São Paulo, quarta-feira, 28 de junho de 2000


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INTERNET QUÂNTICA
Sistema em desenvolvimento deverá permitir avanços na criptografia e altíssima velocidade nas pesquisas em bancos de dados
Cientistas criam bases de rede futurista

Divulgação
Equipamento desenvolvido pela USP para estudar propriedades e fenômenos da física quântica


JUSTIN MULLIS
DA "NEW SCIENTIST"

O cientista Seth Lloyd tem uma meta extraordinária. Ele quer estabelecer uma rede de distribuição de um dos mais estranhos recursos do universo, uma mercadoria que existe apenas no mundo quântico -esse estranho reino das partículas muito menores que o átomo- e que pode se provar mais preciosa do que o ouro ou a prata.
Essa bizarra mercadoria é chamada emaranhamento. Os cientistas acreditam que estabelecer uma rede para criar, armazenar e distribuir emaranhamento poderia ser o primeiro passo rumo ao desenvolvimento do sistema de teletransporte sonhado por todos os escritores de ficção científica. Ela poderia também abrir caminho para o desenvolvimento de computadores quânticos super-rápidos e sua interconexão em uma Internet quântica.
Além de ajudar os pesquisadores a compreender o papel que a mecânica quântica desempenha no Universo, os computadores quânticos também resolveriam os códigos mais secretos atualmente em uso -um dos motivos pelos quais o Exército norte-americano financia o projeto de Lloyd no Massachusetts Institute of Technology, com verbas da ordem dos milhões de dólares.
O emaranhamento é uma ligação fantasmagórica, quase telepática, entre partículas em lados opostos do universo, que faz com que uma partícula reaja instantaneamente à reação da outra a um dado estímulo.
O emaranhamento está sendo usado para estudar criptografia quântica, computação quântica e teletransporte. Se partículas emaranhadas pudessem ser enviadas para todo o mundo via Internet quântica, elas poderiam deflagrar uma revolução na computação, nas comunicações e na nossa compreensão do universo.
Os computadores quânticos seriam interconectados para produzir poderosas máquinas de operações numéricas. As informações avançariam pelo globo em velocidades muito superiores às possíveis atualmente.
Quem quer que desejasse realizar computação quântica poderia baixar todo software quântico de que precisasse. E os físicos poderiam obter material quântico já pronto. Bastaria uma dessas aplicações para justificar a construção de uma Internet quântica.
No entanto, existe um problema: as partículas quânticas são frágeis e "derramam" sua informação com facilidade. Olhar para elas bastaria para destrui-las. Assim, construir uma rede de distribuição de informação quântica apresenta certas dificuldades.
Mas Lloyd e seus colegas recentemente publicaram detalhes de um plano para a construção da Internet quântica e anunciaram que a tecnologia para criá-la já está disponível. "Todos os componentes da rede já foram testados", diz Lloyd. Ele planeja ter os primeiros três nós da rede prontos dentro de três anos.
O mais sensacional é que a Internet quântica pode ser a ferramenta ideal para o teletransporte de moléculas complexas em torno do mundo. Atualmente, os pesquisadores só podem teletransportar coisas simples como o estado quântico de um fóton (partícula de luz). Avançar mais significa usar emaranhamentos mais complicados. Assim, a Internet quântica e seu software são o que os pesquisadores precisam para começar a teletransportar átomos, moléculas e -talvez um dia- os componentes da vida.


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