São Paulo, quarta-feira, 23 de fevereiro de 2005

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CONTRA-ATAQUE

Softwares melhorados popularizam troca de programação televisiva via rede; emissoras reagem com produtos

Programas facilitam download de vídeos

LORNE MANLY
JOHN MARKOFF
DO "NEW YORK TIMES"

Isaac Richards não pensava em si mesmo como um rebelde, em choque com a engrenagem bem lubrificada da indústria da televisão. Ele só estava infeliz com o sintonizador de TV a cabo fornecido por sua operadora local.
Consternado pela lentidão na troca de canais e pelo guia de programação pouco informativo, ele decidiu construir um conversor de sinais melhor a partir do nada.
Hoje, quase três anos depois que Richards, um programador de 26 anos, embarcou em sua aventura, centenas de milhares de espectadores de televisão estão utilizando o software gratuito que ele criou, o MythTV, para transformar seus computadores em receptores de TV completos, com capacidade de gravar programas e cortar comerciais indesejados.
Os membros da comunidade MythTV, que agora não têm de pagar uma taxa mensal para alugar sintonizadores nem gravadores digitais, têm uma companhia mais nociva, que tenta passar a perna na indústria da televisão.
Milhões de espectadores já estão, atualmente, assistindo a cópias ilegais de programas televisivos e até a temporadas completas de séries copiadas de DVDs. Tudo via internet.
Além disso, desenvolvedores de software estão criando programas para facilitar o processo, como um que busca na internet cópias ilegais de qualquer programa de televisão que você possa desejar e automaticamente faz o download do mesmo no seu computador.
Esses truques de alta tecnologia atendem a anseios que se tornaram o padrão na era da gratificação instantânea: o desejo de assistir ao que você quiser, quando e como quiser. E eles estão transformando a televisão, que tradicionalmente levava às casas o que era conveniente para as emissoras, em alguma coisa mais flexível, portátil e sem comerciais.
Não é surpreendente que a repercussão disso, particularmente o crescente número de programas disponíveis on-line, amedronte os executivos do setor de TV. Eles se lembram muito bem do que o Napster e outros programas de troca de arquivos fizeram com a indústria fonográfica.
Os executivos se afligem com a possibilidade da troca incontida e desenfreada de arquivos ameaçar a opulência do negócio relativamente novo, mas surpreendentemente lucrativo, dos DVDs de séries da televisão.
Isso poderia colocar em perigo as vendas de programas de televisão para mercados internacionais. E poderia, também, colocar em perigo o que nos últimos 50 anos vem sendo o esteio econômico da televisão: os comerciais.
Nos últimos meses, Hollywood foi assunto de muitas manchetes por combater o tráfico on-line de filmes. Mas, nos bastidores, estúdios e redes estão concentrando atenção sobre a proliferação de downloads de programas de TV.
Muito mais silenciosamente, os conglomerados que produzem a grande maioria dos programas de televisão travam uma luta renhida para derrotar aqueles que executam os downloads. A estratégia é oferecer aos espectadores uma série de produtos. Dos vídeos sob demanda -que podem permitir que os espectadores comprem um episódio a qualquer hora- a um dispositivo que permite reiniciar transmissões ao vivo.
"Temos de nos esforçar para chegar na frente e dar à audiência um modelo atraente antes que os provedores de troca de arquivos ilegais atendam a suas necessidades", disse David Poltrack, vice-presidente da CBS TV. "O tempo está correndo", acrescentou.


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