São Paulo, domingo, 02 de julho de 2006

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A civilização da fotossíntese

"Racionalidade Ambiental" alerta sobre a degradação ambiental e dependência do petróleo

GILBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Embora copioso, bitelão, abundoso em palavras e repetições, este livro -espécie de tratado muito bem informado sobre o que se tem publicado alhures na área de ecologia, economia, sociologia e ambiente- traz uma advertência fundamental que nos concerne, a nós que habitamos o território das florestas dos trópicos.
O planeta Terra, regido por um sistema produtivo predador da natureza, somente se resolverá com uma civilização da fotossíntese, em que a energia é plantada na terra.
De 1970 em diante é cada vez maior a consciência de que a natureza, a biosfera, possui limites, a partir dos quais poderá entrar num processo de entropia incontrolável e pifar de vez.
Daí o risco de não mais haver vida na Terra antes mesmo de a luz do Sol se apagar definitivamente. Estamos diante de um perigo terrível: o da morte entrópica do planeta, causada por um tânatos ecológico que pode levar o capitalismo a uma crise terminal, pondo outro coveiro seu além do projetado proletariado, isto é, o ambiente, o contorno ecológico, a Terra.
A razão econômica antinatura parece ter atingido seu zênite de degradação. Os ricos, os burgueses, os bacanas, os marajás, os "primeiromundosos" já ouviram soar o alarme acerca da ecologia em pânico.
A racionalidade econômica é hoje sinônimo de destruição da natureza, sobretudo causada pela queima de CO2 na atmosfera proveniente do uso de carvão mineral e de petróleo. E a chamada "dívida ecológica" é dos países ricos em relação aos países pobres, porque aqueles são os que mais poluíram a terra, a água, a biosfera.

Ideologia verde
Se a ecopolítica não for compreendida pelo prisma energético do poluidor hidrocarbonato, ela converte-se em ideologia de partidos verdes naturebas, e com perfil de butique, pois a raiz da crise ecológica se encontra na indústria petroquímica, cuja sustentação é o binômio dólar-petróleo.
Enrique Leff está certíssimo em sublinhar que o imperativo para resolver a crise ecológica está posto na "despetrolização da economia". É essa produção econômica, ancorada nos combustíveis fósseis, que aumenta a degradação entrópica da terra, de modo que a única maneira de reapropriar racionalmente a natureza é pela produção energética da biomassa a partir da fotossíntese, que é a geradora da matéria viva, vegetal e animal.
É uma pena que o autor não conheça a Escola da Biomassa brasileira e a reflexão dos cientistas Simões Lopes Filho, Sergio Salvo Brito, Marcelo Guimarães e Bautista Vidal acerca do trópico, da energia verde, da alcoolquímica, da economia política do sol e da civilização dos hidratos de carbono.


GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS é professor de ciências sociais na Universidade Federal de Juiz de Fora e autor de "A Salvação da Lavoura" (ed. Casa Amarela)

RACIONALIDADE AMBIENTAL
Autor:
Enrique Leff
Editora: Civilização Brasileira
Quanto: R$ 60,90 (560 págs.)


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