São Paulo, domingo, 09 de dezembro de 2001

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Poeta e editor, Fabio Weintraub integra a comissão executiva da recém-lançada "Rodapé", revista que busca enfocar a produção literária brasileira atual.

A literatura brasileira contemporânea é um tema de rodapé?
Se a pergunta pretende aferir a centralidade ou a marginalidade dessa literatura no debate intelectual, a resposta deve ser afirmativa. Hoje, por diversas razões -a primazia dos meios de comunicação de massa na formação de nossa sensibilidade, a frustração da expectativa de um sistema literário etc.-, a literatura brasileira ocupa um lugar muito subsidiário na cena pública. Existem contudo tentativas de resistência crítica a esse "rebaixamento". Exemplo disso é a revista "Rodapé" (Nankin), de cuja comissão executiva faço parte. O nome escolhido para a publicação trai o desejo, sem travo nostálgico, de uma homenagem aos rodapés literários de outrora, onde militaram críticos como Mário de Andrade, Antonio Candido, Anatol Rosenfeld. Desejo de apreender as manifestações literárias contemporâneas (uma contemporaneidade um pouco mais larga que a permitida pela indústria cultural) e situá-las em relação ao conjunto da literatura nacional.

O novo ainda é vanguarda?
Não. O conceito de vanguarda tem sido usado de modo impróprio e abusivo. Hoje as manifestações literárias não possuem mais caráter programático e coletivo, a não ser quando se convertem em mera retórica publicitária.

Quais as perspectivas da crítica no país?
A crítica literária padece com a especialização-mercantilização do trabalho intelectual em meio ao consumismo pós-moderno. De um lado, há a universidade, estudando somente autores canônicos, em relação aos quais se estabeleceu o indispensável distanciamento histórico. De outro, o jornalismo cultural, desempenhando muitas vezes o inglório papel de "relações públicas" das editoras. É preciso vadear o fosso cavado pela divisão do trabalho a fim de avaliar uma série de autores que se tornaram velhos para a imprensa e jovens demais para a universidade.


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