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+ 3 questões Sobre direitos autorais
1. A Internet ameaça o conceito de propriedade intelectual ?
2. É possível regulamentar a reprodução eletrônica de texto/som/imagem?
3. A idéia de autoria está em risco?
Samuel Mac Dowell de Figueiredo responde
1.
Não, apesar da inexistência de lei
específica que discipline o assunto.
Os princípios que regem a propriedade intelectual -não apenas a autoral, mas
também a industrial- estão estabelecidos nas convenções internacionais, assim
como, entre nós, na Constituição e na legislação ordinária. Nesse sentido, não seriam necessárias leis específicas para proteger a propriedade e a utilização dos bens
intelectuais na Internet. Entretanto, a rede
cria alguns campos de disponibilização de
obras ao público, em relação aos quais
persiste uma grande dubiedade sobre a
sua caracterização. Um exemplo disto está na execução de obras musicais, que
ocorre de modos distintos, alguns deles
determinantes da dúvida sobre se se tratam ou não de uma execução pública; outro, mais frequente, reside na reprodução
de obras fotográficas. Embora editada
apenas há dois anos, a lei brasileira de direito autoral não apresentou avanços em
relação aos meios de difusão surgidos com a Internet nem foi adaptada à expansão desses meios.
2.
Esta questão se refere aos meios técnicos de controle. A reprodução em "download", por exemplo, pode ser perfeitamente
regulada, se forem adotados meios de controle das reproduções feitas. Entretanto como controlar as execuções sem "download" e sem
possibilidade de cópia? O fenômeno é muitíssimo mais amplo que o
surgido na era do rádio e da televisão, onde ao menos as fontes reprodutoras são estáticas e conhecidas, o que não é comparável à multiplicação e pulverização dessas fontes na Internet.
3.
A Internet, mais do que qualquer outro meio de difusão antes
conhecido, possui uma grande volatilidade e poder de difusão.
Pertence ao futuro a definição não sobre a sobrevivência da idéia da
autoria em si mesma, mas sim sobre o proveito da autoria. A autoria,
como fenômeno abstrato que é, não sofre influências do ambiente físico, enquanto o seu proveito, especialmente o econômico, sim; este
depende de fatores diversos, a começar pela questão da regulação e
controle. Podemos, contudo, estar às portas de um fenômeno novo e
de uma realidade inteiramente distinta, onde a importância que hoje
emprestamos à questão da autoria sofra uma modificação profunda.
Philadelpho Menezes responde
1.
A Internet modifica o conceito de
propriedade intelectual. Esse conceito está atrelado ao desenvolvimento do
mercado do livro, surgido já no século 16.
Na prática, aparece para proteger os escritores da pirataria das editoras, que publicavam títulos sem nem sequer avisar seus
autores, muitas vezes deturpando seus escritos. A propriedade intelectual se manifesta historicamente na venda de bens
materiais (livro, tela de pintura, película
fotográfica). Com a digitalização da cultura e sua circulação pela rede de computadores, a propriedade intelectual perde
gradualmente sua manifestação física comercializável e seu circuito de distribuição.
2.
As grandes empresas que atuam na
Internet devem acreditar que sua
tecnologia criará meios de domar o espontaneismo informacional e reproduzir
na rede circuitos de comércio controláveis
por elas. Já há processos de gravação de marcas em textos, som e imagem digitais que impedem tecnicamente o uso dessas informações
sem autorização do site que as gerou. Mas a natureza interpessoal da
comunicação na Internet, dada pela rede telefônica, está constantemente se chocando com o sistema centralizador da geração de informação proveniente dos modelos do comércio de bens materiais e dos
meios de comunicação de massa.
3.
Também nosso conceito de autoria é herança de uma cultura
iniciada no Renascimento, com o advento de uma idéia de indivíduo e de sujeito que se acirra no Romantismo e, posteriormente,
nos meios de comunicação de massa, com suas técnicas de criação de
ídolos. A autoria, assim, se vincula às idéias de autoridade e de originalidade. Graças à Internet, a autoridade está questionada porque,
com o acesso maior às informações, fica menor o espaço para retóricas de convencimento e para a mitificação daquele que sabe. Com o
fluxo informacional de hoje, fica evidente que ninguém cria nada sem
se apropriar de idéias de outros. Sai de cena o "quem fez primeiro" para dar lugar ao "quem faz melhor". Assim, a originalidade, uma idéia
fixa muitas vezes desastrosa para as artes do século 20, vai ficando coisa do século passado.
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