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INTERNET E EDUCAÇÃO
País sem coesão social
FREDRIC M. LITTO
Honolulu sediou na semana passada a 21ª Conferência de Telecomunicações do
Pacífico, reunindo 2.000 profissionais de telecomunicações, principalmente dos
países banhados pelo oceano
Pacífico.
Espero ter sido convidado
para falar sobre a "Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro", da Escola do Futuro
da USP, não por um erro de
conhecimento geográfico,
mas devido à possível aplicação do modelo em outros
países em desenvolvimento.
Como sempre, fui mais para aprender do que para ensinar. E, nesse sentido, foi
uma boa oportunidade para
verificar o grau de avanço/atraso em que o Brasil se situa
em relação a outros países.
Todas as vozes entoavam a
mesma mensagem: devido às
novas tecnologias de informação, a aprendizagem daqui em diante pode estar disponível a qualquer hora do
dia, com bastante interatividade, feita sob medida para
cada aluno, atualizável em
todos os aspectos, e internacional em escopo e acesso.
País mais conectado
Uma vice-ministra do Canadá relatou a ambição do seu
país de torná-lo "o mais conectado do mundo". Isso será concretizado quando todas as 16,5
mil escolas e 3.400 bibliotecas
do país forem conectadas à Internet até o final de março.
Sua justificativa para esse investimento não era um dos tradicionais argumentos de "modernização" ou "aumento de
produtividade", mas de "coesão social".
Isto é, de dar iguais condições
de qualidade de vida (aprendizagem, saúde e serviços sociais
e cidadania) a todos os cidadãos com a criação de "comunidades inteligentes".
Influência das crianças
Um representante da companhia telefônica de Taiwan, onde 80% das residências têm televisão a cabo, mas apenas
15% usam a Internet, descreveu um sábio plano para aumentar esse uso por meio de
uma campanha nas 3.200 escolas da ilha para integrar as lições de casa a atividades de
ajuda via Internet.
Será pelas crianças, influenciando os pais, que mais computadores serão adquiridos à
rede.
Um pesquisador educacional
da ilha de Guam, no sul do Pacífico, descreveu como os desastres naturais, nos últimos anos,
têm criado condições mais que
precárias para o estabelecimento e a manutenção de computadores em escolas e acesso à
Internet.
Um paraíso, que me fez lembrar do Brasil, onde nossas tentativas de usar as novas tecnologias de informação com êxito
são derrubadas por "gente-motos".
Devido a valores bem enraizados, no país, não há coesão
social.
Qualquer esforço representa
um ato isolado.
Falta de integração
Em vez de integração do Estado, setor privado, universidades, fundações e sindicatos
de professores em iniciativas de
modernizar a educação, cada
setor faz autopromoção no início de cada tentativa isolada e
desiste de continuar.
Sem uma integração de esforços, não adianta ser a oitava
economia do mundo, nem ocupar o 13º em uso da Internet.
Fredric M. Litto é coordenador científico
da Escola do Futuro da USP e presidente da
Abed - Associação Brasileira de Educação à
Distância.
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