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Vidas reais
"Essa Sarah Palin é porreta"
Cuidando de
40 vacas
e da plantação
de milho, fazendeira
diz que
não contrata mexicanos
nem contrai empréstimos
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COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DA PENSILVÂNIA (EUA)
Sue Saylor cuida de 40
vacas de mais de meia
tonelada cada uma,
planta milho para a
forragem do inverno,
opera as máquinas para a produção de leite, além de fazer
uma infinidade de outras pequenas tarefas -mais ou menos como ela mesma fazia
quando criança.
O marido ajuda quando não
está em sua própria fazenda, e
também a irmã. São os dois
mecânicos da fazenda, que cuidam do trator de 20 anos e das
colheitadeiras de 30.
Sue fez alguns cursos de contabilidade e é responsável pelos
impostos e pelas finanças de
um negócio que fatura US$ 200
mil ao ano. Marjorie Saylor
ainda manca um pouco, por ter
escorregado no alto do celeiro,
quando fazia a pintura.
"Numa fazenda as coisas podem acontecer de uma hora para outra", diz Sue. Um conhecido fez o parto de uma vaca e, no
dia seguinte, morreu do coração. A família ia fazer um leilão
naquela semana, vender as vacas todas.
Dívidas? Nenhuma. Sue fala
de vizinhos que já foram à falência três vezes, depois de se
encantarem com propostas de
financiamento que não puderam pagar. Para Sue, o correto
seria pagar as dívidas, mesmo
que fosse aos poucos. O melhor
seria não ter feito as dívidas,
mesmo que fosse para aumentar a produção.
Quanto à tecnologia, a Fazenda Leiteira Say View parece
estar num sensato meio-termo. Sue diz não à moda do orgânico, que, para ela, cria vacas
mirradas e doentes. Ela dá vitaminas para os bichos e corrige
o solo. Mas só entra com antibióticos para evitar infecções, e
não usa hormônios.
"Cada vaca é uma senhora de
respeito, e merece sua consideração", diz uma placa bem visível no estábulo.
Sem empregados
É uma atitude que vem mais
dos costumes e da religião que
de uma nova consciência ecológica. "O que Deus nos deu temos que melhorar ou manter",
explica.
Sue é menonita, uma das
muitas denominações protestantes americanas. Os menonitas vieram da Alemanha e da
Holanda para a Pensilvânia, no
século 18, em busca de trabalho
e também fugindo de perseguições religiosas na Europa.
"Gosto da minha vida, e não
quero sair daqui para nada", diz
ela, que esteve em Pittsburgh, a
maior cidade da região, apenas
uma vez. Com mais de 50 anos,
nem ela nem sua irmã têm filhos. Calcula que ainda tem uns
dez anos de trabalho.
Empregados para ajudar na
lida? Nenhum. Uma veterinária faz visitas a cada duas semanas e, para serviços especiais
-como cobrir um alagado para
as vacas pastarem sem se molhar-, ela usa firmas da região.
"Não, não vou contratar mexicanos. Não tenho nada contra, mas quero gente daqui. Talvez eu arrende para sobrinhos,
que agora trabalham meio período em outras fazendas. Quero que fique em família", diz
Sue, se referindo à fazenda fundada em 1867, quando a primeira das cinco gerações chegou da Alemanha.
Recentemente Sue construiu
uma pousada, com ajuda do
marido e da irmã, contratando
apenas encanador e eletricista.
Um vizinho se ofereceu para
pintar as portas com tinta de
automóvel, que dura mais e dá
uma aparência especial. O madeireiro cortou madeira da própria fazenda, recebeu pelo serviço em espécie. Auto-confiança americana.
Política? "Não acho que vá
mudar muita coisa, mas eu gosto da Sarah Palin, ela é porreta!", Sue me conta com um brilho nos olhos que revela uma
genuína identificação com a
candidata a vice-presidente republicana.
Provavelmente se referindo a
Obama, Sue diz: "Gosto de mudanças bem lentas, bem pensadas". E logo muda de assunto:
"Sabe, uma amiga adorou a lareira, achou supercharmosa, e
de fato, olhando agora, ficou
ótima. Mas coloquei a lareira
para o caso de ficarmos sem
eletricidade. Somos assim, nem
aproveitamos as coisas bonitas
que temos".
(HELOISA PAIT)
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