São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 2000


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+ 3 questões Sobre Décio de Almeida Prado

1. Qual a importância do ensaísta para o teatro brasileiro?
2. Quais as principais tendências de sua crítica?
3. Ele estabeleceu um padrão de análise do teatro na imprensa?

Barbara Heliodora responde

1.
Para escolher uma razão entre várias, podemos dizer que a importância do Décio vem do fato de ser ele o responsável pela legitimação da forma dramática no quadro geral da literatura brasileira. Nos críticos "clássicos", ela jamais passava de uma atividade marginal e fortuita na carreira dita séria de nossos escritores.
Décio, no entanto, por ter participado da criação e da vida do teatro, elegeu a crítica teatral como a sua seara, elaborando exegese tão precisa e erudita quanto a dedicada ao romance ou à poesia. A exigência dele obrigou o próprio teatro a se levar mais a sério.

2.
Décio sempre soube muito bem que o teatro brasileiro, para ser bom, não precisava inventar a roda: em todos os países onde há bom teatro, o repertório inclui obras de autores das mais variadas nacionalidades.
A preocupação maior de Décio foi sempre a do desenvolvimento do teatro brasileiro, ele nunca foi xenófobo. A presença do texto BOM estrangeiro, como ele sabia, era parte das necessidades para a formação de nossos dramaturgos, que não tinham à sua disposição uma grande riqueza herdada de Portugal: sua tendência era sempre no sentido do estímulo sensato e exigente, sem paternalismos ou desculpas.

3.
É claro que Décio de Almeida Prado estabeleceu um novo padrão para a crítica teatral. O difícil é -para qualquer um que queira exercer o ofício- conseguir fazer mais do que seguir respeitosamente e de longe o seu exemplo, porque não é só a integridade ou a precisão do entendimento de texto e espetáculo que fazem das críticas que ele escreveu o que são: sua vasta cultura, sua capacidade constante de estudo, sua perseverança de pesquisador, sua elegância natural de pensamento e expressão formam um todo que pode ser mantido como ideal, mas que dificilmente será igualado.

Sábato Magaldi responde

1.
Em primeiro lugar, Décio de Almeida Prado foi uma espécie de consciência crítica do teatro em São Paulo, num momento privilegiado em que se afirmaram sucessivamente o TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), os elencos dele saídos, o Arena e o Oficina. Encerrada a militância jornalística, em 1968, a par do trabalho universitário, ele se debruçou sobre a história do teatro brasileiro, publicando livros fundamentais, como os dois dedicados ao ator João Caetano, o "Teatro de Anchieta a Alencar" e "O Drama Romântico Brasileiro", além dos três em que enfeixou sua crítica de espetáculos, nos 22 anos em que a exerceu.

2.
Décio criticava o espetáculo como um todo, e não apenas um de seus elementos. Entre as várias escolas críticas, pode-se afirmar que ele se pautava por sadio ecletismo, aproveitando o que há de melhor em cada uma. E ele próprio definiu seu ideário estético de forma exemplar: "O meu esforço crítico, durante a representação e enquanto escrevia, organizava-se com a intenção de entender bem o que os outros falavam, esposando momentaneamente aquele determinado universo de ficção, com as suas leis próprias. Acreditava no destino com os gregos, na Divina Providência com os cristãos, no determinismo com os naturalistas, no materialismo histórico com os marxistas.

3.
Sem dúvida ele estabeleceu um padrão de crítica teatral na imprensa: pelo rigor, pela seriedade, pela análise demorada e lúcida, pelo talento de relacionar o particular ao genérico da história, pela ausência de dogmatismo, sendo generoso em sugerir caminhos, e por uma virtude fundamental, que é a de escrever bem e com extrema elegância.

QUEM SÃO

Sábato Magaldi
É ensaísta e crítico teatral, autor, entre outros livros, de "Nelson Rodrigues: Dramaturgias e Encenações", "O Texto no Teatro" e "Moderna Dramaturgia Brasileira" (Perspectiva).

Barbara Heliodora
É tradutora e crítica de teatro, autora, entre outros, de "Falando de Shakespeare" (Perspectiva) e "Expressão Dramática do Homem Político em Shakespeare" (Paz e Terra).


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