São Paulo, quarta-feira, 28 de junho de 2000


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INTERNET QUÂNTICA
Apesar de experimental, projeto atrai recursos de companhias, e governo dos EUA estuda criar programa de financiamento
Empresas investem na nova tecnologia

SARA ROBINSON
DO "THE NEW YOR TIMES"

Laboratórios de pesquisas de grandes empresas, tais como os da Microsoft, IBM e AT&T, ou já possuem um grupo que estuda a computação quântica ou, como o Centro Ames de Pesquisas da Nasa e a empresa Hewlett-Packard, estão pensando em criar um. O Departamento de Defesa dos EUA está analisando a criação de um programa para financiar pesquisas na área.
Um grupo em Nova York chegou ao ponto de fundar uma empresa de computação quântica, a MagiQ Technologies, cuja meta declarada é construir uma Internet quântica.
Recente conferência promovida pelo Instituto de Pesquisas em Ciências Matemáticas, em Berkeley (EUA), discutiu os avanços mais recentes na área.
As discussões focalizaram o uso de algoritmos para a solução rápida de problemas considerados insolúveis por computadores clássicos, a compreensão dos limites do poder dos computadores quânticos, diferentes abordagens à construção de uma máquina prática e métodos de correção de erros de computação.
Mas, ao mesmo tempo em que os participantes comemoravam os avanços nessa tecnologia, eles reconheceram que os pesquisadores ainda estão longe de compreender o potencial ou os limites da tecnologia e ainda mais longe de conseguir construir uma máquina quântica viável.
O pesquisador da AT&T Peter Shor disse que, apesar de sua possível potência, os computadores quânticos não vão necessariamente desempenhar todas as tarefas em menos tempo do que os clássicos. Para ele, é provável que um computador quântico vá desempenhar cada operação mais lentamente do que o clássico.
A computação só poderá ser acelerada no caso de determinados problemas para os quais os pesquisadores descobriram métodos de explorar esse imenso cabedal de informações armazenadas, calculando uma resposta com muito menos passos -método impossível nos computadores clássicos.
Alguns exemplos disso são o algoritmo criado por Shor para a fatoração de números em seus componentes primos, processo que possibilita a decifração de códigos, e um algoritmo (sequência de passos para resolver um problema) criado por Lov Grover, pesquisador do Bell Labs, para fazer buscas num tipo muito especializado de banco de dados.
Esse algoritmo permite que sejam feitas buscas em bancos de dados na raiz quadrada do tempo necessário para desempenhar a tarefa num computador clássico. Ou seja, uma tarefa que um computador clássico faz em 10 mil horas, o quântico realizaria em 100 horas.
O físico Isaac Chuang, do Centro Almaden de Pesquisas da IBM em San José, Califórnia, descreveu várias tecnologias para a construção de um computador quântico. Em uma delas, os pesquisadores já conseguiram colocar em prática o algoritmo de busca em bancos de dados criado por Grover, usando até quatro bits quânticos.
Segundo Chuang, "o maior obstáculo à construção de um computador quântico é que ele teria que ser isolado do mundo externo, mas, ao mesmo tempo, você precisaria poder manipular o computador em alta velocidade".
Pesquisas feitas por Daniel Gottesman, da Microsoft Research, e por outros cientistas mostram que erros nas operações podem ser corrigidos, desde que não sejam muito numerosos.
Os pesquisadores parecem não se desanimar com os muitos obstáculos que ainda precisam ser superados para que possamos ter um computador quântico em nossas mesas de trabalho.
"Qual é o valor de um bebê recém-nascido?", pergunta Richard Josza, professor de ciência da computação na Universidade de Bristol, na Inglaterra. "No momento, ele não é capaz de fazer nada. Mas seu potencial não conhece limites."


Tradução de Clara Allain

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