São Paulo, domingo, 01 de novembro de 2009

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+(s)ociedade

Guarda-roupa emergente

Diretor do Instituto Francês de Moda, Dominique Jacomet explica por que a crise financeira aumentou a importância de mercados como China e Brasil

NICOLE VULSER

O setor da moda sentiu com plena força o choque da globalização; hoje, está conhecendo os efeitos destrutivos da crise econômica. Dominique Jacomet, diretor-geral do Instituto Francês da Moda, explica como a crise alterou o comportamento dos consumidores e evoca o pós-crise e a crescente importância dos países emergentes, como Brasil e China.

 

PERGUNTA - Como a crise afetou o mercado da moda na França?
DOMINIQUE JACOMET - Os mercados têxteis e de moda resistiram melhor que alguns outros setores, como o de eletrodomésticos. Não ocupamos posição central na crise, como em 1974, após o primeiro choque do petróleo. Desde então, o aparelho industrial se racionalizou consideravelmente. Ao contrário da Itália, a indústria têxtil francesa não responde por grande número de empregos. E, por fim, fomos os primeiros a sofrer o choque da globalização. As empresas francesas do setor hoje em dia obtêm 40% de seu faturamento com exportações (8% a mais do que o percentual de dez anos atrás). Se bem que estejamos entrando em um período no qual os benefícios da globalização, ao contrário do que acontece em outros setores, podem minorar as dificuldades geradas pela globalização do comércio.

PERGUNTA - Como assim?
JACOMET - Os países emergentes, como China, Coreia do Sul, Brasil e Índia, oferecem mercados consideráveis. Hoje em dia, as vendas de produtos de luxo franceses a esses países continuam firmes, e o crescimento desses países deve continuar. No futuro, a China será um gigante para os produtos de marca.

PERGUNTA - E como a atitude dos consumidores se modificou?
JACOMET - Eles estão se ajustando às limitações orçamentárias, à alta do desemprego, mas todos os estudos do IFM demonstram que continua a existir um desejo real de moda, de sonho, de emoção. Foi o que Roland Barthes descreveu tão bem em "O Sistema da Moda" (1967): a importância de "formar consumidores que não calculem. Sem isso, as roupas não serão produzidas e não serão compradas senão em ritmo muito lento, relacionado ao seu desgaste". O segundo fenômeno importante é que os consumidores voltaram a procurar a relação qualidade/preço. Antes da crise, o interesse estava nas novas ofertas, na inovação e cada vez mais nas vendas via internet.

PERGUNTA - A questão demográfica se tornará essencial?
JACOMET - O envelhecimento das populações nos países ricos da Europa vai afetar os modos de consumo. Estamos assistindo a uma transição mundial na direção da Ásia, em benefício de Índia e China. Em 2050, o número de aposentados no mundo será duas vezes maior que o de jovens com menos de 20 anos, e um terço da população terá mais de 60 anos. A moda terá de se adaptar às necessidades de uma população envelhecida. Os produtos vinculados à saúde, à cosmética -cujo consumo cresce com a idade- serão favorecidos. A inovação será fundamental.

PERGUNTA - Em que a moda francesa foi influenciada pela velocidade de internacionalização de grupos como Uniqlo, Gap, Zara ou H&M?
JACOMET - Isso envolve uma renovação ininterrupta de coleções. Pois as empresas de sucesso, no mercado de luxo ou no de "prêt-à-porter", são as mais criativas e mais próximas de seus clientes. Sabem encontrar o equilíbrio entre uma rede própria de distribuição para acumular margens e distribuidores externos para reduzir a necessidade de estoque.


A íntegra deste texto saiu no "Le Monde". Tradução de Paulo Migliacci .



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