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Biblioteca básica
Os Moedeiros Falsos
SILVIANO SANTIAGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Há um lado autobiográfico nesta escolha, o primeiro grande romance contemporâneo que li,
"Os Moedeiros Falsos", de André Gide, pois eu
estava, até os 16, 17 anos, direcionado à crítica
cinematográfica.
Gide dramatiza o relacionamento entre escritores na
Paris dos anos 1920. "Moedeiros falsos" é a metáfora para
aqueles escritores que passam a moeda falsa da cultura
em lugar de passar a boa moeda. Há uma crítica velada,
por exemplo, a Tristan Tzara, do movimento dadá, e ainda a Jean Cocteau.
Não existe retrato de vida literária mais complexo e rico. A relação entre gerações, entre o jovem que se quer escritor e o escritor estabelecido, está magnificamente dramatizada em Eduardo, alter ego de Gide, e os personagens Bernardo e Olívio. É uma das narrativas que melhor
desconstroem a narrativa tradicional realista-naturalista.
Ele opta por dar ao romance a forma de uma fuga de
Bach, uma estrutura romanesca musical, na mesma linha
em que depois Érico Veríssimo traduziria "Contraponto" (de Aldous Huxley) e escreveria "Caminhos Cruzados" (1935).
Em 1970, soube que havia um manuscrito de Gide no
Rio. Tratava-se das 30 primeiras páginas dos "Moedeiros
Falsos". Li o manuscrito, e essa leitura possibilitou que eu
tivesse o fundamento de minha tese de doutorado, defendida na Sorbonne. O proprietário anos depois leiloou o
manuscrito, que hoje está no Museu Britânico.
Silviano Santiago é crítico literário. Acaba de lançar "Ora (Direis) Puxar Conversa!" (ed. UFMG).
A obra
"Os Moedeiros Falsos", de André Gide. Tradução de Álvaro Moreyra. Editora Vecchi (esgotado).
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