São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 2006

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reportagem de capa

Redes globais dão origem a guetos locais

AQUI E ALI De acordo com pesquisador, a seleção de contatos feita pelos usuários aglutina pessoas que já estão próximas

DA REPORTAGEM LOCAL

A aldeia global existe, mas está subdividida em guetos locais. A constatação é do professor da Universidade Federal de Santa Catarina Theóphilos Rifiotis, membro da Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura e especialista em redes sociais on-line. À Folha ele falou sobre essas formas de interação. (MB)

 

FOLHA - Como foi que as redes sociais se popularizaram tanto?
THEÓPHILOS RIFIOTIS
- Esse boom ocorreu nos últimos anos, há cerca de uma década, e já não é mais exatamente uma tendência que vai do zero e só cresce.

FOLHA - Elas caminham para uma estagnação?
RIFIOTIS
- As redes sociais estão rompendo o paradigma de que permitiriam a comunicação de todos com todos. Temos observado que, por mais globalizante e universalizante que pareçam, trata-se de fenômenos locais.

FOLHA - Os contatos obedecem a algum tipo de filtro?
RIFIOTIS
- Sim. As pessoas se unem seletivamente -daí o porque de algumas comunidades reunirem tantos membros de um mesmo país, como é o caso do Orkut com os brasileiros. Além da barreira da língua, vemos que a comunicação não se dá de todos com qualquer um. Mesmo dentro do Orkut, o que vemos é a replicação de grupos que existem ou estão potencializados para existir off-line.

FOLHA - É algo restrito às redes sociais?
RIFIOTIS
- Não só. Isso se reflete na produção e na visitação de blogs e nas listas de discussão. Achávamos que tudo girava em torno da informação, mas o que vemos é que tudo passa pelos relacionamentos. Algo local coexiste no global.

FOLHA - Isso faz com que as pessoas abdiquem das relações reais?
RIFIOTIS
- Nada garante que antes das redes sociais on-line o indivíduo em questão estivesse fazendo um outro investimento em relações pessoais. Talvez já fosse alguém propenso a uma certa reclusão, que já enfrentasse impossibilidades de relações. Não se trata de um ser solitário, pois é alguém que interage nos espaços.

FOLHA - As relações on-line dão mais liberdade para que se assumam outras identidades?
RIFIOTIS
- Temos a impressão de que, na internet, a pessoa se constrói como um avatar, fazendo diferença de quando está on-line e off-line. Esquecemos que quando estamos face a face também estamos construindo personagens. Precisamos repensar isso. Não há controle sobre essa codificação. Da mesma forma que tiramos conclusões sobre a pessoa que está do outro lado da tela -dependendo da maneira como ela escreve, se usa acentos ou se substitui o "q" pelo "k"-, você também compõe um sujeito imaginário quando fala pelo telefone.


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