São Paulo, domingo, 06 de julho de 2008

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Decadência armada

Autor de estudo sobre as Farc, Pascal Drouhaud diz ser precipitado prever o declínio da guerrilha após libertação de Ingrid

MARIE SIMON

As condições da libertação de Ingrid Betancourt revelam a existência de graves erros de funcionamento" no interior da guerrilha colombiana, explica Pascal Drouhaud, autor de "Les Farc - Confessions d'un Guérillero" (As Farc - Confissões de um Guerrilheiro, ed. Choiseul, 20) e especialista na situação colombiana. "A Colômbia vive um momento histórico."  

PERGUNTA - Qual foi sua primeira reação à libertação de Ingrid?
PASCAL DROUHAUD
- Antes de mais nada, é claro, sinto uma alegria imensa. Ingrid Betancourt passou mais de seis anos prisioneira. Seis anos de sofrimento e angústia.

PERGUNTA - Ingrid Betancourt se converteu em uma espécie de ícone. O que sua perda representa para as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia)?
DROUHAUD
- Os guerrilheiros perderam uma refém emblemática, que lhes proporcionava visibilidade internacional.

PERGUNTA - O interesse nacional e a pressão decorrente dele, de certa maneira, irão diminuir?
DROUHAUD
- Creio que não. A situação colombiana não interessa apenas pelo caso de Ingrid Betancourt. As Farc ainda mantêm cerca de 800 reféns e integram a lista internacional de movimentos terroristas. Acredito que a comunidade internacional compreendeu que, para conseguir uma paz durável na região, é indispensável solucionar o conflito interno colombiano.

PERGUNTA - Vários dos líderes das Farc caíram nos últimos meses. É o anúncio crônico de seu fim?
DROUHAUD
- A fase ruim continua, de fato. As condições da libertação de Ingrid Betancourt traem a existência de graves erros de funcionamento interno [um agente infiltrado conseguiu agrupar 15 reféns e levá-los para fora, fazendo os guerrilheiros acreditar que se tratava de uma simples transferência de prisioneiros de um local para outro]. As tropas e o comando têm dificuldade de se comunicarem, e essa dificuldade tem conseqüências operacionais.
E o movimento está infiltrado em seu mais alto nível, como mostraram as operações que custaram a vida a Ivan Rios e Raúl Reyes [líderes das Farc mortos neste ano].
A guerrilha corre grande risco de se desarticular sob a pressão acentuada e muito precisa do Exército colombiano. Vemos aqui os resultados da política de segurança e de reforço do Exército implantada pelo presidente Álvaro Uribe a partir de 2002. Portanto, o momento é difícil para as Farc, mas é preciso prudência, pois o grupo ainda conta com vários milhares de homens armados e habituados a viver na clandestinidade.

PERGUNTA - Uribe conquista uma vantagem após outra. Ele vai seguir adiante com essa política?
DROUHAUD
- Ele pode levar sua vantagem adiante, em vista do sucesso de sua política. Com uma vantagem tão grande, também pode se permitir o luxo de não responder à reivindicação das Farc de obterem o estatuto de beligerantes, de não figurarem na lista dos movimentos terroristas. Acho que o governo colombiano está muito longe de reconhecer a dimensão política das Farc.

PERGUNTA - Uribe pediu às Farc que libertem os outros reféns e aceitem fazer a paz. Como elas podem reagir, enfraquecidas que estão no momento atual?
DROUHAUD
- Caberá a Alfonso Cano, o novo e muito pragmático chefe do grupo, responder a esse golpe enorme sofrido. Em todo caso, a libertação desses 15 reféns abre o caminho para um processo que pode levar à região uma paz durável. Estamos vivendo um momento histórico e inédito para a Colômbia.


Este texto foi publicado no "L'Express". Tradução de Clara Allain .

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