São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2008

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Vidas reais

"A eleição não é sobre negritude"


Para funcionária de seguradora presente em comício de Obama na 2ª, ninguém resolverá os problemas do país

HELOISA PAIT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DA PENSILVÂNIA (EUA)

No ônibus para o centro de Pittsburgh, estudantes entusiasmados tentavam adivinhar há quantos anos Michelle Obama está casada. Seguiram a pé, atravessando fora da faixa de segurança, para a Mellon Arena, onde Barack Obama iria falar logo mais.
Em torno do estádio, uma fila compacta e diversa se formava, feita de famílias, colegas de escola e estrangeiros, circundada por militantes, ambulantes e músicos. Se não fosse o frio, podia ser no Brasil.
Para muitos, aquele era o seu primeiro comício. "Change" [mudança], um slogan da campanha de Obama, era repetido com otimismo e variava no significado: atenção às necessidades da classe média, melhores serviços de saúde, cuidados com o ambiente ou com a imagem externa dos EUA.
Na fila encontrei Michelle Bailey, 37, que mora em Penn Hills, subúrbio de classe média de Pittsburgh, e trabalha para a companhia de seguros de saúde Blue Cross. Ela já lidou com seguros para aposentados acima de 65 anos e acha que muita coisa precisa mudar no setor.
Michelle avalia o Parte D, um plano federal de subsídios a medicamentos, como um desastre total. O plano é visto por muitos como vantajoso para as empresas farmacêuticas.
Agora representa um tipo de seguro chamado "stop-loss", feito para empresas que estabelecem um fundo próprio para fazer frente a despesas médicas de seus funcionários, mas querem proteção extra no caso de contas muito elevadas.
Michelle acredita que o governo pode fazer mais a respeito da saúde, mas sua prioridade é a educação.
Nem ela nem seu marido, Tyrone, que a acompanhava no comício e é trabalhador sindicalizado da construção civil, fizeram faculdade, mas ela quer mais para os três filhos, o mais velho dos quais já no ensino médio. Para ela, se Obama for eleito, haverá mais oportunidades para a metade dos americanos que não tem condições de bancar a matrícula.

"Otimista como eu"
Michelle ri quando pergunto como ela vê sua xará, candidata a primeira-dama pelo Partido Democrata. "Fico feliz com ela. É uma mulher negra otimista e corajosa. Como eu!"
Mas também estaria no comício se a candidata fosse Hillary. "Minha negritude pode ter me trazido mais perto da campanha, mas a eleição não é sobre isso, é sobre mudanças." Quero saber se ela não teme uma grande decepção.
"Espero que Obama faça 70% do que está dizendo. Os problemas são muitos, ninguém vai resolver tudo."
Dentro do estádio, cheio em dois terços, eleitores se empanturravam com hot-dogs, pretzels, tortillas e hambúrgueres enquanto aguardavam o candidato democrata. Pittsburgh é uma cidade de imigrantes: poloneses, irlandeses e italianos, entre outros, foram atraídos pelo desenvolvimento industrial da cidade no século 19.
Assim, quando Obama mencionou os trabalhadores braçais que saíram de seus países em busca de um mundo melhor, foi aplaudido.
Na saída, Linda Ryan, 45, típica "pittsburgher", falou à Folha. Ela fez faculdade, gosta de tocar violino, mas não tem a habilidade dos músicos da orquestra sinfônica da cidade, de fama internacional.
Era secretária na Financial Title Co., que fazia seguro de títulos de propriedade. Com a crise imobiliária, a demanda por esse serviço despencou, e a empresa fechou escritórios em todo o país. Democrata registrada, votou em Hillary nas primárias e votaria no partido de qualquer modo. Mas neste ano três questões a preocupam: a retomada da economia, seguros médicos acessíveis e a Guerra do Iraque.
Seu cunhado, que completa 50 anos no ano que vem, é reservista, foi convocado e está recebendo treinamento no Estado de Wisconsin. Depois do feriado de Ação de Graças, parte para Kirkuk, diz ela.


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