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Louis Pasteur
Raiva progressiva
O
trabalho de Louis
Pasteur (1822-95) sobre a geração espontânea criou tanta sensação na
França quanto fizera a "Hétérogénie" (1859) de Pouchet.
Em ambos os casos a sensação ultrapassou os círculos
científicos.
O vasto interesse popular
nesse debate proveio de suas
pretensas implicações religiosas, filosóficas e até políticas, pois a questão da geração
espontânea fazia parte do debate geral que campeava na
França entre o materialismo
e o espiritualismo.
Os resultados de Pouchet
eram evocados para corroborar o materialismo, o evolucionismo e a política radical,
enquanto os resultados opostos de Pasteur eram usados
para respaldar o espiritualismo, a narrativa bíblica da
criação e a política conservadora. Em abril de 1864, em
uma palestra na Sorbonne,
Pasteur enfatizou que a doutrina da geração espontânea
(assim como o materialismo
em geral) ameaçava o próprio
conceito de Deus criador.
Negação a priori
Embora insistisse em haver
abordado essa questão sem
idéias preconcebidas e se dissesse disposto a se manifestar
em favor da geração espontânea, caso "os experimentos
me houvessem imposto essa
visão", temos razões para crer
que ele queria negar a priori a
existência da geração espontânea, pelo menos com o mesmo fervor com que Pouchet
queria afirmá-la.
Pois a posição de Pasteur
no debate se coadunava com
suas convicções religiosas e
políticas conservadoras e
com alguns aspectos de seu
conceito de fermentação. [...]
Em dezembro de 1884, relutantemente, ele se recusou,
com os meios de que dispunha, a tratar uma criança
mordida, assinalando não haver confirmado que seu método [de vacinação anti-rábica] funcionaria nos cães depois de eles serem mordidos e
confessando que, ainda que o
método lograsse êxito nessa
situação, sua mão "tremeria"
ao aplicar o tratamento em
seres humanos, "pois o que é
possível no cão talvez não o
seja no homem".
Menino mordido
Mas, em março de 1885, havia começado a testar seu método em cães já mordidos e,
em 6/7/1885, resolveu tratar
Joseph Meister, um menino
de nove anos proveniente da
Alsácia, "não sem sentir extrema angústia", embora dois
médicos solidários lhe houvessem garantido que, de outro modo, o menino estaria
"condenado à morte inevitável", e embora seu novo método de profilaxia nunca houvesse falhado nos cães. [...]
Pasteur consultou imediatamente Alfred Vulpian, um
integrante da comissão sobre
a raiva, e Jacques Joseph
Grancher, que trabalhava em
seu laboratório. Ambos consideraram que o jovem Meister estava condenado.
Depois que Pasteur lhes falou de seus novos resultados,
os dois o exortaram a usar o
novo método no menino.
O tratamento, iniciado na
mesma tarde, durou dez dias,
durante os quais Meister recebeu 13 injeções abdominais, feitas com medulas de
coelho progressivamente
mais virulentas.
No fim do tratamento,
Meister fora inoculado com o
vírus mais virulento de raiva
de que se tinha conhecimento
-o de um cão raivoso, aumentado por uma longa série
de passagens por coelhos.
Apesar disso, o menino
continuara saudável nos quatro meses seguintes à ocasião
em que fora mordido, de modo que sua recuperação parecia garantida.
De acordo com Dubos,
Meister acabou por se tornar
zelador do Instituto Pasteur e
viveu até 1940, quando preferiu suicidar-se a abrir a cripta
funerária de Pasteur para o
Exército alemão invasor.
Trecho do verbete escrito por Gerald Geison .
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