios
em que é disponibilizada e é
experimentada em situações
de trânsito, tendendo a impor um regime de quase anonimato aos seus artífices.
Celulares são dispositivos
relacionados ao estilo multitarefa do homem contemporâneo. São feitos para que seja possível desempenhar atividades simultâneas e não-correlatas, como dirigir e falar ou escrever torpedos e assistir a uma aula.
Por isso, não podem circunscrever um campo de
atenção especial às obras,
como os museus e o cinema.
Espaços de consumo ruidosos, os celulares são também meios extremamente
rígidos.
Rebeldia
Qualquer conteúdo produzido para celular implica a
aceitação de regras predefinidas pelas operadoras (como o peso máximo em
Kbytes) e dos próprios aparelhos, tolhendo, de certa
forma, a liberdade de outros
tipos de arte em que o artista
define as leis de funcionamento de sua obra.
Apesar disso, a "mobile
art", como vem sendo chamada, é rebelde por natureza. Arte produzida para ser
transmitida enquanto fazemos outras coisas, confronta
a assepsia típica das exposições de arte digital e desdenha do silêncio e da concentração dos circuitos tradicionais da arte.
Cria, assim, uma temporalidade própria, a do intervalo, para correr uma situação
de risco permanente: a de ser
arte para não ser vista.
A era do consumidor
Ter conteúdos gerados pelos consumidores é uma das
uma das marcas registradas
da web 2.0, que remete a novos padrões de organização
dos dados que permitem aos
internautas pensar em rede.
Bons exemplos desse fenômeno são os sites, como o
del.icio.us e o All Consuming (allconsuming.net),
de compartilhamento de informações e opiniões.
GISELLE BEIGUELMAN é webartista
(www.desvirtual.com), professora da pós-graduação da PUC-SP e autora de "Link-se"
(Editora Peirópolis, 2005)
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