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Lançado na França, seminário de Jacques Lacan
discute o conceito de angústia em Freud e Otto Rank
EM BUSCA DO REAL INOMINÁVEL
Elisabeth Roudinesco
para o "Le Monde"
Reservado até hoje a especialistas,
em versão transcrita por Michel
Roussan, o seminário de Jacques
Lacan sobre a angústia é o 11º a ter
seu texto estabelecido por Jacques-Alain
Miller desde 1973.
Ele próprio angustiado desde sempre,
Lacan, marcado tanto pela fenomenologia
quanto pelas grandes perguntas heideggerianas sobre a "Dasein" (a existência humana), não poderia deixar de refletir sobre
essa questão. Entretanto, para compreender sua contribuição essencial à clínica da
angústia, é preciso entender de que maneira Sigmund Freud fez esse conceito entrar
para o campo da psicanálise.
Preocupado em não se restringir às descrições clássicas, Freud começa por diferenciar a angústia do medo e do pavor. De
natureza existencial, a angústia, a seu ver, é
um estado psíquico que independe de
qualquer relação com um objeto: é uma
espécie de espera permanente que pode,
quando se torna patológica, levar a condutas obsidiantes, fóbicas ou compulsivas,
quando não a um estado melancólico.
Contrariamente à angústia, o medo sempre diz respeito a um objeto identificável.
Temos medo de alguma coisa que pode
advir: morte, separação, tortura, doença,
sofrimento, degradação física etc.
Quanto ao pavor, ele diz respeito a um
objeto indefinível. Se compararmos agora
o pavor ao medo e à angústia, constataremos que o pavor se diferencia do medo na
medida em que é suscitado por um perigo
para o qual não estamos preparados e que,
portanto, não possui objeto. À diferença
da angústia, o pavor não supõe nenhuma
espera. E pode provocar uma nevrose
traumática.
Tratando-se da angústia, Freud afirma,
para começar, que o nascimento seria o
protótipo de todas as situações de angústia. Em 1924, Otto Rank retoma essa tese
para afirmar que cada sujeito não faz mais
do que repetir, durante toda sua vida, a
história traumática de sua separação do
corpo materno. Seja qual for sua inovação,
essa teoria possui, entretanto, um inconveniente muito grande: ela corre o risco de
fazer do parto e da separação biológica um
trauma em si. Segundo esse modelo, todas
as nevroses não seriam, então, mais do que
conseqüências de uma causalidade externa ao sujeito: abusos sexuais, violências de
guerra ou domésticas, doenças etc.
Em 1926, em resposta a Otto Rank, Freud
expôs seu pensamento em "Inibição, Sintoma, Angústia". Ele distingue a angústia
diante de um perigo real, a angústia automática e o sinal de angústia. A primeira é
causada pelo perigo que a motiva, a segunda é uma reação a uma situação social, a
terceira é um mecanismo puramente psíquico que reproduz uma situação traumática vivida anteriormente e à qual o eu reage por meio de uma defesa.
Lacan analisa e comenta todas essas definições. Mas ele cria um conceito de angústia que difere daquele de Freud. Numa
perspectiva menos darwiniana e, em alguns aspectos, mais ontológica, ele faz da
angústia uma estrutura constitutiva da organização psíquica.
Além disso, ele a vê menos como um estado próprio do sujeito angustiado do que
como o próprio significante de toda subjetividade humana. Para Lacan, a angústia
acontece quando a ausência do objeto, necessária à expressão do desejo, acaba faltando, a ponto de prender o sujeito a um
real inominável que lhe escapa e o ameaça.
Essa "ausência da ausência" sufoca o desejo e se traduz por fantasmas de autodestruição: caos, fusão com o corpo materno,
alucinações, espectros de insetos, imagens
de deslocamentos ou de castração.
Do ponto de vista clínico, a angústia,
quando se torna patológica, pode ser superada se o sujeito conseguir desviar-se desse
trauma real e distanciar-se do pavor da ausência, fonte de decepção. Ele pode, então,
apreender seu significado, isto é, na terminologia lacaniana, designar o grande Outro, essa lei simbólica que o determina em
sua relação com o desejo.
Podemos compreender: a angústia é ao
mesmo tempo necessária à vida do desejo,
impossível de evitar, sob pena de engodo,
e, finalmente, relativamente controlável,
quando sua origem pode ser simbolizada.
Assim, é inútil procurar eliminá-la por
completo com a ajuda de medicamentos.
Elisabeth Roudinesco é historiadora da psicanálise
francesa, autora de "Jacques Lacan" (Companhia das
Letras) e "Por Que a Psicanálise" (Jorge Zahar).
Tradução de Clara Allain.
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