São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2008

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Trocando em miudinhos

Dificuldade dos chineses com leitura e pronúncia do Ocidente é aproveitada por multinacionais para revalorizar suas marcas

ERNANE GUIMARÃES NETO
DA REDAÇÃO

Além de palco de embates esportivos de alto nível, a Olimpíada transforma Pequim em cartaz de uma miríade de anúncios de multinacionais. Na capital de um mercado emergente de 1,3 bilhão de consumidores, a publicidade constante dos parceiros, patrocinadores e fornecedores oficiais do evento ganha uma nova forma: o ideograma.
Como a escrita chinesa não é alfabética e o conhecimento dos idiomas ocidentais ainda é restrito à elite, as empresas adaptam os nomes de seus produtos -e aproveitam para incrementar suas marcas.
Basta escolher, para cada sílaba do nome, um ideograma com significado atraente ao consumidor, mesmo que a sonoridade não seja muito fiel. Um exemplo tradicional de sucesso é a Coca-Cola, cuja popular tradução chinesa, Kekou Kele, pode ser lida como "cola gostosa" ou, desmembrando-se mais os radicais, algo como "alegria gostosa e agradável".
Outras marcas prezam ainda menos a adaptação da sonoridade. Os cosméticos Revlon, cuja pronúncia seria adaptada com dificuldade para o chinês, tornou-se Luhuanong, algo como "aparência florescente intensa" -formulação tirada de um poema clássico de Li Bai (século 8º) que descreve a beleza de uma mulher.
Nesta Olimpíada, patrocinadores como a Johnson & Johnson e a Budweiser exibem logotipos com ideogramas.
No primeiro caso, a transliteração escolhida da sonoridade inglesa foi Qiangsheng, que significa algo como "vida melhor". A marca de cerveja, que desde junho faz parte da InBev. utiliza a forma Baiwei, "Força cem".
Enquanto diversas marcas ocidentais se mostram adaptadas ao ingresso na China, o inverso ainda não é verdade.
Ainda neste século, em que a China se levanta como gigante comercial, persistem anedotas como a dos biscoitos kaka, que, na Rússia, foram um fracasso: em russo a palavra "kaka" tem um sentido escatológico semelhante, mas mais chulo, a "caca" em português.


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