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BANCOS
Os pequenos e médios investidores correm para as agências, mas não encontram respostas para suas dúvidas
Crise expõe fragilidade do atendimento
SANDRA BALBI
da Reportagem Local
A revoada de capitais para fora
do país provocou um corre-corre
também dos pequenos e médios
poupadores, na última semana.
Esses investidores, que não têm
muitas rotas de fuga, vagaram pelos bancos, de agência em agência,
buscando orientação para melhor
proteger suas economias do acirramento da crise. O sistema bancário, porém, revelou toda sua fragilidade para atender a esse tipo de
demanda.
Os gerentes têm uma formação
generalista que lhes permite, apenas, dar as dicas mais óbvias ao investidor. Poucos conseguem mais
do que discorrer sobre os produtos do banco. A maioria desses
profissionais não é capaz de esclarecer se é hora de buscar abrigo
em fundos cambiais, manter posição em fundos de renda fixa ou
buscar aqueles atrelados ao CDI.
"As agências bancárias, de todas
as redes, não têm um nível de especialização que lhes permita dar
esse tipo de orientação", observa
Renato Raglione, diretor de renda
fixa do Unibanco Asset Management.
Além da falta de preparo, os funcionários dos bancos estão, muitas vezes, mais preocupados em
atingir metas de vendas de produtos da casa (CDBs, poupança, um
ou outro fundo), do que em ajudar
o investidor a descobrir o caminho das pedras para obter uma
boa rentabilidade ou proteção para seu dinheiro.
Apesar do turbilhão em que o
mercado financeiro mergulhou
nos últimos dias, os grandes bancos, como Itaú, Unibanco, Banco
do Brasil e Banespa, não reforçaram os setores que atendem os investidores nas agências. Todos
mantiveram a rotina dos comunicados internos. "Fornecemos informações à rede para o atendimento diário", diz Marcos Antonio de Oliveira, diretor de administração de recursos do Banespa.
Reação
Antes mesmo de a crise atingir
seu contorno mais perverso, nas
duas últimas semanas, os investidores já se ressentiam da falta de
orientação do sistema. Na última
semana, o Folhainvest recebeu
mais de 50 e-mails, dezenas de
cartas e telefonemas de leitores em
busca de informações sobre aplicações financeiras.
Um desses leitores tinha dúvidas
se era hora de transferir parte do
dinheiro de fundos de renda fixa
prefixados para um fundo DI
(atrelado aos juros do overnight),
mesmo tendo de pagar CPMF
(Contribuição Provisória sobre
Movimentação Financeira) nessa
operação. Segundo esse leitor, um
alto funcionário público de Brasília, a agência do Banco do Brasil
onde tem conta não soube orientá-lo a respeito.
Com uma carteira de R$ 130.000,
mantinha 30% dos seus recursos
aplicados no BB-Fix 60, que tem
uma grande porcentagem de títulos prefixados. "Calculei que, se o
governo aumentasse os juros, eu
perderia dinheiro", diz. "Fugi
para o fundo DI", acrescenta.
Na semana passada, depois da
primeira alta dos juros, a orientação da BB DTVM, a distribuidora
do BB, às agências era de recomendar aos clientes que mantivessem suas aplicações nos fundos de
renda fixa da casa, que haviam sofrido pequena desvalorização de
cotas na terça-feira, pois têm um
terço do patrimônio aplicado em
títulos prefixados.
Segundo Sérgio Mamede, gerente executivo da BB DTVM, "para
que as cotas se desvalorizem muito é preciso que os juros dêem um
grande salto". "Não estamos
contando com isso", dizia Mamede na quinta-feira, pela manhã. À
noite, o governo puxou as taxas
para perto de 50% ao ano e as cotas dos fundos foram desvalorizadas em 3,6%.
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