São Paulo, domingo, 04 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Historiador foi acusado de incitar luta armada

ESPECIAL PARA A FOLHA

Caio Prado Jr. esteve preso várias vezes por conta da militância. Em duas ocasiões, passou longos períodos na cadeia. Na primeira, tinha pouco menos de 30 anos; na segunda, pouco mais de 60.
Em 1935, quando integrava a Aliança Nacional Libertadora, ocorreu a fracassada tentativa de revolução comunista. Com a repressão que se seguiu, Caio Prado, junto com toda a cúpula do Partidão, passaria os dois anos seguintes na prisão.
Devido à posição de sua família -seu tio Fábio Prado era prefeito de São Paulo na época-, teve no cárcere algumas regalias, "as quais procurou, quando possível, compartilhar com os companheiros", diz Paulo Iumatti, organizador de seu acervo.
A segunda prisão prolongada se deu nos chamados anos de chumbo da ditadura militar. Caio Prado foi preso no início de 1970, acusado de incitação subversiva devido a uma entrevista dada mais de dois anos antes. Em 1967, ele falara a estudantes de filosofia da USP que editavam a revista "Revisão", uma publicação datilografada e de circulação restrita.
Respondendo a perguntas, o historiador, então, tratou hipoteticamente da luta armada.
Se existissem operários dispostos a pegar em armas, argumentou, então a tarefa seria arranjar armas e ajudá-los a tomar o poder.
"Mas não adianta programar a luta armada se não existem os elementos capazes de concretizá-la." A ressalva não evitou sua condenação, e ele passaria um ano e meio na cadeia, até ser absolvido pelo Supremo Tribunal Federal.

Culpa
No presídio Tiradentes, onde a historia dora Maria Odila da Silva Dias lhe levava almoço, Caio Prado encontrava nos horários de pátio e fins de semana o jovem Antônio de Pádua Prado Filho, diretor da revista que publicara a entrevista e que fora preso na mesma época. "Eu tinha a impressão de que ele se sentia culpado por nós termos sido presos", afirma.
Mas Paeco, como é chamado o cientista político que hoje faz pesquisa para os tucanos, estava lá por outro motivo: fora preso por estar ligado ao grupo guerrilheiro VAR-Palmares, uma organização de origem trotskista. Os dois não tiveram muito contato no cárcere, mas o suficiente para Paeco guardar a lembrança: "Ele era um preso tranqüilo". (OP)


Texto Anterior: O aristocrata radical
Próximo Texto: + Obras
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.