São Paulo, Domingo, 06 de Junho de 1999
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RISCO NO DISCO

Tela de tule

LEDUSHA SPINARDI

Meu olho esquerdo palmilha a agenda sólida na terça-feira esguia como um peixe. O outro recorta, costura, suspira. Sem saída, escreve. Cigarra tardia, desaba a sobriedade do outono: nenhuma amendoeira surda a intimida. É quase possível tocar o perfume das folhas, loucas feito letras para serem ditas. Na tênue tela de tule garças e estrume exibem galharda harmonia. Falo de anéis, tanto sangue inútil, formigas e estampidos quase beijos. Sem pudor a palavra exerce seu poder, ceia celeste sem data ou fronteira. Com ela faço o que posso, face a face com o inefável. Exprimo talhos, múltiplos prismas, fontes de ânsia indevassável.


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