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ÍNDIOS NA REDE
Serviço que coloca em comunicação representantes de várias etnias tem recebido cerca de 700 acessos diários
Portal indígena critica ação de "brancos"
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
Índios de sete etnias estão usando a internet para fazer reivindicações e criticar o governo federal, os fazendeiros e os "brancos".
O canal usado por eles é o portal
www.indiosonline.org.br, lançado oficialmente há uma semana.
"O Ibama proíbe quase tudo para nós. Mas, pagando gorjeta, um
"branco" pode fazer tudo em nossas terras", escreveu o líder indígena Valdeleci Tupinambá, que
mora em Olivença (BA). Outra
atração do site é a sala reservada
ao bate-papo, que reduziu as distâncias entre as nações.
Na sala, os erros ortográficos ficam em segundo plano. "O que
nós queremos é fazer novas amizades, saber como anda a vida em
outras nações, contar um pouco
da história de cada um de nós.
Não adianta falar corretamente o
português e, em seguida, destruir
o nosso passado, a nossa história,
como os "brancos" fazem", disse a
índia tupinambá Maria José
Amaral, 43, que mora em Ilhéus
(429 km ao sul de Salvador).
Para aprender a trabalhar com a
internet, 14 índios de três Estados
(Bahia, Alagoas e Pernambuco)
participaram de um curso em Salvador, no início do mês. Depois,
visitaram escolas públicas com
mais de 15 mil alunos para contar
as suas experiências.
As aulas foram realizadas em
uma rua arborizada e sem calçamento de Itapuã (orla de Salvador), em um galpão. O portal começou a funcionar em caráter experimental na semana passada.
"Em média, estamos registrando 700 acessos diários", disse Luís
Henrique Moreira, 38, responsável pelo desenvolvimento. Segundo ele, os sites indígenas brasileiros normalmente são atualizados
por entidades. "Agora, os índios
serão os redatores. Não existe nenhum tipo de censura."
"Em todo o país, há menos de
cinco aldeias que têm computadores. O que fizemos foi uma coisa totalmente diferente. Doamos
sete computadores para que os
índios possam redigir as suas notícias, cobrar as suas reivindicações", disse o argentino Sebastian
Gerlic, 34, presidente da Thydêwá, organização não-governamental responsável pelo projeto.
Além de um curso básico de 36
horas de informática, os índios
também aprenderam dicas sobre
sites -imagens, navegabilidade,
texto e edição.
De acordo com Gerlic, as sete etnias que encaminharam representantes para Salvador -tupinambá, quiriri, pataxó-hã-hã-hãe, tumbalalá, cariri-xocó, xucuru-cariri e pancararu- têm cerca
de 25 mil índios.
O presidente da organização
não-governamental disse também que todas as aldeias ganharam uma antena para conexão 24
horas por dia a um satélite. "Assim, os índios terão internet de alta velocidade (banda larga) o tempo todo." Além dos computadores, cada etnia também recebeu
uma máquina fotográfica digital.
"Queremos ver as fotos produzidas pelos índios dentro das aldeias na internet. Não queremos
nada produzido, queremos a realidade", disse Moreira.
De acordo com Sebastian Gerlic, o projeto está orçado em R$
150 mil. Uma rede de estabelecimentos comerciais e um programa de incentivo cultural do governo baiano financiaram os
computadores, os equipamentos
fotográficos, as antenas e a instalação do portal indígena.
"Estou me comunicando com o
mundo, ampliando os meus conhecimentos. Não é pelo fato de
eu ser índio que devo viver sempre isolado", disse Antonio José
dos Santos, 34, da etnia dos pancararus, que habitam o sertão de
Pernambuco.
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