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+(s)ociedade
Guarda-roupa emergente
Diretor do Instituto Francês de Moda, Dominique Jacomet explica por que a crise financeira aumentou a importância de mercados como China e Brasil
NICOLE VULSER
O setor da moda sentiu com plena força o choque da globalização; hoje, está conhecendo os
efeitos destrutivos da crise econômica. Dominique Jacomet,
diretor-geral do Instituto
Francês da Moda, explica como
a crise alterou o comportamento dos consumidores e evoca o
pós-crise e a crescente importância dos países emergentes,
como Brasil e China.
PERGUNTA - Como a crise afetou o
mercado da moda na França?
DOMINIQUE JACOMET - Os mercados têxteis e de moda resistiram melhor que alguns outros
setores, como o de eletrodomésticos. Não ocupamos posição central na crise, como em
1974, após o primeiro choque
do petróleo.
Desde então, o aparelho industrial se racionalizou consideravelmente. Ao contrário da
Itália, a indústria têxtil francesa não responde por grande número de empregos.
E, por fim, fomos os primeiros a sofrer o choque da globalização. As empresas francesas
do setor hoje em dia obtêm
40% de seu faturamento com
exportações (8% a mais do que
o percentual de dez anos atrás).
Se bem que estejamos entrando em um período no qual
os benefícios da globalização,
ao contrário do que acontece
em outros setores, podem minorar as dificuldades geradas
pela globalização do comércio.
PERGUNTA - Como assim?
JACOMET - Os países emergentes, como China, Coreia do Sul,
Brasil e Índia, oferecem mercados consideráveis.
Hoje em dia, as vendas de
produtos de luxo franceses a
esses países continuam firmes,
e o crescimento desses países
deve continuar. No futuro, a
China será um gigante para os
produtos de marca.
PERGUNTA - E como a atitude dos
consumidores se modificou?
JACOMET - Eles estão se ajustando às limitações orçamentárias, à alta do desemprego, mas
todos os estudos do IFM demonstram que continua a existir um desejo real de moda, de
sonho, de emoção.
Foi o que Roland Barthes
descreveu tão bem em "O Sistema da Moda" (1967): a importância de "formar consumidores que não calculem. Sem isso,
as roupas não serão produzidas
e não serão compradas senão
em ritmo muito lento, relacionado ao seu desgaste".
O segundo fenômeno importante é que os consumidores
voltaram a procurar a relação
qualidade/preço. Antes da crise, o interesse estava nas novas
ofertas, na inovação e cada vez
mais nas vendas via internet.
PERGUNTA - A questão demográfica se tornará essencial?
JACOMET - O envelhecimento
das populações nos países ricos
da Europa vai afetar os modos
de consumo. Estamos assistindo a uma transição mundial na
direção da Ásia, em benefício
de Índia e China.
Em 2050, o número de aposentados no mundo será duas
vezes maior que o de jovens
com menos de 20 anos, e um
terço da população terá mais de
60 anos.
A moda terá de se adaptar às
necessidades de uma população envelhecida. Os produtos
vinculados à saúde, à cosmética
-cujo consumo cresce com a
idade- serão favorecidos. A
inovação será fundamental.
PERGUNTA - Em que a moda francesa foi influenciada pela velocidade de internacionalização de grupos
como Uniqlo, Gap, Zara ou H&M?
JACOMET - Isso envolve uma renovação ininterrupta de coleções. Pois as empresas de sucesso, no mercado de luxo ou
no de "prêt-à-porter", são as
mais criativas e mais próximas
de seus clientes. Sabem encontrar o equilíbrio entre uma rede
própria de distribuição para
acumular margens e distribuidores externos para reduzir a
necessidade de estoque.
A íntegra deste texto saiu no "Le Monde".
Tradução de Paulo Migliacci .
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