São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2008

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As cabeças do império

Conheça os principais intelectuais da Nova Esquerda e da Nova Direita

RAIO-X DA NOVA ESQUERDA

Apelido: "tunpai"
Cidades: Nanjie, Chongqing, Pingchang
Geografia: interior do país
Governos: Hu Jintao (atual)
Temas: combate à poluição ambiental e à desigualdade social, experimentos democráticos limitados ("ditadura deliberativa")

RAIO-X DA NOVA DIREITA

Apelido: "neocon"
Cidades: Xangai, Shenzen
Geografia: costa leste
Governos: Deng Xiaoping e Jiang Zemin
Temas: privatização, redução da interferência do Estado, maior militarização do país

Cui Zhiyuan
Professor de política e administração pública na Universidade Tsinghua, em Pequim. Importante membro da Nova Esquerda, ficou conhecido nos círculos intelectuais por seu trabalho sobre as alternativas ao capitalismo neoliberal.
Suas obras mais famosas foram um livro sobre a aldeia de Nanjie e um artigo pedindo uma "Segunda Libertação do Pensamento".
Estudou na Universidade Hunan, depois iniciou mestrado na Academia Chinesa de Ciências Sociais, antes de ir para a Universidade de Chicago em 1987. Voltou ao país em 2004.
"Os debates intelectuais nos anos 1990 migraram para onde os acadêmicos estavam -e onde podiam ser publicados, principalmente Hong Kong. Você podia ser mais influente fora da China, pois aqui não se podia falar muito. Mas hoje o país é muito mais livre, e a internet faz uma enorme diferença. Desde que não escreva que o Partido Comunista deve ser derrubado, você pode escrever o que quiser."

Fang Ning
Importante pensador de teoria política, sua obra mais famosa é o tratado ultranacionalista que virou best-seller (escrito com Wang Xiaodong): "O Caminho da China à Sombra da Globalização" (1999).
Seu artigo "Socialismo Significa Harmonia" (1997) foi um dos primeiros a relacionar socialismo e harmonia e, segundo ele, foi uma das inspirações para os hoje populares slogans políticos "Sociedade Harmoniosa" e "Mundo Harmonioso".
Vice-diretor do Instituto de Política da Academia Chinesa de Ciências Sociais, é um autor prolífico sobre democracia e teoria política no país. Trabalhou estreitamente com o governo do país em vários projetos, incluindo "Relatório sobre a Democracia" (2005).

Gan Yang
Simpático à Nova Esquerda, trabalha no Centro de Estudos Asiáticos da Universidade de Hong Kong.
Obteve o doutorado na Universidade de Chicago depois de viajar para os EUA em seguida ao massacre da praça Tiananmen.
Suas principais obras incluem "Estamos Criando Tradição" (1989) e "Reflexões sobre Liberalismos" (1997).
Incomodou muita gente da Nova Direita quando usou provocadoramente a frase "destruição criadora" para descrever a Revolução Cultural.

Hu Angang
"Enfant terrible" da economia em seu país. O "Relatório sobre a Capacidade do Estado na China", que co-escreveu com Wang Shaoguang quando realizava pós-doutorado na Universidade Yale (EUA), foi amplamente considerado uma das obras mais influentes sobre a economia política da China nas últimas duas décadas -e convenceu o governo a reforçar o papel do Estado.
É autor de mais de 40 publicações, além de ser consultor dos governos central e provinciais. Hoje é professor e diretor do Centro de Estudos da China na Escola de Política Pública e Administração na Universidade Tsinghua, mas já lecionou em várias universidades ocidentais.
Como mais influente economista da Nova Esquerda, foi pioneiro na pesquisa das "circunstâncias nacionais" da China, interesse que desenvolveu inicialmente na Academia Chinesa de Ciências, em 1985.

Pan Wei
Professor na Escola de Estudos Internacionais e diretor do Centro para a China e Negócios Globais, ambos da Universidade de Pequim, é um dos astros ascendentes no mundo acadêmico. Seu trabalho sobre o "Papel Consultivo da Lei", que pede que a China siga Cingapura como modelo de sistema político, ao invés das democracias ocidentais, foi muito influente.
Obteve o doutorado pela Universidade da Califórnia, em Berkeley, em 1996.
É um dos pensadores mais originais da China sobre reforma política e desenvolvimento econômico e político na zona rural. Tem orientação conservadora, defendendo um modelo especificamente chinês de desenvolvimento econômico e político.

Qin Yaqing
Professor e vice-presidente executivo da Universidade de Relações Exteriores da China, tem reputação de pacifista. Obteve o doutorado pela Universidade de Missouri em 1994.
Combina um papel importante em um órgão patrocinado pelo governo -a Universidade de Relações Exteriores foi criada pelo veterano ministro das Relações Exteriores Chou En-lai para ter a mesma função em política externa que a Escola Central do Partido em política interna- com paixão por teoria das relações internacionais.
Defensor de uma "escola chinesa de relações internacionais", também se envolveu com a elaboração de políticas externas do governo, assessorando-o em questões como a integração regional do Extremo Oriente.

Shi Yinhong
Professor de relações internacionais na Universidade Popular da China, em Pequim, causou polêmica com sua proposta de distensão com o Japão. Foi professor convidado em muitas universidades norte-americanas, como Harvard, Carolina do Norte e Denver.
Especialista em grande estratégia, é uma espécie de "internacionalista liberal" que assume uma posição moderada sobre as relações com os EUA e o Japão.

Wang Hui
Professor pesquisador na Universidade Tsinghua, foi co-editor do principal periódico intelectual do país, o "Dushu", de 1996 a 2007, e um dos principais membros da Nova Esquerda.
Nascido em 1959 no seio de uma família de intelectuais, trabalhou por 20 meses como operário têxtil após a Revolução Cultural. Formou-se na Universidade Xingdu, antes de fazer o doutorado na Academia Chinesa de Ciências Sociais, em 1985.
Wang Hui participou dos protestos na praça Tiananmen em junho de 1989. Foi para Harvard em 1992 e depois passou algum tempo na Universidade da Califórnia, em Los Angeles.
"Quando estava no colégio, íamos ao campo toda primavera e todo outono para trabalhar com os agricultores, por isso conheço todos os tipos de produção agrícola."

Wang Xiaodong
É o mais famoso "ultranacionalista" e intelectual da China; está freqüentemente na linha de frente de polêmicas -seja em debates sobre relações China-EUA, sobre relações China-Japão ou ainda sobre discussões ambientais.
"O Caminho da China à Sombra da Globalização" (co-autoria com Fang Ning) é o manifesto para uma nova onda de nacionalismo na era da globalização.
Embora não esteja na corrente dominante da comunidade de política externa da China, é amplamente respeitado e criou laços com vários "príncipes herdeiros" -os filhos de graduadas autoridades.

Yang Yao
É um dos poucos economistas que estudaram as implicações das eleições e da democracia popular sobre o bem-estar social. É professor e vice-diretor do Centro de Pesquisas Econômicas da China na Universidade de Pequim.
Em 1996, tornou-se PhD pela Universidade de Wisconsin, em Madison (EUA). Yang Yao se distancia do fundamentalismo de mercado da maioria de seus colegas economistas que formam a Nova Direita e das "tendências populistas" da Nova Esquerda.
"Os economistas na China são muito mais de direita que na Europa ou nos EUA", diz. "Sou de esquerda porque fiz o doutorado em Wisconsin, que é um dos Estados mais socialistas dos EUA. Não sabia na época que Wisconsin teria tanta influência sobre mim."

Yang Yi
Entrou para a Marinha em 1968 e foi adido naval na Embaixada da China em Washington entre 1995 e 2000. Hoje é diretor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade de Defesa Nacional do Exército de Libertação Popular, chefiando pesquisas sobre estratégia internacional da China e estratégia de segurança nacional.
É um oficial e um acadêmico respeitado e uma das principais autoridades sobre política de segurança.
Nos últimos anos, publicou vários artigos influentes sobre segurança nacional no "Global Times" que chamaram a atenção dentro e fora do país.

Yu Keping
É vice-diretor do Departamento Central de Compilação e Tradução, que esteve na vanguarda das medidas para analisar e disseminar experimentos em democracia de base, eleições e consultas públicas.
Considerado um assessor informal do presidente Hu Jintao, causou polêmica com artigos extraídos de seu livro de 2006 "A Democracia É uma Coisa Boa".
Em 1988, obteve o doutorado em ciência política pela Universidade de Pequim e é uma estrela ascendente em teoria política comunista chinesa.
Além de seus muitos cargos acadêmicos, também é o principal especialista em uma nova força-tarefa sancionada pelo governo para pesquisa do marxismo, um ramo de pesquisa renovado que atrai cada vez mais os melhores teóricos políticos da China.
Embora tenha ocupado cargos no governo, é geralmente bem-visto pela comunidade acadêmica por sua pesquisa erudita. Ao lado de Fang Ning e alguns outros, é o mais reputado teórico sobre o estilo chinês de democracia.

Zheng Bijian
Com carreiras acadêmica e política destacadas, é um dos mais influentes e polêmicos pensadores do país em política externa e reforma política. Lecionou na Universidade Popular da China e galgou escalões até se tornar o vice-ministro executivo do Departamento de Propaganda e vice-presidente da Escola do Partido, do Comitê Central do PC.
É considerado um assessor íntimo de Hu Jintao. Nas décadas de 1970 e 80, surgiu como defensor de reformas, redigindo importantes discursos e documentos do partido.
Foi autor dos principais discursos de Deng Xiaoping em sua famosa "viagem pelo sul" em 1992, que reorientou novamente o país para as reformas econômicas após Tiananmen.
Em 2004, lançou a idéia de "ascensão pacífica". Embora ela tenha sido considerada fracassada como empreendimento intelectual e como projeto político, muitas de suas linhas mestras continuam tendo ressonância na atual comunidade de política externa do país.
Atualmente, é presidente do Fórum de Reformas da China, uma instituição de pesquisa semi-oficial que assessora o governo. Há pouco se envolveu em um projeto sobre o rejuvenescimento cultural do país.

Zhang Weiying
Um dos mais famosos economistas da China e importante membro da Nova Direita, é também primeiro reitor associado da Escola de Administração Guanghua da Universidade de Pequim e diretor do Instituto de Pesquisa Econômica da Universidade de Pequim.
Eleito o "homem do ano da economia chinesa" pela Televisão Central Chinesa (CCTV) em 2002, serve em vários comitês do governo e de empresas.
Obteve o PhD pela Universidade de Oxford sob a supervisão do Nobel de Economia de 1996, James Mirrlees.
Antes de ir para lá, em 1990, pesquisou sobre teoria e política da reforma econômica no hoje extinto Comitê para Reforma Institucional do Estado.
É nome importante sobre teoria das empresas, além de ser influente nas comunidades acadêmica, governamental e empresarial.
Também é considerado o principal nome da escola neoliberal, graças a suas prescrições políticas para o desenvolvimento do país.
Pela mesma razão, também é hoje um dos economistas mais criticados.


Fonte: "What Does China Think?".


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