São Paulo, quarta-feira, 21 de junho de 2006

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Cultura móvel rouba da arte seu aspecto de espetáculo

GISELLE BEIGUELMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Paralelamente ao sucesso comercial dos celulares com câmera, multiplicam-se os festivais dedicados a obras filmadas com telefones celulares, como o Mobile Exposure (www.microcinema.com/index/mobile2006) e o CanariasMediaFest (www.canariasmediafest.org/)
Esse tipo de vídeo, que pode ve ser visto nos próprios aparelhos em que é produzido, aponta para um inequívoco processo de desespetacularização da arte.
Isso não é decorrência do porte minúsculo das telinhas dos celulares, mas do contexto de fruição pautado pelo nomadismo da cultura da mobilidade.
Trata-se de uma arte que se confunde com os meios em que é disponibilizada e é experimentada em situações de trânsito, tendendo a impor um regime de quase anonimato aos seus artífices.
Celulares são dispositivos relacionados ao estilo multitarefa do homem contemporâneo. São feitos para que seja possível desempenhar atividades simultâneas e não-correlatas, como dirigir e falar ou escrever torpedos e assistir a uma aula.
Por isso, não podem circunscrever um campo de atenção especial às obras, como os museus e o cinema.
Espaços de consumo ruidosos, os celulares são também meios extremamente rígidos.

Rebeldia
Qualquer conteúdo produzido para celular implica a aceitação de regras predefinidas pelas operadoras (como o peso máximo em Kbytes) e dos próprios aparelhos, tolhendo, de certa forma, a liberdade de outros tipos de arte em que o artista define as leis de funcionamento de sua obra.
Apesar disso, a "mobile art", como vem sendo chamada, é rebelde por natureza. Arte produzida para ser transmitida enquanto fazemos outras coisas, confronta a assepsia típica das exposições de arte digital e desdenha do silêncio e da concentração dos circuitos tradicionais da arte.
Cria, assim, uma temporalidade própria, a do intervalo, para correr uma situação de risco permanente: a de ser arte para não ser vista.

A era do consumidor
Ter conteúdos gerados pelos consumidores é uma das uma das marcas registradas da web 2.0, que remete a novos padrões de organização dos dados que permitem aos internautas pensar em rede. Bons exemplos desse fenômeno são os sites, como o del.icio.us e o All Consuming (allconsuming.net), de compartilhamento de informações e opiniões.


GISELLE BEIGUELMAN é webartista (www.desvirtual.com), professora da pós-graduação da PUC-SP e autora de "Link-se" (Editora Peirópolis, 2005)

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