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Novo chamariz, tradução direta deixa de ser luxo e vira exigência
ALEXANDRA MORAES
ERNANE GUIMARÃES NETO
DA REDAÇÃO
Se os textos de Dostoiévski, Tolstói, Gógol e Tchékhov, entre
outros, não eram totalmente desconhecidos dos leitores brasileiros, sua tradução
direta do idioma original
aportou por aqui como novidade tornada obrigatória
há quase uma década. Tanto quanto o autor, a frase
"traduzido diretamente do
russo" virou chamariz.
"A quantidade e a velocidade atuais de publicação
dos russos realmente não
são inéditas", explica o professor da USP Bruno Gomide, pesquisador da recepção
da literatura russa no Brasil, citando a "febre de eslavismo" dos anos 30 e a coleção de Dostoiévski da editora José Olympio nos 40.
"O que há de inédito é o
fato de a tradução a partir
do original russo ter se tornado uma exigência", diz.
"Ademais, exige-se que sejam feitas com qualidade.
Já nos anos 30 havia edições feitas a partir do russo,
mas em geral eram apressadas, ou então excessivamente atreladas a interesses de grupos políticos."
Mesmo em relação a épocas mais recentes, é possível medir o crescimento do
interesse. Nos anos 90, a
editora Ars Poetica lançou
textos de Andrei Biéli e o
estudo de Nabókov sobre
Gógol que, para Gomide,
"talvez não tenham tido a
repercussão devida".
Agora, autores contemporâneos, como Vladimir
Voinovitch ("Propaganda
Monumental", 2003), ou
obscuros, como M. Aguéiev,
("Romance com Cocaína",
1934) ganharam espaço.
Entre os principais tradutores dos clássicos estão
Boris Schnaiderman, Paulo
Bezerra e Rubens Figueiredo -que, desde 2003, lançou pela Cosac Naify textos
de Tchékhov, Tolstói, Turguêniev e Górki. "Ele tem
uma "quase bolsa" de tradução", diz o editor Paulo
Werneck.
A tradução direta não é
luxo: mostra contornos que
ficariam embaçados em
versões indiretas. Gomide
diz que um dos mais beneficiados por elas é Dostoiévski, "o mais comentado dos
ficcionistas russos na crítica brasileira e o mais cercado por lugares-comuns."
As obras de Dostoiévski
contribuíram também para
a consolidação das traduções diretas, após o sucesso
de "Memórias do Subsolo",
por Schnaiderman (2000),
e "Crime e Castigo", por
Paulo Bezerra (2001), ambos da editora 34.
"Os russos, pela primeira
vez em muito tempo, aparecem desvinculados da questão política", aponta Gomide. "A volúpia de se conhecer a "Rússia subterrânea", o
"enigma soviético" ou qualquer tipo de "cor local" por
meio da literatura está
completamente ausente."
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