São Paulo, Segunda-feira, 08 de Março de 1999
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CASA PRÓPRIA
O custo dos empréstimos é maior que o valor do aluguel; sair do aluguel e se endividar não vale a pena
Fuja do financiamento imobiliário


ODETE PACHECO
Editora-adjunta do Folhainvest

Cansadas de adiar o sonho da casa própria e de pagar aluguel, muitas famílias se deixam seduzir pela idéia de juntar um dinheirinho para a entrada do imóvel e financiar o resto. Mau negócio. A organizadora de eventos Marlene de Campos, 36, sentiu isso na prática.
Ela financiou, pela Caixa Econômica Federal, o equivalente a 70% do valor de um apartamento de 63,32 m2, de dois dormitórios, na Vila Mariana, bairro de classe média de São Paulo.
Já pagou 74 prestações, das 180 previstas em contrato, reajustadas mensalmente pela TR (Taxa Referencial), apurada com base nos juros médios dos CDBs (Certificados de Depósitos Bancários), mais 12% de juros contratuais. A prestação paga em fevereiro foi de R$ 2.237,12. Até agora, ela já desembolsou R$ 109.594,62.
Só que seu imóvel, hoje, não vale mais do que R$ 100 mil. Quer saber quanto ela ainda deve para a CEF? Exatos R$ 140.178,90. Sensibilizou-se? Pois bem, continue adiando seu projeto até dispor da quantia necessária para comprar à vista o imóvel dos seus sonhos.
Se não, a sensação de que seu patrimônio está indo para o ralo é inevitável. Outra decepção que vem com o tempo: constatar, na prática, tal como a mutuária Marlene, que morar no que é seu nem sempre é melhor do que pagar aluguel.
"Financiar a casa própria para fugir do aluguel é uma ilusão. Num financiamento imobiliário, a pessoa corre o risco de jogar mais dinheiro fora com os encargos pagos por conta dos juros do que jogava com o aluguel", diz Osvaldo Corrêa Fonseca, diretor de crédito imobiliário do Bradesco, maior banco privado do país.
Num cenário de altas taxas de juro, como o que se tem verificado nos últimos anos, o uso da TR na atualização dos valores do financiamento desequilibra as contas. Paga-se, paga-se, e a dívida não pára de subir. Isso ocorre porque o efeito dos juros sobre o saldo devedor, corrigido antes de abater a parcela de amortização referente ao pagamento da prestação, é perverso.

Aplique o dinheiro
Quanto mais caótico o quadro econômico, mais problemas o mutuário enfrenta. Quem pegou, em 89, um financiamento imobiliário de R$ 101.313,56 (valor já corrigido monetariamente) desembolsou o equivalente a R$ 177.532,80 até o final do contrato.
Nenhum problema, se o preço do imóvel tivesse acompanhado essa variação. Mas o caso é que o preço do metro quadrado dos imóveis caiu 25% nos últimos nove anos.
Se as prestações do imóvel tivessem sido aplicadas num fundo DI, ao longo desse período, o investidor teria acumulado R$ 378.524 (veja gráfico ao lado).
Marlene se arrepende do entusiasmo de sete anos atrás, quando era recém-casada. Com projetos, agora, de engravidar, o apartamento de dois dormitórios ficou pequeno para suas necessidades. Sonha partir para o segundo imóvel, um de quatro dormitórios, para acomodar melhor a criança que quer ter.
Para isso, precisaria vender seu apartamento da Vila Mariana para complementar o valor. Não consegue ofertas que permitiriam nem mesmo recuperar o que pagou. "Só a dívida supera o valor do imóvel", diz ela.
Assim, se você está pensando em comprar um apartamento ou uma casa, vá à luta, mas planeje-se. Já que você nada pode fazer contra as altas taxas de juro, use-as a seu favor: aplique suas reservas financeiras e acumule o montante necessário para realizar seu sonho de ter a casa própria sem jogar dinheiro fora.


Colaborou Rita Nazareth, da Reportagem Local


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