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+ comportamento
Duplo Warhol
Documentário exibido
nos EUA
investiga a formação
e as obsessões do criador da arte pop
ROBIN POGREBIN
Andy Warhol -cujos
quadros que tinham por tema latas de sopa Campbell capturaram seu
fascínio quanto ao mercado
dos EUA- aparentemente não
exerceu atração recíproca entre as empresas patrocinadoras
quando o cineasta Ric Burns
saiu à procura de apoio.
"Foi muito, muito difícil levantar a verba", diz Burns sobre o processo de busca de patrocínio para "Andy Warhol - A
Documentary Film", incluído
na programação de "American
Masters", série de documentários biográficos da rede pública
de TV PBS. "Tive de provar às
pessoas que ele foi um grande
artista", diz Burns, que ainda
precisa obter US$ 225 mil [R$
484 mil] em verbas para completar o orçamento de seu filme de US$ 3,6 milhões e quatro
horas de duração.
Burns, que realizou com sucesso documentários biográficos sobre o dramaturgo Eugene O'Neill e o fotógrafo Ansel
Adams, diz que Warhol, morto
em 1987, aos 58 anos, continua
a ser uma figura controversa,
porque algumas pessoas não
consideram que suas empreitadas, que tomam celebridade e
comércio como temas, mereçam a classificação de "arte".
"A ambivalência que ele suscita
é incrível", diz.
O sonho americano
Donald Rosenfeld, que produziu o filme em parceria com
Daniel Wolf, sugeriu que nem
todos são capazes de ver além
da superfície do personagem
que Warhol construiu. "Trata-se do sonho americano, mas,
para as corporações, há sempre
o perigo de que seja um pesadelo americano", diz Rosenfeld.
"As pessoas o consideravam
um pouco transgressivo demais, escancarado demais."
O filme localiza as raízes de
Warhol, desde a infância, em
Pittsburgh, onde cresceu pobre, inibido em termos físicos e
sonhando ser Shirley Temple.
O filme revela detalhes que
as pessoas que não fazem parte
do mundo das artes talvez desconheçam. O sobrenome do artista era Warhola, até que o tipógrafo de uma revista para a
qual desenhava anúncios omitiu o "A", e Warhol preferiu deixar o erro passar sem correção.
Ele fez plástica no nariz e
passou por prolongado tratamento para amaciar a pele ainda antes dos 30 anos. Sua mãe
se mudou para a casa dele em
1952 e morou com o filho por
20 anos. Porque ele costumava
entregar suas primeiras ilustrações comerciais embaladas
em sacos de papel pardo, os colegas o apelidaram de "Raggedy
Andy" [Andy Esfarrapado,
marca de um boneco de pano].
A maior parte das pessoas supõe, incorretamente, que Warhol fosse tão "poseur" e pretensioso quanto sua aparência indicava, diz Burns. "A posteridade dele foi obscurecida por
aquela imagem de Andy usando um casaco de couro preto,
peruca e óculos escuros", afirma. "Será que as pessoas realmente acreditam que ele nasceu daquele jeito?"
Embora Warhol normalmente seja associado de maneira muito firme a algo que representava essencialmente um
disfarce, Burns diz que o artista
não levava essa imagem a sério.
Lado vulnerável
De fato, queria que as pessoas
se aproximassem, queria se
sentir integrado. O filme tenta
explorar esse lado vulnerável,
quase infantil.
O desafio que Burns enfrentou no filme foi criar de um trabalho de mídia sobre uma criatura que manipulava a mídia
com muita destreza. Burns diz
que compreendeu de imediato
que não deveria optar por uma
abordagem estilizada ou por
uma abordagem que arremedasse as ousadias de Warhol.
Na verdade, diz, ele caminhou
no sentido oposto e optou por
"trabalhar da maneira mais
convencional que pudesse".
Warhol foi um artista obsessivamente prolífico, produzindo em um ano mais do que certos pintores produzem em toda
uma vida. "Ele estava deliberada e intencionalmente competindo com Picasso e costumava
perguntar quantos quadros Picasso pintava por dia", diz.
Burns também veio a respeitar o cinema de Warhol tanto
quanto suas pinturas. Um espectador do século 21 talvez encontre dificuldade para apreciar os prolongados exames de
minúcias cotidianas que compõem tamanha parcela do cinema de Warhol: um corte de cabelo, um beijo, um homem dormindo, oito horas do edifício
Empire State.
"Andy defendia a idéia de observar alguma coisa por muito
tempo, de assistir a alguma coisa enquanto se modificava", diz
Burns. "Era observar uma pessoa da maneira que um pintor
observa -contemplando de
maneira profunda o que está
acontecendo-, e seus filmes
são uma licença ilimitada de
observação. O espectador se
torna um grande voyeur. Está
espionando -e sabe disso."
O documentário de Burns
não torna fácil a tarefa de quem
deseja amar Warhol. O artista é
inescrutável e -nas raras ocasiões em que fala- frustrantemente reticente.
Embora explore o lado sombrio de Warhol, o documentário é também uma celebração
despudorada de seu trabalho,
classificando-o freqüentemente como gênio e como uma das
mais importantes figuras artísticas da segunda metade do século 20. "Quando você encontra um exemplo de algo genuíno, a vontade é levantar da cadeira e comemorar", diz Burns.
"Andy era um artigo raro,
precioso, um dos grandes artistas gerados por uma democracia de mercado", acrescenta. "O
objetivo é que as pessoas celebrem -com senso crítico- um
homem profundo, complicado
e inacreditavelmente talentoso, cujas realizações continuaremos a ponderar por ainda
muito tempo."
Este texto saiu no "New York Times".
Tradução de Paulo Migliacci.
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