São Paulo, quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lazer e trabalho se misturam e impactam o mercado

DE NOVA YORK

A mistura entre trabalho e lazer, aliada ao avanço rápido da economia de mercado dentro dos mundos virtuais, está criando um ambiente favorável para que a próxima geração possa exercer profissões dentro e fora da realidade.
Essa é a análise de Dan Hunter, professor da Wharton Business School especializado em assuntos legais e comerciais da internet.
Segundo ele, os mundos virtuais já estão em fase industrial, próximos às etapas primárias de economias reais. (LEILA SUWWAN)

 

Folha - Quando e por qual razão surgiram os mundos virtuais?
Dan Hunter -
No formato de texto, há 20 anos. Mas foi apenas nos últimos cinco anos -com computadores velozes e gráficos avançados- que os mundos virtuais explodiram. Devem existir cerca de cem hoje. Deles, uns 20 devem ter aproximadamente 100 mil habitantes. Outro punhado tem mais de um milhão.

Folha - Como são os habitantes?
Hunter -
A maioria são homens, de 18 a 29 anos. Nos mundos que focam intercâmbios sociais, a proporção entre homens e mulheres é equilibrada. Não é mais algo de adolescentes de 14 anos.

Folha - Empresas e governo já vêem o potencial de consultoria desses mundos?
Hunter -
Ainda é muito cedo e ninguém sabe ao certo qual é esse potencial. Mas há um avanço no mercado secundário de ativos virtuais e isso ocorre porque há pessoas na China e na Indonésia cujo trabalho é jogar nos mundos.

Folha - É um campo de teste adequado? Os resultados são compatíveis com o real?
Hunter -
É um ótimo território para experimentos sociais que seriam difíceis ou impossíveis de serem reproduzidos na realidade.

Folha - Dê um exemplo.
Hunter -
Quantas pessoas abandonariam um mercado sob condições de falhas reguladoras do governo? Quantas votariam se houvesse pagamento? Mas, de fato, não sabemos ao certo o quanto isso se aplicaria ao mundo real, onde as pessoas têm atitudes diferentes. Alguns vão a mundos virtuais pelo prazer de matar personagens, mas isso não é aplicável ao mundo real. Teremos de aguardar alguns anos para ter dados confiáveis.

Folha - Os mercados virtuais são modelos econômicos práticos?
Hunter -
Nestes cinco anos, ocorreu uma evolução: de feirantes gritando em vilarejos medievais para a concepção de mercados sofisticados. Alguns mundos permitem a formação de corporações, outros têm setor de serviços. A maioria dos jogos se aproxima de um estágio precoce de formação de economias reais. Foi um avanço de pré-industrial para industrial. A evolução é apenas uma questão de tempo.

Folha - No futuro, todos terão uma identidade virtual? Por que não usar identidades reais?
Hunter -
É um conceito complicado. Nos mundos, é possível explorar vários papéis, orientações sexuais e status. Muitos exploram partes de sua identidade real dessa forma, sem os problemas que gerariam na vida real. Mas usar a identidade real limitaria a fraude e o mau comportamento.

Folha - Como assim?
Hunter -
No mundo real, as pessoas se comportam de determinada maneira porque prezam sua reputação. Quando esse vínculo é rompido, certas atividades se tornam comuns. Há fraudes e ataques a outro personagem apenas para que ele não participe do jogo, o que chamamos de "griefing". É um problema que vai aumentar, mas não é insuperável.

Folha - Esses mundos serão a consultoria do futuro?
Hunter -
Não sei, mas acho que uma porção considerável da economia pode migrar para esse espaço. Eu ficarei surpreso se meu filho, que hoje tem quatro anos, não trabalhar parte de sua vida dentro de um ou mais desses mundos. A distinção entre trabalho e lazer também será menos clara e isso já começa a acontecer. As pessoas que trabalham dentro desses mundos já dão peso às questões de boa fé e de reputação. Elas só serão atraídas se houver um ambiente seguro. (LS)


Texto Anterior: Propriedades digitais são negócio rentável
Próximo Texto: Dançarina virtual era explorada no mundo real
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.