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reportagem de capa
Redes globais dão origem a guetos locais
AQUI E ALI De acordo com pesquisador, a seleção de contatos feita pelos usuários aglutina pessoas que já estão próximas
DA REPORTAGEM LOCAL
A aldeia global existe, mas está subdividida em guetos locais.
A constatação é do professor da
Universidade Federal de Santa
Catarina Theóphilos Rifiotis,
membro da Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura e especialista em redes sociais on-line. À Folha ele
falou sobre essas formas de interação.
(MB)
FOLHA - Como foi que as redes sociais se popularizaram tanto?
THEÓPHILOS RIFIOTIS - Esse boom
ocorreu nos últimos anos, há
cerca de uma década, e já não é
mais exatamente uma tendência que vai do zero e só cresce.
FOLHA - Elas caminham para uma
estagnação?
RIFIOTIS - As redes sociais estão
rompendo o paradigma de que
permitiriam a comunicação de
todos com todos. Temos observado que, por mais globalizante
e universalizante que pareçam,
trata-se de fenômenos locais.
FOLHA - Os contatos obedecem a
algum tipo de filtro?
RIFIOTIS - Sim. As pessoas se
unem seletivamente -daí o
porque de algumas comunidades reunirem tantos membros
de um mesmo país, como é o caso do Orkut com os brasileiros.
Além da barreira da língua, vemos que a comunicação não se
dá de todos com qualquer um.
Mesmo dentro do Orkut, o que
vemos é a replicação de grupos
que existem ou estão potencializados para existir off-line.
FOLHA - É algo restrito às redes sociais?
RIFIOTIS - Não só. Isso se reflete
na produção e na visitação de
blogs e nas listas de discussão.
Achávamos que tudo girava em
torno da informação, mas o que
vemos é que tudo passa pelos
relacionamentos. Algo local
coexiste no global.
FOLHA - Isso faz com que as pessoas abdiquem das relações reais?
RIFIOTIS - Nada garante que antes das redes sociais on-line o
indivíduo em questão estivesse
fazendo um outro investimento em relações pessoais. Talvez
já fosse alguém propenso a uma
certa reclusão, que já enfrentasse impossibilidades de relações. Não se trata de um ser solitário, pois é alguém que interage nos espaços.
FOLHA - As relações on-line dão
mais liberdade para que se assumam outras identidades?
RIFIOTIS - Temos a impressão
de que, na internet, a pessoa se
constrói como um avatar, fazendo diferença de quando está
on-line e off-line. Esquecemos
que quando estamos face a face
também estamos construindo
personagens. Precisamos repensar isso. Não há controle sobre essa codificação. Da mesma
forma que tiramos conclusões
sobre a pessoa que está do outro lado da tela -dependendo
da maneira como ela escreve, se
usa acentos ou se substitui o
"q" pelo "k"-, você também
compõe um sujeito imaginário
quando fala pelo telefone.
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