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DUAS PERGUNTAS A DOIS ESCRITORES
1. Por que a literatura?
2. Qual é a melhor posição: crítico ou autor?
POR SILVIANO SANTIAGO
1. Foi a literatura que me surpreendeu nos anos 1950, quando cavalgava o corcel
da crítica de cinema. Abandonei a "Revista de Cinema" e entrei para o grupo
Complemento, de que fazia parte Ivan Ângelo. Obsessivo, fui cursar letras na Universidade Federal de Minas Gerais. Dei um tempo ao cinema e à arqueológica fase
de criação literária para ir a Paris escrever a tese de doutorado e, logo depois, fui
para os EUA, onde me profissionalizei como professor e crítico literário. Grande silêncio de dez anos, à imitação de Paul Valéry. Quando submergi em 1970, trazia
um livro de contos, "O Banquete". Ganhei ânimo e fui adiante com os ensaios de
"Uma Literatura nos Trópicos" (1978) e "Em Liberdade" (1981). [ambos pela Rocco]
2. Defino-me como um produtor de textos. À imitação de Mário de Andrade, Clarice Lispector, Ezra Pound, julgo que as categorias canônicas da historiografia literária foram para o brejo. Só são indispensáveis em termos mercadológicos. O crítico
ou o ficcionista? Os dois e mais alguma coisa: o poeta, o professor, o orientador de
teses etc. Todas as posições são boas, desde que reconhecida a competência. Tomo
duas colheres de semancol por dia, pela manhã e à noite. Em caso de má digestão,
abandono o que estiver fazendo por ser mera veleidade literária.
POR DAVI ARRIGUCCI JR.
1. É uma pergunta complicada, mexe com a personalidade da pessoa... Comecei
como menino a escrever contos, narrativas curtas. Interrompi por muitos anos. "O
Rocambole" eu escrevi quando tinha 16, 17 anos, mas os originais se perderam. Comecei para ser escritor. Interrompi para estudar línguas, me dedicar à formação
filológica. A literatura era por um motivo lateral. Me descobri como crítico, como
ensaísta. Mas meu ensaio é muito narrativo. Também comecei a sentir vontade
de voltar à pura narração. Achei que era hora e pretendo continuar.
2. As coisas não se colocam assim. Me identifiquei com os autores sobre quem escrevi. Procurei uma identidade de olhar, esse movimento de identificação é muito
importante. Tive grande prazer em escrever meu livro e espero que os leitores
também gostem. O ensaio é lento, depende de uma longa caminhada. Parei de escrever na minha juventude porque achei que faltava "tinta". E fiz bem. Na verdade é muito simples. Não vejo muita diferença entre os dois trabalhos. Quando encontrei Julio Cortázar [1914-1984] para meu trabalho, ele me perguntou por que eu
não estava escrevendo. Outras pessoas do metiê fizeram a mesma pergunta.
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