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Historiador foi acusado de incitar luta armada
ESPECIAL PARA A FOLHA
Caio Prado Jr. esteve preso várias vezes por conta
da militância. Em duas
ocasiões, passou longos períodos na cadeia. Na primeira, tinha pouco menos de 30 anos;
na segunda, pouco mais de 60.
Em 1935, quando integrava a
Aliança Nacional Libertadora,
ocorreu a fracassada tentativa
de revolução comunista. Com a
repressão que se seguiu, Caio
Prado, junto com toda a cúpula
do Partidão, passaria os dois
anos seguintes na prisão.
Devido à posição de sua família -seu tio Fábio Prado era
prefeito de São Paulo na época-, teve no cárcere algumas
regalias, "as quais procurou,
quando possível, compartilhar
com os companheiros", diz
Paulo Iumatti, organizador de
seu acervo.
A segunda prisão prolongada
se deu nos chamados anos de
chumbo da ditadura militar.
Caio Prado foi preso no início
de 1970, acusado de incitação
subversiva devido a uma entrevista dada mais de dois anos
antes. Em 1967, ele falara a estudantes de filosofia da USP
que editavam a revista "Revisão", uma publicação datilografada e de circulação restrita.
Respondendo a perguntas, o
historiador, então, tratou hipoteticamente da luta armada.
Se existissem operários dispostos a pegar em armas, argumentou, então a tarefa seria arranjar armas e ajudá-los a tomar o poder.
"Mas não adianta programar
a luta armada se não existem os
elementos capazes de concretizá-la." A ressalva não evitou
sua condenação, e ele passaria
um ano e meio na cadeia, até
ser absolvido pelo Supremo
Tribunal Federal.
Culpa
No presídio Tiradentes, onde
a historia dora Maria Odila da
Silva Dias lhe levava almoço,
Caio Prado encontrava nos horários de pátio e fins de semana
o jovem Antônio de Pádua Prado Filho, diretor da revista que
publicara a entrevista e que fora preso na mesma época. "Eu
tinha a impressão de que ele se
sentia culpado por nós termos
sido presos", afirma.
Mas Paeco, como é chamado
o cientista político que hoje faz
pesquisa para os tucanos, estava lá por outro motivo: fora preso por estar ligado ao grupo
guerrilheiro VAR-Palmares,
uma organização de origem
trotskista. Os dois não tiveram
muito contato no cárcere, mas
o suficiente para Paeco guardar
a lembrança: "Ele era um preso
tranqüilo".
(OP)
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