São Paulo, domingo, 02 de maio de 2010

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MÉXICO

Reação católica

Padre que lidera ofensiva diz que ter ignorado surgimento da Universal foi erro

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO

Em 2008, o jornal semanal da poderosa Arquidiocese da Cidade do México dedicou duas de suas páginas para criticar a Igreja Universal do Reino de Deus, num raro ataque direto a outra religião. O material, em formato de perguntas e respostas, falava do histórico da igreja e de acusações de extorsão e fornecia links do YouTube.
O autor do texto é o padre José de Jesús Aguilar, subdiretor da área de TV e rádio da arquidiocese e um dos principais críticos da Universal no país, que tem 88% da população declarada católica e ao qual o papa João Paulo 2º se referia como "o México, sempre fiel".
Mas, para o padre Aguilar, a Igreja Católica peca por omissão ao não mudar de estratégia para manter seus fiéis. "Se eu pudesse, teria um programa que nem o deles, bem produzido, com música relaxante", disse, em referência a "Pare de Sufrir" e "Habla Que Te Escucho" [Fala Que Te Escuto], que a igreja de Edir Macedo leva ao ar em dois canais.
Num sábado, quando a programação da Universal está no ar, à meia-noite, Aguilar aparece como convidado na TV num programa de entretenimento e aconselhamento chamado "Frente a Frente". Ele também faz pontas em novelas. "Quando "Pare de Sufrir" chegou, o cardeal e alguns sacerdotes menosprezaram: "Ah, é um grupo de brasileiros que vai passar na madrugada. Quem vai dar importância?'", irrita-se o padre.

"Mulher especial"
"É preciso admitir que a Universal preenche muitos vazios. Toca diretamente em problemas cotidianos dos fiéis, incluindo os mais fragilizados. O problema é a tese de que, se você está sofrendo, é porque não deu o suficiente para Deus."
Os pastores da Universal evitam ataques ao catolicismo, embora condenem a idolatria. "Fui criada no catolicismo, mas sempre fui pouco afeita aos santos. Lá [na Universal] eles jamais criticam outra religião", garante Marilena Villamontes Rojas, frequentadora da igreja há 16 anos. No culto do qual Villamontes participara pouco antes, visto pela reportagem em agosto do ano passado, o pastor referiu-se a Maria em uma oração, chamando-a de "mulher especial" por ter gestado Jesus.
Villamontes diz ter sido levada por uma amiga quando estava deprimida por causa da separação do primeiro marido. Com o segundo marido também teve problemas. "Hoje eu compreendo que foi bruxaria."
Questionada sobre acusações de manipulação para arrecadar doações, disse: "Ouvi falar das denúncias. Mas eles [a igreja] não obrigam a dar dinheiro, eles pedem".
Ao lado do atual marido, Villamontes acomodava os netos no carro. "Aqui, eu consegui uma vida de paz. Mas é lógico que os problemas não acabam. Eu tenho sete filhos."


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