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+ Comportamento
A rainha envergonhada
Correspondente do jornal "New York Times" em Londres, a americana Sarah Lyall atualiza estereótipos sobre os britânicos
Pierre-Philippe Marcou-4.jul.08/France Presse
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A cantora britânica Amy Winehouse bebe durante concerto na Espanha
PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES
Os britânicos têm os
dentes ruins, uma
comida terrível
(que está melhorando, é verdade),
são tão travados em relação a
sexo que só se referem a ele
com nomes bobos e bebem
muito, muito mesmo, para serem corajosos -ou estúpidos.
O ataque, ainda que com doses de afeto, não vem de fora,
mas de uma norte-americana
"infiltrada" desde 1995 no Reino Unido. Casada com um editor britânico e mãe de duas garotinhas com quem insiste em
falar "em americano" (e não
em inglês), Sarah Lyall é correspondente do "New York Times" em Londres e escreveu
um livro sobre seus moradores.
Em "The Anglo Files" (Arquivo Anglo, W.W. Norton, 256
págs., US$ 24,95, R$ 48), a repórter usa uma mistura de experiência pessoal, pesquisa e
opinião para traçar um perfil
do que é a vida no Reino Unido.
O livro defende que uma porção de clichês sobre os britânicos, são no fundo, verdadeiros.
"A comida está melhorando,
era muito pior quando cheguei,
há 13 anos. Você não tinha como conseguir um almoço decente. Todas as lojas de sanduíche fechavam às 14h e todas tinham aqueles recheios nojentos na vitrine, como salada de
ovo. Ainda é ruim, mas agora
está bem melhor. Mas eles
realmente têm dentes horríveis", disse Lyall, em entrevista
na sede londrina do "New York
Times", a poucas quadras do
palácio de Buckingham e do St.
James Park, numa das regiões
mais valorizadas da cidade.
Após esses 13 anos, ela não
tem dúvidas: "[Os ingleses] bebem tanto porque são reprimidos e, quando bebem, se comportam de maneiras que jamais
se comportariam. Isso ajuda alguns a serem mais corajosos,
outros a serem mais estúpidos.
Não têm o tipo de cultura em
que é aceitável beber um pouco
de vinho no jantar. A cultura
toda gira em torno de ficar totalmente acabado, beber tanto
quanto conseguir até passar
mal", diz ela, rindo.
Mas todo mundo?
"Não todo mundo. Mas as
pessoas aqui, em geral, bebem
mais do que lá em casa (nos
EUA). Você vai a um jantar
aqui, as pessoas bebem muito
mais, elas não prestam atenção, não são cuidadosas nem
querem ser. Não cuidam de sua
saúde como os americanos cuidam, e isso tem a ver com os
dentes também. Não são vaidosas, não estão interessadas em
ficar bonitas, acham que nossos dentes são muito brancos,
muito falsos", completa.
Humor britânico
O sexo é outro ponto de ataque de Lyall, casada desde 1995
com o escritor e editor britânico Robert McCrum, do "Observer", versão dominical do
"Guardian".
"Só acho que não seja um
país sexual. Enquanto os franceses fazem sexo, os ingleses
têm bolsas de água quente, dessas que você põe ao seu lado na
cama para ficar quente. Talvez
porque seja um clima escuro,
frio. Eles têm vários eufemismos para sexo, tentando transformá-lo em uma coisa boba. É
menos romântico e mais engraçado", afirma.
Mesmo o celebrado humor
britânico não escapa da mira de
Lyall, apesar de essa ser uma
das poucas características que
ela de fato elogia.
"Eles usam muito o senso de
humor para afastar qualquer
tentativa de conhecê-los melhor", diz, antes de falar que
adora esse tipo de humor. "Os
norte-americanos têm um senso de humor muito direto, e os
ingleses são muito irônicos,
com várias camadas de significados diferentes."
O curioso é que, ao conhecer
Lyall, fica claro que ela mesma
se encaixa em vários estereótipos atribuídos aos norte-americanos pelos britânicos e pelo
resto do mundo.
Loira, olhos azuis, cabelo estilo chanel, ela fala alto e tem
aquela simpatia que parece
quase forçada de tão efusiva.
"Quando os americanos viajam, a gente sempre se sente
como um cachorro barulhento
e desastrado, falando alto, gesticulando, fazendo perguntas
embaraçosas, falando tudo de
modo muito direto", diz Lyall,
sobre a visão que ela acredita
que os seus vizinhos têm dela.
"Sou muito americana e vou
muito para os EUA, tento ensinar "americano" para as minhas
filhas o máximo possível. Falo
"garbage" em vez de "rubbish"
[duas palavras para lixo] e
"pants" em vez de "trousers"
[calças], essas coisas. Elas reclamam", diz.
Harold Pinter
A relação entre o antigo império e o atual, avalia, não é das
melhores.
"Eles têm uma relação muito
complicada com a América, são
ciumentos e invejosos. Mas ao
mesmo tempo são muito ressentidos do poder americano e
de sua influência cultural. E
acho que, quando vão para a
América, eles adoram os grandes espaços e a abertura das
pessoas", afirma Lyall, que,
apesar de todas as críticas, nutre uma relação de afeto com o
país onde vive.
Em sua sala, onde tem um
aparelho que simula a luz do sol
("porque nunca há luz suficiente, mesmo nos dias ensolarados"), ela admite que o principal entrave hoje é a política externa desastrada do governo
George W. Bush, que ela não
apóia e já lhe rendeu ao menos
uma situação desagradável.
"Algumas vezes pedem que
você explique a política externa
de seu país, o que é muito difícil. A maioria separa o governo
americano dos americanos,
mas uma vez encontrei Harold
Pinter [dramaturgo, Prêmio
Nobel de Literatura em 2005] e
ele odeia os americanos, porque ele odeia a política externa
americana. É uma coisa só."
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