São Paulo, segunda, 14 de setembro de 1998

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BANCOS
Os pequenos e médios investidores correm para as agências, mas não encontram respostas para suas dúvidas
Crise expõe fragilidade do atendimento

SANDRA BALBI
da Reportagem Local

A revoada de capitais para fora do país provocou um corre-corre também dos pequenos e médios poupadores, na última semana. Esses investidores, que não têm muitas rotas de fuga, vagaram pelos bancos, de agência em agência, buscando orientação para melhor proteger suas economias do acirramento da crise. O sistema bancário, porém, revelou toda sua fragilidade para atender a esse tipo de demanda.
Os gerentes têm uma formação generalista que lhes permite, apenas, dar as dicas mais óbvias ao investidor. Poucos conseguem mais do que discorrer sobre os produtos do banco. A maioria desses profissionais não é capaz de esclarecer se é hora de buscar abrigo em fundos cambiais, manter posição em fundos de renda fixa ou buscar aqueles atrelados ao CDI. "As agências bancárias, de todas as redes, não têm um nível de especialização que lhes permita dar esse tipo de orientação", observa Renato Raglione, diretor de renda fixa do Unibanco Asset Management.
Além da falta de preparo, os funcionários dos bancos estão, muitas vezes, mais preocupados em atingir metas de vendas de produtos da casa (CDBs, poupança, um ou outro fundo), do que em ajudar o investidor a descobrir o caminho das pedras para obter uma boa rentabilidade ou proteção para seu dinheiro.
Apesar do turbilhão em que o mercado financeiro mergulhou nos últimos dias, os grandes bancos, como Itaú, Unibanco, Banco do Brasil e Banespa, não reforçaram os setores que atendem os investidores nas agências. Todos mantiveram a rotina dos comunicados internos. "Fornecemos informações à rede para o atendimento diário", diz Marcos Antonio de Oliveira, diretor de administração de recursos do Banespa.

Reação

Antes mesmo de a crise atingir seu contorno mais perverso, nas duas últimas semanas, os investidores já se ressentiam da falta de orientação do sistema. Na última semana, o Folhainvest recebeu mais de 50 e-mails, dezenas de cartas e telefonemas de leitores em busca de informações sobre aplicações financeiras.
Um desses leitores tinha dúvidas se era hora de transferir parte do dinheiro de fundos de renda fixa prefixados para um fundo DI (atrelado aos juros do overnight), mesmo tendo de pagar CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) nessa operação. Segundo esse leitor, um alto funcionário público de Brasília, a agência do Banco do Brasil onde tem conta não soube orientá-lo a respeito.
Com uma carteira de R$ 130.000, mantinha 30% dos seus recursos aplicados no BB-Fix 60, que tem uma grande porcentagem de títulos prefixados. "Calculei que, se o governo aumentasse os juros, eu perderia dinheiro", diz. "Fugi para o fundo DI", acrescenta.
Na semana passada, depois da primeira alta dos juros, a orientação da BB DTVM, a distribuidora do BB, às agências era de recomendar aos clientes que mantivessem suas aplicações nos fundos de renda fixa da casa, que haviam sofrido pequena desvalorização de cotas na terça-feira, pois têm um terço do patrimônio aplicado em títulos prefixados.
Segundo Sérgio Mamede, gerente executivo da BB DTVM, "para que as cotas se desvalorizem muito é preciso que os juros dêem um grande salto". "Não estamos contando com isso", dizia Mamede na quinta-feira, pela manhã. À noite, o governo puxou as taxas para perto de 50% ao ano e as cotas dos fundos foram desvalorizadas em 3,6%.



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