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Crise atinge cadernos de livros
"Washington Post" extingue "Book World"; "San Francisco Chronicle"
e "New York Times"
são os únicos
a ainda manterem suplementos
LILA AZAM ZANGANEH
Saiu em 15 de fevereiro
a derradeira edição do
suplemento literário
do "Washington
Post", um dos maiores jornais dos EUA. Esse célebre suplemento intitulado
"Book World", com vários críticos que já receberam o Prêmio
Pulitzer, saía no interior do jornal, mas também era vendido
separadamente.
Desde 22 de fevereiro, seus
artigos passaram a aparecer em
duas rubricas dedicadas a outros temas: "Outlook", uma página de debates e comentários,
e "Style & Arts", uma seção que
trata do "entretenimento" sob
todas as suas formas.
De agora em diante, "Book
World" continuará a ser publicado separadamente apenas na
internet, com exceção de algumas edições especiais: a edição
de leituras de verão e a de livros
para crianças.
Qual é a razão dessa parada
mortal? A falta de anúncios. "É
a publicidade, é claro. Ela não
justificava o espaço dedicado
semanalmente à cobertura de
livros no "Book World'", declarou na semana passada Marcus
Brauchli, um dos redatores-chefes do "Washington Post".
Mas acrescentou que o número de críticas publicadas no
jornal "quase" não diminuirá,
"embora seja verdade que vamos dispor de menos espaço".
Embora seja criticada por todos os meios literários do país
-especialmente pelo muito
respeitado Círculo Nacional
dos Críticos de Livros, que fez
circular uma petição assinada
por alguns grandes nomes da
literatura americana-, a decisão parece ser inapelável.
Isso porque não está vinculada apenas à crise econômica
que devasta a indústria de livros nos EUA.
Nova política
Já há vários anos que as editoras gastam uma parte ínfima
de seu orçamento de marketing
com anúncios em jornais, preferindo fechar acordos de cooperação com cadeias de livrarias como Barnes & Noble, que
garantem que determinados livros serão claramente destacados nas vitrines das livrarias.
O efeito disso sobre a cultura
literária, já pisoteada pela lógica da cultura de massa, corre o
risco de ser deletério, como observam vários críticos, escritores e leitores.
"Enquanto as estatísticas nacionais dão conta de um pequeno aumento do interesse pela
leitura", observa um blogueiro
de Washington, "os jornais parecem assumir a posição vergonhosa de enxergar a literatura
como prática marginal e pouco
lucrativa".
Para acalmar a angústia que
tomou conta do mundo literário americano com a anúncio
do fechamento do "Book
World", o "Washington Post"
anunciou que vai experimentar
"novas formas de reportagens
literárias", mais vinculadas a
temas da atualidade.
"Se saírem três livros sobre
Lincoln", explica Brauchli, "nós
os juntaremos num só artigo
ou, então, faremos um artigo
sobre a influência de Lincoln
sobre a política de Obama".
Um fato que pode dar alguma
esperança aos amantes dos livros é que o "Book World",
criado em 1967, já havia sido relegado à seção "Style" em 1973,
antes de reconquistar o lugar
de entidade separada no início
da década de 1980.
Portanto, tudo ainda é possível. Vários editores, aliás, justificam as transformações atuais,
declarando estar certos de que
a integração das críticas de livros às páginas gerais vai chamar a atenção de um grupo
maior de leitores. E as resenhas, garantem, vão continuar
e serão ampliadas na internet.
Acontece que, para muitos
jornalistas, a internet modifica
a própria natureza da função
crítica, pois, para o leitor, trata-se mais de fazer uma busca por
um artigo do que de passear
com o olhar por várias páginas.
Esse fato, concretamente, limita o alcance de uma crítica
sobre um autor pouco conhecido do grande público.
Já vai tarde
Dito isso, alguns leitores do
"Book World" não terão problemas em adaptar-se a seu desaparecimento.
Um blogueiro do Colorado
parece fazer eco a uma parte
significativa dos leitores quando escreve: ""Book World" era
tão medíocre que, francamente, não era digno de um jornal
tão prestigioso. (...) Enquanto
conceito, portanto, "Book
World" não me fará falta; enquanto realidade, eu diria que
ele vai tarde!".
Os únicos suplementos literários que estão resistindo à
crise até agora são os do "San
Francisco Chronicle" -apesar
de o número total de artigos ter
diminuído nitidamente- e do
"New York Times". O "Los Angeles Times" eliminou seu suplemento literário em 2007,
apesar de ter aumentado o número de artigos on-line.
"Talvez seja apenas uma nostalgia idiota de minha parte",
explica seu último redator-chefe, Steve Wasserman, "mas gosto de pensar que a República
dos Livros merece uma região
que lhe seja própria".
O sacrossanto "New York Times Book Review" ainda é o
maior suplemento literário dos
EUA, com até 30 páginas todos
os domingos, 15 jornalistas e
dezenas de colaboradores.
O "NYTBR" é vendido separadamente a 23.500 assinantes, e a cada semana 4.200
exemplares são comprados em
livrarias de todo o país.
Mesmo assim, os editores se
negam a pronunciar-se sobre o
futuro do suplemento, tendo
em conta que a crise já provocou os maiores prejuízos que o
"New York Times" sofreu desde o crack de 1929.
A íntegra deste texto saiu no "Le Monde".
Tradução de Clara Allain .
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