São Paulo, segunda, 14 de setembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CÂMBIO
Quem aplicou em renda fixa no México, em 1994, e, no Brasil, em 1995, recuperou as perdas com alta do dólar
Avalie a eficiência do seu fundo cambial

da Reportagem Local

A corrida de investidores por proteção cambial deve ser analisada com cuidado. Comprar dólares no mercado paralelo tem se mostrado um péssimo negócio nos últimos anos e os fundos cambiais, que estão registrando captações recordes não se traduzem na proteção perfeita.
Isso ocorre porque as taxas de juro são muito altas e tendem a compensar as perdas com o câmbio. "Fundos cambiais só para quem tem dívidas em dólar", diz um analista. Mesmo assim, é importante observar que o valor a ser protegido nesse fundo deve ser maior do que a dívida, pois são aplicações que têm 20% de tributação de Imposto de Renda.
Quando, em março de 1995, o governo desvalorizou o real em 5%, quem havia investido em títulos federais, por meio dos fundos de renda fixa, lamentou não ter saído antes do "pacote Pérsio Arida", e se protegido em aplicações indexadas ao dólar.
Mas, como os juros na época estavam em 45% ao ano, os fundos conseguiram zerar as perdas em pouco tempo. Segundo cálculos de analistas de mercado, seis meses depois, quem tinha perdido dinheiro com a mudança no câmbio e permaneceu na renda fixa, já havia recuperado as perdas.

México
A mesma experiência tiveram os investidores mexicanos em 1994. No dia 21 de dezembro, o dólar subiu 15,2% e a taxa de juro pulou para 20% ao ano. Daquele dia, até o dia 10 de janeiro de 1995, a variação do câmbio foi de 43,5%, enquanto os juros andaram 49%.
A partir daquela data até o dia 18 de abril, o dólar subiu mais 9,3%, enquanto os juros ficaram em 78% ao ano. "Como os juros permaneceram muito tempo em um patamar alto, compensaram a perda de quem tinha aplicações em pesos," diz um analista.
As duas experiências mostram que, quando ocorre uma desvalorização da moeda, no primeiro momento o investidor que não fez "hedge' (proteção) cambial sai perdendo. Mas, graças aos juros altos, ele acaba zerando as perdas.
As carteiras dos fundos cambiais contêm, além de títulos federais que pagam a correção cambial mais juros, títulos públicos prefixados. Como toda desvalorização da moeda vem acompanhada por juros altos, o que o fundo ganha com a correção cambial, perde pelo lado dos juros prefixados.

Aplicações em NTN-D

Analistas simularam duas aplicações, resgatáveis em um ano, para confirmar essa tese. Uma delas em títulos cambiais (NTN-D) e a outra, em títulos federais, mas ambas pagando a mesma taxa de juros (20% ao ano, por exemplo).
Conclusão: mantidas as atuais taxas de juro de quase 50% ao ano, só deve investir em fundos cambiais quem aposta numa desvalorização de 25%.
Se isso ocorrer, a aplicação feita em títulos federais só alcançaria o rendimento da NTN-D depois de 356 dias, ou seja, após o vencimento do título. Nesse caso, a rentabilidade anual do título cambial é mais vantajosa.
Juros de 40%

Se os juros caírem para, por exemplo, 40% ao ano, seria necessário que o governo fizesse uma desvalorização cambial de 20% para que os títulos cambiais rendessem mais que os federais.
Pelas contas dos analistas, seriam necessários 419 dias para os títulos federais alcançarem o rendimento dos cambiais.
A essa altura, as aplicações já teriam vencido. Ou seja: também nesse caso o investidor que tivesse feito "hedge" cambial se daria bem.
Esse tipo de aplicação também é mais vantajoso do que aquelas em títulos federais se os juros estiverem em um patamar mais baixo que o atual, de 20% ao ano, por exemplo, e a desvalorização for pequena, de 5%.
Seriam necessários 7.033 dias para os títulos federais alcançarem o rendimento dos cambiais. Ou seja, as NTN-D ganhariam de goleada dos títulos federais. Mas não é esse o cenário, no momento.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.