São Paulo, domingo, 5 de abril de 1998

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Passado é sucesso nas livrarias

da Redação

No limiar das comemorações dos 500 anos de Brasil, o interesse dos leitores pela história do país e a história em geral parece aumentar, e não só no meio acadêmico.
Seja porque clarifica aspectos da vida presente, seja porque evoca narrativas que a aproximam do universo literário -sobretudo quando busca temas exóticos e pitorescos-, seja ainda porque resgata temas e autores clássicos, a história hoje vive um momento prolífero e é responsável por um quinhão significativo (para o gênero) de títulos publicados no mercado editorial brasileiro.
Alguns historiadores acreditam que o processo começou na universidade e depois se estendeu ao público em geral. "Acho que o interesse por títulos de história começou no meio acadêmico para depois se espalhar pela sociedade", diz o historiador Francisco Iglésias. "O relançamento de títulos clássicos hoje em dia é fruto deste processo."
Uma das abordagens históricas mais bem-sucedidas é aquela que trata da vida cotidiana dos povos que viveram no passado: como se relacionavam, quais eram seus hábitos e costumes, como se exprimiam artisticamente.
Este universo de conhecimento foi explorado sobretudo pela chamada nova história, "movimento" surgido na França a partir da Escola dos Annales, em 1929, criada por Lucien Febvre e Marc Bloch. Ela concentra-se na análise do particular, na história narrativa e na escolha de temas pontuais ligados ao indivíduo -sua sexualidade, sua vida íntima, ideologia, práticas cotidianas- , em detrimento de grandes temas -revoluções, biografias de heróis e a história "positivista". É grande sua influência nos trabalhos brasileiros nas últimas décadas e sua expansão no mercado editorial.
Apesar do número crescente de publicações, alguns acadêmicos acham que as editoras subestimam o público leitor. "Existe um erro de avaliação por parte de quem edita livros de história", diz a historiadora Emilia Viotti da Costa, aludindo à ênfase na publicação de livros de história "exótica ou pitoresca". "Elas acham que o público vai se sentir atraído por temas eróticos e só. Não é verdade. Quando Celso Furtado lançou "Formação Econômica do Brasil' (Companhia Editora Nacional, 1959) foi um sucesso, e é um livro de história econômica." O livro de Furtado é um exemplo de abordagem tradicional, preocupada com transformações estruturais.
Hoje, vive-se um momento eclético. Tanto a nova história (como "História da Vida Privada no Brasil", que terá seu terceiro volume, sobre o século 20, lançado neste mês) como textos clássicos (o recém-publicado "José Bonifácio - Projetos para o Brasil", org. Miriam Dolhnikoff), ou mesmo obras de não-historiadores, visando a divulgação ("História do Brasil", de Jorge Caldeira, que foi best seller no país), estão chegando às livrarias e atraindo os leitores.
Mas não são todos os que acreditam nesse interesse renovado pela história. Na contramão, encontram-se os que acham que o interesse é superficial. Como o historiador José Murilo de Carvalho: "Gostaria de ser convencido de que existe um interesse do grande público. É claro que estão reeditando textos importantes, mas é num círculo de acadêmicos".
(SYLVIA COLOMBO)



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