São Paulo, domingo, 13 de janeiro de 2008

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Novo chamariz, tradução direta deixa de ser luxo e vira exigência

ALEXANDRA MORAES
ERNANE GUIMARÃES NETO

DA REDAÇÃO

Se os textos de Dostoiévski, Tolstói, Gógol e Tchékhov, entre outros, não eram totalmente desconhecidos dos leitores brasileiros, sua tradução direta do idioma original aportou por aqui como novidade tornada obrigatória há quase uma década. Tanto quanto o autor, a frase "traduzido diretamente do russo" virou chamariz.
"A quantidade e a velocidade atuais de publicação dos russos realmente não são inéditas", explica o professor da USP Bruno Gomide, pesquisador da recepção da literatura russa no Brasil, citando a "febre de eslavismo" dos anos 30 e a coleção de Dostoiévski da editora José Olympio nos 40.
"O que há de inédito é o fato de a tradução a partir do original russo ter se tornado uma exigência", diz. "Ademais, exige-se que sejam feitas com qualidade. Já nos anos 30 havia edições feitas a partir do russo, mas em geral eram apressadas, ou então excessivamente atreladas a interesses de grupos políticos."
Mesmo em relação a épocas mais recentes, é possível medir o crescimento do interesse. Nos anos 90, a editora Ars Poetica lançou textos de Andrei Biéli e o estudo de Nabókov sobre Gógol que, para Gomide, "talvez não tenham tido a repercussão devida".
Agora, autores contemporâneos, como Vladimir Voinovitch ("Propaganda Monumental", 2003), ou obscuros, como M. Aguéiev, ("Romance com Cocaína", 1934) ganharam espaço.
Entre os principais tradutores dos clássicos estão Boris Schnaiderman, Paulo Bezerra e Rubens Figueiredo -que, desde 2003, lançou pela Cosac Naify textos de Tchékhov, Tolstói, Turguêniev e Górki. "Ele tem uma "quase bolsa" de tradução", diz o editor Paulo Werneck.
A tradução direta não é luxo: mostra contornos que ficariam embaçados em versões indiretas. Gomide diz que um dos mais beneficiados por elas é Dostoiévski, "o mais comentado dos ficcionistas russos na crítica brasileira e o mais cercado por lugares-comuns."
As obras de Dostoiévski contribuíram também para a consolidação das traduções diretas, após o sucesso de "Memórias do Subsolo", por Schnaiderman (2000), e "Crime e Castigo", por Paulo Bezerra (2001), ambos da editora 34.
"Os russos, pela primeira vez em muito tempo, aparecem desvinculados da questão política", aponta Gomide. "A volúpia de se conhecer a "Rússia subterrânea", o "enigma soviético" ou qualquer tipo de "cor local" por meio da literatura está completamente ausente."


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