São Paulo, domingo, 13 de setembro de 2009

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Peça no Brasil teve música de Caetano Veloso

DA REDAÇÃO

"O Percevejo" estreou no Brasil em junho de 1981 com um final diferente do escrito por Vladímir Maiakóvski, em 1928. Em vez da amargura e do desespero -que refletiam a situação política da União Soviética de então e prenunciavam a morte prematura do poeta, nascido em 1893-, a montagem brasileira optou pela esperança e pelo otimismo no momento político de desen-lace da ditadura militar.
Neste final, ouvia-se a voz de Caetano Veloso, que cantava um poema cuja letra é inspirada em Maiakóvski (no epílogo de "Sobre Isto", de 1923). Do poema nasceu a canção "O Amor", composta por Caetano e Ney Costa Santos, que em determinado trecho diz: "Ressuscita-me/ Ainda que mais não seja/ Porque sou poeta/ E ansiava o futuro/ Ressuscita-me/ Lutando contra as misérias/ Do cotidiano/ Ressuscita-me por isso/ Ressuscita-me/ Quero acabar de viver o que me cabe/ Minha vida/ Para que não mais existam/ Amores servis".
A canção faz referência ao protagonista ressuscitado de "O Percevejo", Prissípkin, congelado durante 50 anos -e que, boêmio, se transmuta ao longo do texto de símbolo da decadência "burguesa" em reservatório de humanidade num futuro planejado e asséptico.
Mesclando elementos das realidades russa e brasileira, a encenação de 1981, no teatro Dulcina, no Rio de Janeiro, intercalava o texto da peça, trechos de outras obras de Maiakóvski e episódios da sua biografia. A peça foi traduzida e dirigida por Luís Antonio Martinez Corrêa, que tentou montá-la no Brasil em 1974; houve, porém, o veto da censura.
Para o crítico literário Boris Schnaiderman, o final alterado na montagem brasileira destoa do espírito original da peça, que converge para a crítica que faz Maiakóvski aos tempos sombrios que se instalavam na União Soviética do final dos anos 20. Além disso, anuncia o desencanto e o pessimismo do poeta, que morreu com um tiro em 14 de abril de 1930.
A estreia de "O Percevejo" tinha ocorrido em 1929 sob a direção de Vsiévolod Meyerhold. Segundo Schnaiderman, a obra é o ápice da obra dramatúrgica de Maiakóvski. A presença de elementos típicos do seu teatro -o espetacular, o circense e o sarcasmo feroz- realçam, ele diz, a importância da obra.


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