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NANTERRE DE LUXO
3ª MAIOR DA FRANÇA, UNIVERSIDADE QUE INICIOU PROTESTOS 40
ANOS ATRÁS É HOJE FEUDO DA DIREITA
LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Nanterre é um dos
símbolos da revolta dos estudantes
franceses do Maio
de 68. Mas, com o
passar do tempo, o movimento
estudantil que contagiou a
classe operária e paralisou o
país em uma greve geral histórica foi se apagando na amnésia
coletiva.
O presidente Nicolas Sarkozy propôs acabar de vez com
"a herança do Maio de 68". O filósofo e ex-ministro Luc Ferry,
autor de um livro sobre o período, tenta reduzir as revoltas
dos estudantes e dos trabalhadores a um movimento por liberdade individual e casamento por amor.
Divisão
Mas, segundo o filósofo e psicanalista Bertrand Ogilvie, 55,
professor de filosofia em Nanterre, Maio de 68 foi, antes detudo, "a penúltima vez em que a
burguesia francesa teve medo".
A última foi em 1981, com a vitória de Mitterrand e a fuga de
capitais para o exterior.
Nanterre era um centro importante de estudantes anarquistas, como Daniel Cohn-Bendit, militantes trotskistas,
como Daniel Bensaïd, ou membros da Juventude Estudante
Cristã. O diretor da faculdade
de letras era o filósofo Paul Ricoeur, e Cohn-Bendit era conhecido por suas intervenções
nas aulas do sociólogo Alain
Touraine.
Hoje, ela é dividida entre estudantes de direita e um grupo
menor, cerca de 20%, de estudantes de esquerda, nos cursos
de filosofia, sociologia, artes do
espetáculo e lingüística.
Nanterre mudou muito, diz
Djamel Boubegtiten, 29, estudante de filosofia. Depois de
deixar a Sorbonne, onde cursou
filosofia e história, Boubegtiten
se transferiu para Nanterre.
"Sans-papiers"
A Sorbonne, que foi dividida
em duas universidades depois
do Maio de 68 (Paris-Sorbonne
ou Paris 4 e Panthéon-Sorbonne ou Paris 1) é considerada um
bastião da direita católica, hostil ao movimento estudantil de
esquerda.
"O espírito do Maio de 68 está muito longe de Nanterre hoje" diz Djamel Boubegtiten.
Mas ele ainda o percebe na
luta pela causa dos "sans-papiers", trabalhadores estrangeiros sem documentos.
Nanterre está dividida em
uma geografia muito particular. A sociologia é a única das faculdades engajadas que está
longe do prédio dos "revolucionários", isto é, dos estudantes
que participam de greves.
E existe um bloco de prédios
daqueles que são hostis às greves e à ordem de bloquear a entrada dos cursos, como no ano
passado, quando a maioria dos
estudantes e mesmo dos professores era contra a greve de
protesto contra a lei que prevê
a autonomia universitária.
Fundada em 1964, a universidade mudou de nome para se
adaptar aos novos tempos.
Área financeira
Erguida na cidade de Nanterre, governada historicamente
por prefeitos comunistas, ela se
chama hoje "Nanterre - Universidade Internacional do
Oeste de Paris" e é um importante centro de formação na
área de finanças, apesar de
manter cursos de ciências humanas de alto nível.
Com 2.000 professores e 33
mil estudantes, é a terceira
maior universidade francesa.
Por estar perto do bairro de
negócios La Défense, da rica cidade de Neuilly (da qual Sarkozy foi prefeito), e por estar
inserida geograficamente no
departamento mais rico da
França (Hauts-de-Seine), que
tem um PIB equivalente ao da
Grécia, a universidade tem
grande número de alunos vindos de classes privilegiadas.
Resumindo, estudantes de
cursos como direito e economia, finanças e gestão, que são a
esmagadora maioria, são de direita. Os de filosofia, sociologia
e literatura são de esquerda.
"Durante a greve ocorrida no
ano passado, muitos não escondiam o orgulho de serem brancos, ricos e de direita", conta
Boubegtiten. "Quando bloqueamos a entrada dos cursos,
vimos alguns fazerem a saudação nazista diante de nós para
nos provocar."
Desinteresse
A estudante Camille Thomas, de 19 anos, decidiu estudar filosofia em Nanterre pela
reputação de ser melhor que o
curso da Sorbonne. "Maio de
68 pertence ao passado e hoje
não há herança visível." Ela diz
que, ao contrário de 1968, os estudantes fizeram greve no ano
passado e foram derrotados pelo cansaço e pelo desinteresse
da maioria.
Lola Fonseque, 19, estudante
de filosofia, diz que o período é
lembrado na universidade sobretudo pelos sindicatos de estudantes, que se orgulham dele.
"Vejo com orgulho essa herança, mas acho que precisa haver um verdadeiro trabalho de
reflexão sobre o que aquela revolta representou para o país e
que herança ela deixou."
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