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São Paulo, quarta-feira, 28 de maio de 2003

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PEGUE E PAGUE

Indústria fonográfica financia desenvolvimento secreto de métodos para atacar micros com arquivos ilegais

Plano quer travar PC contendo música pirata

Reprodução
Tela do programa KaZaA, cujos usuários receberam advertência


ANDREW ROSS SORKIN
DO "THE NEW YORK TIMES"

Segundo executivos da indústria fonográfica, algumas das maiores gravadoras do mundo pretendem enfrentar a pirataria musical on-line com uma nova medida: elas vêm silenciosamente financiando o desenvolvimento e os testes de programas que sabotariam os computadores e as conexões à internet de pessoas que baixam música pirateada da rede.
As gravadoras estão explorando recursos antipirataria que alguns especialistas dizem ter graus variados de legalidade: atacar as conexões dos usuários, de forma a tornar os downloads de música pirateada vagarosos, ou sobrecarregar as redes de distribuição de arquivos com programas potencialmente prejudiciais disfarçados de arquivos musicais.
A campanha secreta, que tem elementos que talvez nunca sejam postos em prática, pois infringiriam leis sobre grampo, está sendo desenvolvida e testada por um grupo de pequenas empresas de tecnologia, diz um executivo ouvido pela reportagem.
Se empregada, a nova tática seria o esforço mais agressivo já realizado pela indústria fonográfica para impedir a pirataria.
Segundo a International Federation of the Phonographic Industry (IFPI), entidade que reúne gravadoras de todo o mundo, a pirataria musical gera um prejuízo de US$ 4,3 bilhões por ano.
Até agora, a maioria dos esforços antipirataria envolve ações judiciais contra empresas e pessoas que distribuem arquivos via rede. Recentemente, quatro universitários dos EUA fizeram um acordo judicial com as gravadoras -cada um vai pagar uma indenização de US$ 12 mil a US$ 17,5 mil.
A indústria também tentou frustrar os piratas espalhando cópias de arquivos falsificados para atrapalhar o uso de programas como o KaZaA e o Morpheus (leia texto na pág. F5). Essa abordagem, que se chama "envenenamento", é considerada legal, mas seu sucesso é apenas moderado, dizem analistas: ela incomoda, mas não impede a pirataria.

Contra-ataque
O interesse das gravadoras em métodos mais agressivos aumentou quando um juiz federal dos EUA decidiu, no mês passado, que a StreamCast Networks, empresa que distribui o Morpheus e o Grokster, um outro serviço de compartilhamento de arquivos, não é culpada de violação de direitos autorais.
Recentemente, a indústria fonográfica usou um recurso de bate-papo presente em alguns softwares de troca de arquivos para enviar uma mensagem a milhões de usuários: "Quando você desobedece à lei, você corre o risco de ser legalmente punido. Existe uma forma simples de evitar esse risco. Não roube música".
O esforço, que segundo a Recording Industry Association of America (Riaa, a associação americana da indústria fonográfica) teve fins educativos, parece ser legal. Mas outros métodos antipirataria levantam questões jurídicas.
Considerando que a lei e a tecnologia são novas, as responsabilidades civis e criminais não são facilmente definidas. Mas algumas táticas são claramente mais problemáticas do que outras.
Entre as abordagens mais benignas que estão sendo desenvolvidas está um programa que encaminharia os usuários a sites da rede em que eles poderiam comprar legalmente a música que tentavam baixar ilegalmente.
Apelidado de "freeze", outro programa travaria o computador por um certo tempo -minutos ou até horas-, havendo o risco de perda dos dados que não tivessem sido salvos. Ele também mostra uma advertência sobre o download de música pirateada.
Um outro programa que está sendo desenvolvido, chamado de "silence", varre o disco rígido do computador procurando e apagando arquivos de música pirateada. Um dos executivos que conheceram o "silence" disse que ele não funcionou adequadamente, e que estaria sendo reformulado, pois também apagava os arquivos de música legítimos.
Outra abordagem que está sendo testada pela indústria fonográfica é um ataque contra as conexões à internet ("interdiction") para impedir que um usuário acesse a rede enquanto tenta baixar músicas pirateadas ou oferecê-las a outros.
"Há muitas coisas que você pode fazer, algumas bastante sujas", diz Marc Morgenstern, que é diretor da Overpeer, uma empresa de tecnologia apoiada por vários conglomerados de mídia.
Citando acordos de confidencialidade, Morgenstern se recusou a identificar seus clientes.
Ele também disse que sua empresa não implanta e não implantará nenhum programa que seja executado contra a lei. "Nossa filosofia é tornar o download de música pirateada uma experiência difícil e frustrante, sem passar dos limites."
Depois de dizer que está "sempre desenvolvendo coisas", ele acrescentou: "Afinal, meus clientes estão tentando desenvolver relacionamentos com essas pessoas [os usuários que baixam músicas ilegalmente]".


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