São Paulo, domingo, 02 de maio de 2010

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O pastor que não leu a Bíblia

DE GENEBRA

Deus levou Antonio, 26, do arquipélago africano de Cabo Verde à suíça Genebra, no meio da Europa. Ou ao menos é o que ele diz. Pastor recém-chegado, prega altivo no altar sem se importar que nos bancos da igreja sentem-se somente quatro fiéis nesta quinta-feira à noite.
"Sempre tem gente nova", comentara antes da chegada de seu rebanho. "Muitos vêm e não ficam, mas os que ficam acabam voltando e trazendo mais. É o Espírito Santo se manifestando na pessoa."
Esguio, de um olhar direto que encara o interlocutor sem fugir nem piscar, o pastor Antonio Tony -ele jura que é sobrenome e não apelido- ainda está se adaptando.

Chamado
Conta que recebeu um chamado da igreja ordenando que viesse à Suíça pregar. Antonio não confirmou à reportagem durante a conversa no fim do ano passado, mas uma das fiéis disse que ele acabara de chegar.
Está aprendendo francês. Já era pastor em Cabo Verde, mas está reaprendendo a pregar na Suíça. Seu exemplo é o pastor Felipe, o número um do centro, de quem tenta mimetizar a retórica. Antonio é diferente, domina menos as palavras, mas se conecta rapidamente com sua audiência de mulheres de meia-idade, à qual narra pedaços de sua história e faz pequenas encenações numa espécie de terapia de grupo.
Como foi parar na Universal? "Foi coisa de ainda muito jovem", diz, sem explicar, justificando que, se começar a falar sobre a manifestação do Espírito Santo em sua vida, nem a repórter nem ninguém será capaz de compreendê-lo. Passou por outras religiões, mas sentiu-se bem só ao achar a atual.
Dali a virar pastor ele não revela quanto tempo levou. Conta só que largou o emprego num hospital para assumir o posto, pelo qual recebe, afirma, uma "ajuda para viver". Mas que pode, arregala os olhos, levá-lo ainda a qualquer outro lugar do mundo.
Na sua África mesmo, a presença da igreja avança voraz, o que ele descreve com alegria no sotaque nativo. "Estão muito, muito grandes já lá. Aqui na Europa também."
Aprendizado para o púlpito não houve, admite, apenas uma vontade de "entender melhor as coisas".
"Nunca li a Bíblia toda. É porque, se você sabe algumas coisas, já dá para entender tudo", conclui para si. Ele minimiza a falta de estudo e treino para exercer sua atividade e diz compensá-la com devoção. "É como na escola. A maioria das pessoas decora tudo e não entende nada. Estudar assim não serve, sim ou não?" (LC)


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