São Paulo, domingo, 09 de abril de 2006

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Biblioteca básica

Os Maias

JOÃO CARLOS MARTINS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os Maias", de Eça de Queiroz, é um livro que marcou grande parte da minha vida, ainda que por uma visão errada que tinha dele.
Li-o pela primeira vez aos 11 anos e fui profundamente marcado pela impossibilidade da história de um amor. Passaram-se os anos e essa história de um rapaz que se apaixona por uma irmã, sem saber do parentesco, mas acaba aceitando uma relação incestuosa e depois é deixado pela irmã, entrando numa vida frívola, continuou em minha cabeça. Não havia ficado marcada em mim a mensagem do fracasso de uma geração.
Passaram-se os anos, e, aos 25, tive meu primeiro acidente no braço. Passei então, sem voltar ao livro, a lembrar da história de amor impossível a cada vez que tinha uma história de amor com o meu piano interrompida.
Há três anos, depois que perdi definitivamente os movimentos das duas mãos e achava que tudo havia acabado, lembrava de uma frase marcante do livro: "Falhamos a vida, menino". Depois de toda a minha luta, o que sobrava era a frase: "Falhamos a vida, João". Foi então que voltei a ler "Os Maias" e descobri que é um retrato de uma época. Aos 63 anos, descobri que a mensagem do livro que havia ficado para mim não era a mensagem real de Eça de Queiroz. Vi, então, que toda a minha vida tinha sido analisada por uma frase entendida de forma equivocada. Foi então que me reinventei, mergulhando na regência, e comemoro que, por mais que tenha minha história pessoal sido marcada por um amor impossível com o piano, a frase derrotista não representa a minha vida.


João Carlos Martins é regente da Bachiana Chamber Orchestra (SP).

A obra
"Os Maias", de Eça de Queiroz. 488 págs., R$ 38. Ed. Ateliê (tel. 0/ xx/11/ 4612-9666).


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