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O filósofo da GASTRONOMIA
Santi Santamaria fala
sobre identidade cultural e
autonomia política
e defende a aliança
entre prazer
e consciência social
CARLOS ALBERTO DÓRIA
JOANA MUNNÉ
ESPECIAL PARA A FOLHA
Santi Santamaria, catalão, 47
anos, formado em desenho de
projetos, artista plástico amador, fanático por cinema, foi o
primeiro espanhol a receber três estrelas do "Guia Michelin" por seu
restaurante El Racó de Can Fabis,
em Sant Celoni, a 50 quilômetros de
Barcelona. É também diretor gastronômico do restaurante Santceloni,
do Hotel Hesperia Madrid, uma estrela no "Guia Michelin", condecorado com o Prêmio de Excelência
Turística Gastronômica de 2004 pelo evento gastronômico "Madrid
Fusión".
No ano passado comemorou os
seus dez anos ininterruptos de três
estrelas no Michelin. Ele é considerado um dos grandes responsáveis
pela projeção da Espanha no panorama gastronômico internacional.
Ao contrário de seus colegas de
profissão que hoje partem para uma
cozinha de "desconstrução", Santamaria é partidário de trabalhar o ingrediente com a mínima manipulação, criando assim a cozinha catalã
moderna com raízes na identidade
culinária e cultural da sua região.
Além de renomado chef, é considerado um intelectual da cozinha, o
que se pode constatar por seus livros
e artigos semanais para o jornal catalão "La Vanguardia". À época do
Fórum das Culturas em Barcelona [9
de maio a 26 de setembro de 2004],
ele liderou um manifesto assinado
por 111 cozinheiros, em que reivindicava para a cozinha o status de patrimônio cultural e a devida atenção
por parte do Estado, além de advertir para os riscos da homogeneização decorrente da globalização e para a ameaça representada pela miséria. Indicava também a necessidade
de articulação da culinária com a
agricultura sustentável.
É autor de "La Cocina de Santi
Santamaria - La Etica del Gusto" [A
Cozinha de Santi Santamaria - A Ética do Gosto, Everest, Espanha,
1999], "El Gusto de la Diversidad"
[O Gosto da Diversidade, ed. Everest, Espanha, 2001] e outros.
Avesso a ministrar aulas, cursos e
palestras, Santamaria concedeu esta
entrevista à Folha em sua rápida visita ao "Madrid Fusión" para receber a homenagem prestada ao seu
restaurante.
Folha - A Catalunha tem um papel
fundamental para a cozinha ocidental. Foi a partir dela, por exemplo, que
se difundiu o forno romano após a
Idade Média. É também na Catalunha
que surge um dos primeiros livros de
culinária ocidental [o receituário de
Sent Soví, de princípios do século 14].
Hoje, é a partir dela que se dá o movimento de renovação da cozinha ocidental, tendo nomes como Ferran
Adrià como expoente. Como se explica essa trajetória?
Santi Santamaria - É uma trajetória
fantástica. A cozinha catalã chega à
corte francesa porque se entendia
àquela época que os grandes cozinheiros do mundo eram catalães.
Uma cozinha que se levou para a
corte, no Vaticano, para os papas,
especialmente Pio 6º [1775 a 1779].
Isso coincidia com a expansão dos
catalães pelo Mediterrâneo.
Nós não éramos conquistadores
armados, mas sim conquistadores
por meio do comércio, especialmente ao longo dos séculos 13 e 14. Claro,
toda essa potência logo é obstaculizada por mil guerras, crises, uma decadência enorme, nossa anexação à
Espanha; enfim, um sufocamento e
perda de liberdade que, ao longo dos
séculos, a Catalunha não conseguiu
recuperar.
Creio que agora há uma oportunidade importante que coincide com a
nova reestruturação da Europa e,
além disso, após uma ditadura de 40
anos, com a morte do ditador [Francisco Franco, em 1975], a Espanha
volta a florescer. Esse florescimento
se dá nas artes em geral, em especial
na Catalunha, onde há uma sensibilidade extrema para a arte moderna
e um compromisso forte com a manutenção da cultura própria.
Também a cozinha, que está vivendo uma reorientação doméstica,
apresenta uma explosão muito forte.
Os restaurantes "classistas" para
banqueiros, políticos, que só existiam na época do ditador e que não
podiam ser freqüentados pela gente
"normal" por razões políticas ou
econômicas, estão hoje superados e
se socializaram e popularizaram.
As barreiras de renda continuam
existindo, é claro. Mas alguém pode
ir uma, duas vezes a um restaurante
sem que haja qualquer coisa que lhe
seja proibido.
Com a democracia, deu-se a igualdade, e as pessoas sabem que, ao
irem a um restaurante, desde que
ponham os seus euros na mesa, receberão o mesmo tratamento que alguém que está ao seu lado e que pode ser um ministro ou o presidente
de um banco. Antigamente não era
assim, e as pessoas que não tinham
um alto status social ou político se
sentiam rechaçadas inclusive por
um padrão de serviço que, embora
educado, levava muito em conta o
status do cliente.
Folha - E por que isso se dá especialmente na Catalunha?
Santamaria -De modo nenhum! Isso se dá em toda a Espanha. Em Madri, por exemplo. Como no meu restaurante [Santceloni, no Hotel Hesperia Madrid], que sem dúvida tem
um certo impacto e está voltado para
a gastronomia. As pessoas vão a ele
pela cozinha, não pela importância
social. Claro que há um componente
social, mas o "leitmotiv" da casa é a
gastronomia. Assim, estamos diante
de um tema cultural mais do que social, diante de uma nova sensibilidade diante da cozinha.
Folha - E por que se dá na Espanha
essa transformação da sensibilidade
culinária? Comparemos à França, por
exemplo. Tome-se o chef Paul Bocuse.
Ele é uma pessoa de perfil "imperial",
mas, sem dúvida, é um trabalhador
da cozinha que está à frente do seu
restaurante. E a imprensa sempre lhe
cobrou esse "estar à frente" como um
trabalhador manual, ao passo que na
Espanha parece haver uma abordagem mais intelectual da cozinha, uma
colaboração mais estreita entre intelectuais que pensam a cultura e os cozinheiros propriamente ditos.
Santamaria - Bocuse simboliza
uma época e se deve a ele a conquista
de que o cozinheiro possa sair da cozinha e adentrar o salão. Antigamente o cozinheiro não freqüentava
o salão. A partir da geração de Bocuse, considera-se o cozinheiro como o
autor. E Bocuse continua sendo uma
referência muito importante.
Folha - Mas é inegável a importância de que a "Madrid Fusion" se faça
na Espanha e não na França. Os franceses que desenvolvem pesquisas
inovadoras também estão aqui e são
os que mais protestaram contra a matéria do "New York Times"...
Santamaria - Todo mundo continua indo aos restaurantes em Paris.
Nós ficaríamos felizes se tivéssemos
um público que fosse 10% do público dos restaurantes de Paris. Veja
bem, estou dizendo só de Paris, não
de toda a França (risos).
Folha - O sr. estabeleceu uma relação entre o clima de liberdade e a criatividade gastronômica...
Santamaria - Sim. Esse é um aspecto essencial. Além disso, nós temos
uma grande despensa. Uma geografia que nos brinda com grandes produtos. Não se pode esquecer nunca
isso, pois falar de cozinha exige que
se considere essa despensa, essa geografia e seus produtos que são a base
de uma grande cozinha.
Nossa cozinha é possível por isso,
pois há o Mediterrâneo, há as trufas,
a enorme variedade de produtos disponíveis no mercado, em toda parte.
Além disso, conseguimos do mesmo
modo manter a diversidade de culturas das quais derivam as cozinhas
que enriquecem o panorama espanhol. A diversidade de culturas, não
só a catalã, responde por essa pujança. Os castelhanos, os galegos, os
bascos, todos têm suas tradições culturais e culinárias distintas.
Folha - Então a culinária é um traço
de identidade vital na Espanha?
Santamaria - Sem dúvida! Para
mim, a questão da identidade se
apóia primeiramente na língua e, logo em seguida, na culinária. Cada
país apóia aí a sua riqueza. Perder
um idioma é perder uma riqueza
muito grande. O mesmo com a culinária. Perder pratos tradicionais,
com histórias de elaboração que às
vezes têm mais de 600 anos, perder
uma forma de cozinhar é uma perda
muito grande para um país e para
uma nação. A tendência à homogeneização, à uniformização, é um perigo enorme. Ao final, teremos robôs em vez de pessoas.
Quando você abre um pacote de
algo industrializado, uniformizado,
o que temos é uma pasteurização.
Onde está o respeito aos agricultores, aos pescadores, aos açougueiros,
aos artesãos?
Nossa cultura se baseia no artesanato, no respeito a técnicas ancestrais, à manipulação correspondente
e em um sentimento também. Um
artesão, quando manipula os ingredientes, sabe perfeitamente o que está fazendo e que o faz para umas tantas pessoas que têm nome e sobrenome. Está pensando nas pessoas
que irão desfrutar, na felicidade que
trará para elas; acho que é justamente por meio da cozinha que se pode
transladar a personalidade, o caráter
e o estilo de uma localidade. Nesse
sentido, nós do Mediterrâneo somos
apaixonados pelo viver bem.
Folha - E por que o sr. sentiu necessidade, nesse contexto, de liderar o
Manifesto Internacional da Cozinha,
assinado por 111 cozinheiros?
Santamaria - Naquela época havia
o Fórum das Culturas em Barcelona
e, normalmente, sempre há coisas a
dizer. Os cozinheiros, pelo prestígio
que possuem graças aos meios de
comunicação, têm também uma
obrigação social, especialmente de
apontar algumas questões que precisam ser debatidas para que as coisas
melhorem do ponto de vista geral.
Há aspectos da alimentação que, ao
invés de melhorar, andam piorando.
Então, alguém tinha que dizer algo. Afinal, sou cozinheiro e cidadão
e não posso aceitar, por exemplo, fazer publicidade para uma empresa
agroalimentar que esteja provocando danos ambientais, sociais; fazer
publicidade de um produto no qual
eu não acredite e que não possa oferecer aos clientes que venham ao
meu restaurante.
Estou aqui no "Madrid Fusion",
por exemplo, e vejo alguns anúncios
de patrocinadores que realmente me
deixam incomodado... Estamos em
contradição. Alguém tem que dizer
alguma coisa a respeito, não é? Esse
foi o sentido do manifesto, o de chamar a atenção para aquilo que a globalização põe em risco.
Folha - Já que falamos em contradição, o que, na sua opinião, aconteceu
entre os chefs bascos e o governo de
Madri? Qual o sentido do ocorrido?
Santamaria - A questão da violência é sempre uma má questão. Sou
incapaz de matar um coelho para
preparar um prato. Sou 100% não-violento. Mas sou também um catalão que aspira à máxima liberdade
possível para manter e expressar a
sua identidade, para que o consenso
da Catalunha possa progredir em
consonância com a Europa unida.
Por isso posso entender perfeitamente o que se passa no País Basco,
do ponto de vista nacionalista.
Respeito as identidades que conseguiram se manter ao longo dos séculos de opressão. O Estado é uma configuração política, uma organização
que se baseia essencialmente em estratégias econômicas, sendo que, para mim, o importante são as culturas. Essas culturas milenárias merecem uma especial atenção hoje,
quando o mundo está sofrendo o
processo de globalização.
Por outro lado, também devemos
estar de acordo em que, em uma Europa progressista, a violência não
tem lugar. Não se pode abandonar a
razão, a vontade de dialogar, de falar. Deve ser assim nos parlamentos
autônomos, nos Parlamentos nacionais e nas instâncias superiores, como as Nações Unidas.
Eu não gostaria de entrar em temas políticos, mas o que ocorreu
com os chefs bascos me parece que
foi uma situação na qual estavam interessados os setores conservadores
que querem boicotar tudo o que se
refira ao tema basco.
Como os cozinheiros funcionam
com estandartes da cultura basca, o
que se fez foi encontrar uma maneira de atacá-los, tendo-se em conta
que assim se atacava o senhor Juan
José Ibarretxe [presidente do País
Basco, cujo plano de autonomia,
aprovado pelo Parlamento local,
prevê um plebiscito para decidir sobre a permanência na Espanha] e
seu plano de soberania, se opondo a
tudo o que é basco.
Os cozinheiros bascos são verdadeiros embaixadores do seu país.
Eles fazem um trabalho impressionante e por isso são merecedores de
um respeito e um carinho enorme
por parte de todos.
Esse ataque foi também contra
pessoas que são minhas amigas, e o
que eu fiz foi mandar, a cada um dos
quatro [Martin Berasategui, Juan
Mari Arzak,
Juan Pablo Subirana e Karlos
Arguiñano],
uma carta pessoal de solidariedade. Mas reconheço que é
uma situação
em relação à
qual podemos
fazer muito
pouco, pois é
um tema que
precisa ser resolvido a partir
da própria sociedade basca
diante das relações de Estado.
Qualquer coisa
que façamos de fora é uma ingerência indevida. Não posso admitir, por
exemplo, que os bascos venham a
ter ingerência no novo estatuto catalão que está em discussão.
Ninguém
mais tem tempo
de se emocionar
com umas verduras
assadas,
um frango caipira...
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Em relação a eles é o mesmo. Assim, temos que nos respeitar mutuamente e, por isso, me sinto solidário
com eles, pois sofreram o ataque a
uma cultura histórica.
Folha - Como lhe parece que se dá
hoje a tensão entre nacional e global,
entre tradição e modernidade? Seus
escritos se debruçam sobre esses aspectos incidentes sobre a culinária.
Santamaria - Não se pode ser universal se deixamos de ser locais. Para
que um artista seja universal, precisa
partir de suas próprias raízes. A interpretação, a visão que tenha da
realidade, de como a plasma intelectualmente -seja em artes plásticas,
em música ou em cozinha-, é um
tema muito subjetivo. Tudo está em
razão da beleza. Algo é belo para alguém, horrível para outro. Então essa subjetividade está muito ligada à
sua maneira de entender a vida e
compreender a sua própria cultura.
As culinárias populares em toda a
Espanha são bastante singulares, diferentes da cozinha "quase oficial",
digamos assim. As cozinhas autóctones conservaram-se muito humildes, e, hoje, muitos grandes cozinheiros se fixam, por exemplo, numas "migas" (prato à base de miolo
de pão), num "gazpacho" ou num
determinado guisado, que são reinterpretados e dispostos em mesas de
grande luxo, de grande cozinha, por
um autor conhecido, moderno.
Acho que isso é bastante positivo,
sempre e quando se possa reconhecer que se comem "migas".
Quando éramos pequenos, nos diziam que chegaria um dia no
qual comeríamos como os
astronautas
-pílulas- e
quase chegamos a isso! Isso
é brutal e enfadonho, dentro
da nossa própria cultura. Especialmente
tendo em conta
que utilizamos
a mesa para nos
comunicar, e
não apenas para comer. A comida é um pretexto para a comunicação entre as pessoas. O ponto de convergência que a mesa proporciona é o essencial.
Folha - E o sr. crê que a postura que
hoje se observa diante das cozinhas
tradicionais é distinta daquela que se
tinha ao tempo da nouvelle cuisine?
Santamaria - O que temos que perguntar sempre, à mesa, é se gostamos ou não gostamos do que comemos. E essa é uma questão instintiva.
Em cozinha, quanto mais você busca algo transcendental, menos o alcança. A cozinha é um pouco de estado de ânimo também, pois numas
épocas determinadas as coisas fluem
de um modo e, em outras, fluem de
outra maneira.
Então, para mim, creio que a cozinha dita experimental [a cozinha de
Ferran Adrià] tem o defeito de que,
quando os comensais se sentam à
mesa, parece que o chef está perguntando: "E você o que sente? Diz o que
sente!". Ora, não faz sentido que,
além de ter que pagar, alguém tenha
que confessar o que sente! (risos).
As pessoas são pressionadas todos
os fins de mês. O estresse é insuportável. Um espaço de liberdade que
temos, que é à mesa, não deve ser
tratado assim, como se tivéssemos
semáforos diante de nós, gente a nos
dizer como devemos comer. Deixem-nos em liberdade! E deixem
também os sentidos em liberdade!
Não se pode condicionar o comer.
O cidadão de hoje está vivendo um
enorme sofrimento, uma tortura
psicológica bestial. O barulho, o
tempo, o estresse. Tudo isso produz
uma contradição em relação ao que
o homem moderno gostaria de viver, de sentir e o que ele deve possuir. O consumo, o comprar, comprar, comprar... está nos convertendo em seres irritados. As pessoas vivem irritadas, sem tempo para nada,
para sentar à
mesa, para comer, para conviver. E temos
uma cozinha
que reflete esta
irritação.
Nós,
cozinheiros,
fazemos hoje
aquilo
que os filósofos
faziam
no passado
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Ninguém
mais tem tempo
de se emocionar com umas
verduras assadas, um frango
caipira... Os homens irritados
necessitam de
êxtases mentais, necessitam de êxtases culinários. Por quê? Porque temos que criar sempre novas necessidades. Em outras palavras, o problema não é culinário, mas do homem,
da sociedade que vive irritada, crispada. O cidadão está comendo e está
vendo crianças mortas na televisão,
está vivendo misérias e pegando o
seu garfo como se nada se passasse.
Folha - Por outro lado, é a primeira
vez na história em que a gastronomia
assume um papel tão central na vida
do cidadão. E isto não está acontecendo apenas num círculo aristocrático.
Santamaria - Sim. E por quê? Porque mataram a mãe, mataram a avó.
Vamos em breve matar a vizinha, e,
ao final, não haverá quem cozinhe.
As pessoas continuarão com a necessidade de encontrar coisas boas,
mas quem irá fazê-las? Todo mundo
lembra das avós, daqueles canelones
maravilhosos! Então ficam vendo
programas de culinária, comprando
montanhas de livros de cozinha que
não servem para nada, que são todos
copiados uns dos outros.
Depois, vão ao supermercado e
compram uma quantidade absurda
de alimentos como se estivéssemos
às vésperas da terceira guerra mundial! Têm suas casas repletas de latas,
para que, quando venham os amigos, possam abri-las. Afinal, cozinham muito pouco...
Essa necessidade se transformou
num fenômeno coletivo, e hoje o
mundo da alimentação move não sei
que porcentagem da economia, e,
depois do petróleo, é o principal negócio. Nesse mundo, as pessoas não
vendem alimentos, vendem embalagens plásticas, produtos industriais.
Em contraste, queremos um mundo
mais natural, sustentável, e cada vez
estamos fazendo mais porcaria!
Esse é o âmago da questão.
O cidadão, o
homem moderno, está dirigido
pelo consumo.
Não estamos
primando pelo
cultivo dos verdadeiros valores -ou dos
valores culinários, como é a
produção artesanal, por
exemplo.
Folha - Nesse
mundo assim
descrito, qual o sr. acha que é o papel
do chefe de cozinha?
Santamaria - Nós, cozinheiros, somos os novos filósofos. Somos os filósofos da atualidade porque estamos lidando permanentemente
com as relações entre as pessoas,
com a ética e com a relação com a
natureza, de uma perspectiva sustentável. Nós fazemos, hoje, aquilo
que os filósofos faziam no passado.
Folha - Qual o sr. acha que é o futuro
da gastronomia? Ferran Adrià disse
certa vez que via esse futuro em países como a China e o Brasil.
Santamaria - Não vejo nada disso.
Vejo o futuro nas mães e nas avós. É
preciso ressuscitá-las. Urgentemente. É preciso que se dê um grito do tipo "Lázaro! Levanta-te e anda!" (risos).
Carlos Alberto Dória é sociólogo e escreve
regularmente sobre gastronomia na revista
eletrônica "Trópico".
Joana Munné é formada em filologia catalã
e é consultora gastronômica.
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