São Paulo, Segunda-feira, 08 de Março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CASA PRÓPRIA
As taxas de juro que corrigem as prestações mensais, o saldo devedor e o seguro inflam sua dívida
Financiamento imobiliário é mau negócio


da Redação

Se seu programa obrigatório nas manhãs de domingo é folhear os classificados à caça de oportunidades de negócio no ramo imobiliário, freie o impulso ao se deparar com ofertas que parecem se encaixar direitinho no seu orçamento.
Ceder à tentação das pequenas parcelas de entrada e assumir financiamentos a perder de vista podem custar horas de seu sono. Ainda mais se o governo não conseguir manter a inflação sob controle e os juros continuarem nas alturas.
Nos financiamentos cobertos pelo SFH (Sistema Financeiro da Habitação), o índice usado para corrigir as prestações e o saldo devedor é o mesmo que remunera a caderneta de poupança -a TR (Taxa Referencial), apurada com base nos juros médios dos CDBs (Certificados de Depósitos Bancários).
Se a taxa básica de juro sobe muito, o uso da TR na atualização dos valores desequilibra as contas. O efeito sobre o saldo devedor é perverso. Sobre a dívida, já atualizada mensalmente, ainda incidem juros contratuais de 12% ao ano.
Há um outro agravante. O saldo devedor do financiamento é corrigido antes de abater a parcela de amortização referente ao pagamento da prestação.

Dívida sobe
O efeito da aplicação desses índices sobre os financiamentos é desastroso. Mas não é apenas o efeito da TR sobre os contratos que onera de maneira tão danosa os financiamentos imobiliários. O seguro, no SFH, é pesadíssimo. Chega a superar 10% do valor da prestação (leia texto abaixo).
Mesmo nos contratos firmados agora, considerando um índice de correção (TR) conservador, de 1% ao mês, é difícil para o assalariado pagar as prestações mensais até o final do contrato.
Acompanhe na tabela abaixo. Se fizer um financiamento de R$ 70 mil, num prazo de dez anos, você só começará a ver sua dívida diminuir cinco anos depois de contratar o financiamento e depois de ter pagado, em prestações, a soma de R$ 92.552,89. E, ainda que o saldo devedor diminua a partir daí, as prestações continuarão subindo. No pagamento da primeira prestação, sua dívida já terá aumentado.
Aplique os valores mensais da prestação num fundo DI. Em 42 meses, você terá o montante necessário para a compra da casa própria(leia texto na página ao lado).
Num cenário de altas taxas de juro, os estragos sobre os financiamentos imobiliários tendem a ser maiores. Quem pegou, em 89, um financiamento de R$ 101.313,56 (valor já corrigido monetariamente) desembolsou o equivalente a R$ 177.532,80 até o final do contrato -75% de custo financeiro.
Até aí, nenhum problema, se o preço do imóvel em questão tivesse acompanhado essa variação. Mas, nos últimos nove anos, o preço do metro quadrado dos imóveis caiu mais de 25%.
O desequilíbrio ocorreu em decorrência dos desajustes econômicos da época. De 89 até a edição do Plano Real, o país conviveu com crises sistemáticas na economia. Foram baixados três planos econômicos e a inflação andou a galope. Chegou a 81,32% num único mês, em março de 90. A dívida do mutuário, naquele mês, quase dobrou de tamanho.
(ODETE PACHECO)


Texto Anterior: Casa própria: Fuja do financiamento imobiliário
Próximo Texto: Custo financeiro é maior que aluguel
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.