São Paulo, domingo, 05 de março de 2000


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Em palestra na Folha, o ex-ministro Roberto Campos diz que Brasil ainda não é liberal
Abertura apenas modesta

Ricardo Grinbaum
da Reportagem Local

Há um bom motivo para não se temer a adoção de políticas neoliberais ou o avanço da globalização da economia. Ao contrário do que muitos imaginam, o grau de abertura brasileiro é modesto e o país ainda não é liberal. Mais ainda: se o Brasil avançasse no neoliberalismo, teria mais chances de prosperar.
O discurso é de quem se habituou a carregar bandeiras como a privatização e a abertura comercial desde os tempos em que opiniões como essas eram atribuídas pelos movimentos de esquerda a "agentes do imperialismo econômico".
Aos 82 anos, o ex-ministro Roberto Campos é a principal face pública do liberalismo no país. Em palestra promovida pela Folha e pela Academia Brasileira de Letras, Campos questionou os argumentos de "nacionalistas" e "desenvolvimentistas" para frear as políticas liberais.
Roberto Campos criticou o que seriam três mitos do pensamento brasileiro. O primeiro deles, segundo o ex-ministro, é a idéia de que o país sofre uma ameaça neoliberal. "O máximo que se pode dizer é que o Brasil é um país pós-dirigista a caminho de se tornar liberal. É pós-dirigista e pré-liberal", diz Campos.
A segunda idéia questionada por Roberto Campos é que o país está sendo invadido pelas multinacionais e pelos produtos estrangeiros. "O grau de abertura brasileiro para o mundo é modesto", diz ele. "Não há ameaça de globalização."
O terceiro ponto de Campos é que o liberalismo seria decadente. "Não se pode falar no colapso do liberalismo, que seria a justificativa para se procurar a chamada terceira via", diz o ex-ministro.
Os argumentos de Campos se amparam em duas pesquisas de institutos internacionais. Uma delas, o Índice de Liberdade Econômica, analisa o grau de liberalismo em 161 países.
"A pesquisa mostra que 57 países aumentaram o seu grau de liberalismo nos últimos anos. Se o liberalismo estivesse em retrocesso, isso certamente não ocorreria", diz o ex-ministro.
Nessa pesquisa, o Brasil aparece na 110ª posição entre os países com maior grau de liberdade econômica, atrás dos ex-comunistas Polônia e Hungria. "Isso indica que, na percepção mundial, o Brasil não é um país particularmente liberal."
A outra pesquisa, realizada com dados de 42 institutos liberais, aponta dados parecidos. Na lista de 123 países analisados pelo "Liberdade Econômica do Mundo", o Brasil aparece na 85ª colocação. "O Brasil está situado na categoria entre os países predominantemente intervencionistas ou dirigistas", diz Campos.
As duas pesquisas, segundo o ex-ministro, subestimam os avanços liberais no Brasil. "A maioria dos dados vai até 1987 e o Brasil, a rigor, só ultimamente sofreu um ímpeto liberal maior", diz Campos. Entre as mudanças, ele cita a privatização das telecomunicações, em 1998, e a abertura para concessões petrolíferas, em 1999.
Mesmo assim, diz o ex-ministro, ainda falta muito para o Brasil se tornar um país liberal e não há motivos para achar que a abertura econômica oferece algum risco. "Querer fugir à globalização é uma receita de caramujo ou avestruz. É uma receita de suicídio."


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