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CASA PRÓPRIA
O custo dos empréstimos é maior que o valor do aluguel; sair do aluguel e se endividar não vale a pena
Fuja do financiamento imobiliário
ODETE PACHECO
Editora-adjunta do Folhainvest
Cansadas de adiar o sonho da casa própria e de pagar aluguel, muitas famílias se deixam seduzir pela
idéia de juntar um dinheirinho para a entrada do imóvel e financiar o
resto. Mau negócio. A organizadora de eventos Marlene de Campos,
36, sentiu isso na prática.
Ela financiou, pela Caixa Econômica Federal, o equivalente a 70%
do valor de um apartamento de
63,32 m2, de dois dormitórios, na
Vila Mariana, bairro de classe média de São Paulo.
Já pagou 74 prestações, das 180
previstas em contrato, reajustadas
mensalmente pela TR (Taxa Referencial), apurada com base nos juros médios dos CDBs (Certificados
de Depósitos Bancários), mais 12%
de juros contratuais. A prestação
paga em fevereiro foi de R$
2.237,12. Até agora, ela já desembolsou R$ 109.594,62.
Só que seu imóvel, hoje, não vale
mais do que R$ 100 mil. Quer saber
quanto ela ainda deve para a CEF?
Exatos R$ 140.178,90. Sensibilizou-se? Pois bem, continue adiando
seu projeto até dispor da quantia
necessária para comprar à vista o
imóvel dos seus sonhos.
Se não, a sensação de que seu patrimônio está indo para o ralo é
inevitável. Outra decepção que
vem com o tempo: constatar, na
prática, tal como a mutuária Marlene, que morar no que é seu nem
sempre é melhor do que pagar aluguel.
"Financiar a casa própria para
fugir do aluguel é uma ilusão. Num
financiamento imobiliário, a pessoa corre o risco de jogar mais dinheiro fora com os encargos pagos
por conta dos juros do que jogava
com o aluguel", diz Osvaldo Corrêa Fonseca, diretor de crédito
imobiliário do Bradesco, maior
banco privado do país.
Num cenário de altas taxas de juro, como o que se tem verificado
nos últimos anos, o uso da TR na
atualização dos valores do financiamento desequilibra as contas.
Paga-se, paga-se, e a dívida não pára de subir. Isso ocorre porque o
efeito dos juros sobre o saldo devedor, corrigido antes de abater a
parcela de amortização referente
ao pagamento da prestação, é perverso.
Aplique o dinheiro
Quanto mais caótico o quadro
econômico, mais problemas o mutuário enfrenta. Quem pegou, em
89, um financiamento imobiliário
de R$ 101.313,56 (valor já corrigido
monetariamente) desembolsou o
equivalente a R$ 177.532,80 até o
final do contrato.
Nenhum problema, se o preço do
imóvel tivesse acompanhado essa
variação. Mas o caso é que o preço
do metro quadrado dos imóveis
caiu 25% nos últimos nove anos.
Se as prestações do imóvel tivessem sido aplicadas num fundo DI,
ao longo desse período, o investidor teria acumulado R$ 378.524
(veja gráfico ao lado).
Marlene se arrepende do entusiasmo de sete anos atrás, quando
era recém-casada. Com projetos,
agora, de engravidar, o apartamento de dois dormitórios ficou
pequeno para suas necessidades.
Sonha partir para o segundo imóvel, um de quatro dormitórios, para acomodar melhor a criança que
quer ter.
Para isso, precisaria vender seu
apartamento da Vila Mariana para
complementar o valor. Não consegue ofertas que permitiriam nem
mesmo recuperar o que pagou. "Só
a dívida supera o valor do imóvel",
diz ela.
Assim, se você está pensando em
comprar um apartamento ou uma
casa, vá à luta, mas planeje-se. Já
que você nada pode fazer contra as
altas taxas de juro, use-as a seu favor: aplique suas reservas financeiras e acumule o montante necessário para realizar seu sonho de ter a
casa própria sem jogar dinheiro
fora.
Colaborou
Rita Nazareth, da Reportagem Local
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