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RISCO NO DISCO
Tela de tule
LEDUSHA SPINARDI
Meu olho esquerdo palmilha a agenda sólida na
terça-feira esguia como um
peixe. O outro recorta, costura, suspira. Sem saída, escreve. Cigarra tardia, desaba a sobriedade do outono:
nenhuma amendoeira surda a intimida. É quase possível tocar o perfume das
folhas, loucas feito letras
para serem ditas. Na tênue
tela de tule garças e estrume
exibem galharda harmonia.
Falo de anéis, tanto sangue
inútil, formigas e estampidos quase beijos. Sem pudor a palavra exerce seu poder, ceia celeste sem data
ou fronteira. Com ela faço o
que posso, face a face com o
inefável. Exprimo talhos,
múltiplos prismas, fontes
de ânsia indevassável.
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