São Paulo, quarta, 27 de janeiro de 1999

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INTERNET E EDUCAÇÃO

País sem coesão social

FREDRIC M. LITTO

Honolulu sediou na semana passada a 21ª Conferência de Telecomunicações do Pacífico, reunindo 2.000 profissionais de telecomunicações, principalmente dos países banhados pelo oceano Pacífico.
Espero ter sido convidado para falar sobre a "Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro", da Escola do Futuro da USP, não por um erro de conhecimento geográfico, mas devido à possível aplicação do modelo em outros países em desenvolvimento.
Como sempre, fui mais para aprender do que para ensinar. E, nesse sentido, foi uma boa oportunidade para verificar o grau de avanço/atraso em que o Brasil se situa em relação a outros países.
Todas as vozes entoavam a mesma mensagem: devido às novas tecnologias de informação, a aprendizagem daqui em diante pode estar disponível a qualquer hora do dia, com bastante interatividade, feita sob medida para cada aluno, atualizável em todos os aspectos, e internacional em escopo e acesso.

País mais conectado
Uma vice-ministra do Canadá relatou a ambição do seu país de torná-lo "o mais conectado do mundo". Isso será concretizado quando todas as 16,5 mil escolas e 3.400 bibliotecas do país forem conectadas à Internet até o final de março.
Sua justificativa para esse investimento não era um dos tradicionais argumentos de "modernização" ou "aumento de produtividade", mas de "coesão social".
Isto é, de dar iguais condições de qualidade de vida (aprendizagem, saúde e serviços sociais e cidadania) a todos os cidadãos com a criação de "comunidades inteligentes".

Influência das crianças
Um representante da companhia telefônica de Taiwan, onde 80% das residências têm televisão a cabo, mas apenas 15% usam a Internet, descreveu um sábio plano para aumentar esse uso por meio de uma campanha nas 3.200 escolas da ilha para integrar as lições de casa a atividades de ajuda via Internet.
Será pelas crianças, influenciando os pais, que mais computadores serão adquiridos à rede.
Um pesquisador educacional da ilha de Guam, no sul do Pacífico, descreveu como os desastres naturais, nos últimos anos, têm criado condições mais que precárias para o estabelecimento e a manutenção de computadores em escolas e acesso à Internet.
Um paraíso, que me fez lembrar do Brasil, onde nossas tentativas de usar as novas tecnologias de informação com êxito são derrubadas por "gente-motos".
Devido a valores bem enraizados, no país, não há coesão social.
Qualquer esforço representa um ato isolado.

Falta de integração
Em vez de integração do Estado, setor privado, universidades, fundações e sindicatos de professores em iniciativas de modernizar a educação, cada setor faz autopromoção no início de cada tentativa isolada e desiste de continuar.
Sem uma integração de esforços, não adianta ser a oitava economia do mundo, nem ocupar o 13º em uso da Internet.


Fredric M. Litto é coordenador científico da Escola do Futuro da USP e presidente da Abed - Associação Brasileira de Educação à Distância.



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