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Intelectuais em desfile
"A Nova Configuração Mundial do Poder" reúne artigos publicados nos últimos
16 anos
na revista "Política Externa"
Mauricio Lima - 18.set.08/France Presse
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Meninos brincam na ponte que liga Brasiléia (AC) à cidade boliviana de Cobija
VINICIUS MOTA
EDITOR DE OPINIÃO
O periódico "Política
Externa" começou
a circular numa
época trepidante.
Era 1992, e o colapso da União Soviética ainda
se contava em meses. No Brasil, o ano marcou o impeachment do primeiro presidente
eleito nas urnas após a restauração democrática.
A revista surgiu da iniciativa
de um grupo de intelectuais
concentrado em São Paulo, alguns com conexões político-partidárias -no PSDB ou no
PT-, que se reuniu em torno
do editor Fernando Gasparian,
da Paz e Terra, morto em 2006.
Os artigos editados na coletânea "A Nova Configuração
Mundial do Poder", publicados
ao longo dos últimos 16 anos na
revista, refletem essa dupla
transformação.
Muda o mundo, e muda a
maneira tradicional de pensá-lo no Brasil. Alteram-se também os intelectuais com peso
de influenciar os destinos da
política externa brasileira.
Dispostos em ordem cronológica de publicação, os artigos
compõem um panorama das
sucessivas preocupações que
ocuparam a agenda da macropolítica internacional.
Desfilam temas como os limites do poderio americano logo após a derrocada socialista;
o avanço do livre comércio e o
advento da Organização Mundial do Comércio; a mundialização das empresas e das finanças e seu impacto sobre a
soberania nacional; as conseqüências do 11 de Setembro, da
Doutrina Bush e da invasão do
Iraque; a ascensão da China e
dos Brics; e as tentativas de firmar um pacto contra o aquecimento global.
A edição também envereda
pelos temas e pelas questões
que demandam atenção mais
imediata da política externa
brasileira. Nesse flanco estão
suas contribuições mais significativas.
"Conflitos de interesse"
O livro não permite traçar
um quadro balanceado das mudanças por que passaram a
doutrina e a prática da diplomacia nacional no período
abrangido. Faltam, para tanto,
uma análise e/ou uma defesa
sistemática das opções tomadas pelo governo Luiz Inácio
Lula da Silva.
O artigo assinado pelo próprio Lula, como candidato à
Presidência em 1994, é curto e
circunstancial. O texto de Celso
Amorim, mais de oito anos depois, trata das afrontas ao multilateralismo e ao sistema da
ONU contidas na doutrina dos
ataques preventivos.
Já alguns artigos de autores
associados ao governo de Fernando Henrique Cardoso são
bem mais elucidativos a respeito dos padrões e dos conceitos
que foram sendo adotados na
política externa.
Celso Lafer, em texto publicado em 1998, dá o tom.
O que restou em matéria econômica no mundo de hoje -diluídos os embates entre concepções ideológicas- são "conflitos de interesse", argumenta
Lafer, que foi chanceler de Fernando Henrique Cardoso. Cabe
aos Estados o papel da "intermediação interna e externa
desses conflitos de interesse".
Acordos amplos firmados
por consenso, baseados na confiança entre os países, amparados na transparência e em mecanismos formais de solução de
controvérsias seriam o caminho virtuoso dessa globalização. Daí a importância, em especial para o Brasil, de instituições como a Organização Mundial do Comércio.
Interesse, comércio, negócios; credibilidade, respeito a
contratos e a instituições; aceitação e valorização das regras
de mercado. Esse feixe de conceitos norteou a reconfiguração por que passou a política
externa -e a política pública de
modo geral- brasileira nos
anos 1990.
O fim da Guerra Fria e a democratização do país concorreram para destronar as forças, à
direita e à esquerda, que resistiam à abertura, em nome de
um modelo autárquico, nacionalista, de desenvolvimento.
Pessimismo
Soçobrou, nessa reviravolta,
o pessimismo da Cepal -o órgão da ONU para a América Latina que abrigou a esquerda
perseguida pelas ditaduras do
continente.
"A visão pessimista para induzir à ação", escreve no livro
Albert Hirschman, professor
da Universidade Princeton e
decano dos estudos sobre desenvolvimento comparado,
"havia conseguido difundir o
pessimismo mais do que incitar
à ação".
Porque disfarçava, acrescento, num palavrório dito estruturalista, pedante às raias do
insuportável, seu inconformismo com o mercado e a esperança distante, quase religiosa, numa transformação profunda da
sociedade.
O próprio Fernando Henrique Cardoso escreve um dos últimos -e mais recentes, portanto- artigos publicados na
coleção.
O propósito é mostrar como
seu influente estudo cepalino
de 1967 -"Dependência e Desenvolvimento na América Latina", escrito em parceria com o
sociólogo chileno Enzo Faletto- discrepava da vulgata das
teorias do imperialismo.
A ênfase do texto de 40 anos
atrás, escreve FHC, não foi na
"dependência" -embora a palavra tenha sido escolhida para
dar título ao livro.
O foco real teria sido "a variabilidade das formas de integração ao mercado mundial", daí
sua capacidade de explicar os
desdobramentos da história regional e os diversos caminhos
trilhados pelos países, até os
dias de hoje.
De fato, uma das características do estruturalismo é sua capacidade de explicar tudo -inclusive o seu contrário.
A NOVA CONFIGURAÇÃO DO PODER
Organizadores: Gilberto Dupas, Celso Lafer e Carlos Eduardo Lins da Silva
Editora: Paz e Terra (tel. 0/xx/11/3337-8399)
Quanto: R$ 52 (424 págs.)
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