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O espectro do marxismo
Conferência sobre "a ideia de comunismo" proposta por Alain Badiou e Slavoj Zizek é reunida em livro
LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
A luta de classes está
de volta. O espectro
de Marx reaparece
para mostrar que a
"ideia do comunismo" e sua utopia igualitária
não morreram, apesar dos desvios e dos estragos feitos a elas
pelo "socialismo real" e pelos
totalitarismos que dele resultaram. Num momento em que o
capitalismo triunfante parecia
ter definitivamente enterrado
Marx, 20 anos depois da queda
do Muro de Berlim, 15 filósofos
de horizontes distintos resolveram repensar o comunismo.
Esse "pequeno número de filósofos constitui, no mundo de
hoje, o pequeno grupo dos que
não se intimidam com a opinião dominante", escreve Alain
Badiou na apresentação do novo livro "L'Idée du Communisme" (A Ideia do Comunismo,
ed. Lignes). A obra traz as 15
exposições proferidas na Conferência de Londres, em maio
do ano passado, por iniciativa
de Alain Badiou e Slavoj Zizek.
Na apresentação, Badiou declara que tanto ele quando Zizek tinham certeza de que "repor em circulação esse velho
vocábulo magnífico, não deixar
os partidários do capitalismo
liberal globalizado imporem
um balanço pessoal de sua utilização, relançar a discussão
sobre as etapas e os desvios
inevitáveis da emancipação
histórica da humanidade toda
eram uma tarefa necessária para o que hoje se mostra dramaticamente ausente: uma independência total de pensamento diante do consenso ocidental "democrático" que apenas
organiza universalmente sua
própria e deletéria continuação
desprovida de sentido".
O filósofo Jacques Rancière
escreve: "A "crise" atual é de fato o freio da utopia capitalista
que reinou sozinha durante os
20 anos que se seguiram à queda do império soviético: a utopia da autorregulação do mercado e da possibilidade de reorganizar o conjunto das instituições e das relações sociais, de
reorganizar todas as formas de
vida humana segundo a lógica
do livre mercado".
Apresentadas em ordem alfabética, as conferências de
Alain Badiou, Judith Balso,
Bruno Bosteels, Susan Buck-Morss, Terry Eagleton, Peter
Hallward, Michael Hardt, Minqi Li, Jean-Luc Nancy, Toni
Negri, Jacques Rancière, Alessandro Russo, Alberto Toscano, Gianni Vattimo, Wang Hui
e Slavoj Zizek abordam diferentes aspectos do pensamento comunista.
O filósofo e psicanalista esloveno Slavoj Zizek conta que,
numa reunião de lacanianos
em Buenos Aires, em 2008, encontrou um grupo de psicanalistas venezuelanos, ferrenhos
opositores do regime de Hugo
Chávez. Alegavam que o presidente venezuelano fosse "violento e criminoso".
Zizek escreve: "Eles esqueciam que o regime precedente,
no qual milhões de pobres vivendo em favelas eram excluídos da riqueza gerada pelo petróleo, era, em todos os sentidos, mais violento e criminoso.
Trata-se de um exemplo claro
da maneira como a classe tangencia a visibilidade (invisível)
da violência: a brutalidade policial cotidiana para com os pobres é invisível, enquanto a menor perturbação da rotina das
classes médias é condenada como um ato de violência".
Polêmica
Inimigos de Badiou o acusaram, em fevereiro, de "terrorista de salão", "mestre perverso"
e "velho perdedor", em texto no
semanário francês "Marianne".
O filósofo francês mais lido e
comentado no mundo enche
mensalmente o enorme anfiteatro da École Normale Supérieure, em Paris. Pessoas de todas as idades se deslocam para
ouvir seu seminário sobre Platão. Mas seus inimigos não perdoam o fato de fazer ressurgir o
espectro de Marx. Ainda neste
ano, uma conferência em Berlim prolongará a reflexão sobre
a "ideia de comunismo".
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