São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997.

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da Redação

Virtual
Conceito elaborado pelo filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995), particularmente em seu livro "Diferença e Repetição". A noção de virtual é utilizada pelo autor para descrever o que denomina de "multiplicidades". As duas noções -opostas na filosofia tradicional- de possível e real são substituídas pelas idéias -não opostas- de virtual e atual. O virtual seria um campo de forças em ação num determinado acontecimento (o atual), a apreensão móvel e jamais concluída do que se faz e refaz incessantemente -as multiplicidades ou, em última instância, a vida. Neste sentido, o virtual não se opõe ou se alterna ao real -na acepção comum ao vocabulário informático-, ele é uma compreensão ampliada da realidade.

Rizoma
A idéia aparece pela primeira vez em "Mil Platôs", livro escrito por Deleuze e Félix Guattari e toma de empréstimo um termo do vocabulário da botânica. É utilizado pelos autores em substituição ao modelo de árvore -um centro (caule) ao qual se conectam várias derivações. O rizoma é um processo de ramificação aberta, não remete a um centro ou núcleo e expande-se em direções móveis e indeterminadas. A estrutura da Internet -rede de computadores ligados entre si e não mediados por um núcleo ou uma central- é o fato contemporâneo que mais se adequa aos princípios de um rizoma.

Desentendimento
Noção elaborada pelo filósofo francês Jacques Rancière para interpretar o funcionamento da comunicação política. Sua teoria é um contraponto às teorias do consenso como a de Habermas, por exemplo. Para Habermas, a razão teria uma natureza comunicativa cuja finalidade seria um acordo -consenso- dos interesses em litígio na sociedade. Em contraste, Rancière entende a política como o palco no qual "sujeitos em dissenso" -classes, partidos etc.- elaborariam estratégias para a realização de interesses variados ou discordantes. O desentendimento, portanto, privilegia perspectivas realistas como a disputa de poderes e recusa o modelo idealizado de uma comunidade voltada para o consenso.

Relativismo
As questões ocultas sob essa idéia são tão antigas quanto a própria filosofia, mas pode-se reconhecer as origens do relativismo contemporâneo, entre outras, na filosofia de Nietzsche.
±Ao defender a arbitrariedade da noção de verdade -calcada nas exigências da validade universal e na imutabilidade da sua revelação- o filósofo alemão abriu campo para o questionamento de uma tradição arraigada do pensamento. No século 20, a demolição da metafísica propiciou a ruína definitiva de um fundamento absoluto e imperecível. O relativismo, em suma, propõe a equivalência das interpretações afim de liberá-las do jugo da verdade absoluta. Cada interpretação indicaria os interesses daqueles que a expressam. Nesta fórmula pode-se reconhecer os argumentos de querelas contemporâneas como o multiculturalismo. Os críticos da idéia acusam o relativismo de promulgar um vale-tudo no qual os maiores riscos seriam a completa falta de regras morais e a transformação das conquistas do conhecimento em falsidades bem-argumentadas.
(CÁSSIO STARLING CARLOS)

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