|
Texto Anterior | Índice
Peça no Brasil teve música de Caetano Veloso
DA REDAÇÃO
"O Percevejo" estreou no
Brasil em junho de 1981
com um final diferente
do escrito por Vladímir Maiakóvski, em 1928. Em vez da
amargura e do desespero -que
refletiam a situação política da
União Soviética de então e prenunciavam a morte prematura
do poeta, nascido em 1893-, a
montagem brasileira optou pela esperança e pelo otimismo
no momento político de desen-lace da ditadura militar.
Neste final, ouvia-se a voz de
Caetano Veloso, que cantava
um poema cuja letra é inspirada em Maiakóvski (no epílogo
de "Sobre Isto", de 1923). Do
poema nasceu a canção "O
Amor", composta por Caetano
e Ney Costa Santos, que em determinado trecho diz: "Ressuscita-me/ Ainda que mais não
seja/ Porque sou poeta/ E ansiava o futuro/ Ressuscita-me/
Lutando contra as misérias/
Do cotidiano/ Ressuscita-me
por isso/ Ressuscita-me/ Quero acabar de viver o que me cabe/ Minha vida/ Para que não
mais existam/ Amores servis".
A canção faz referência ao
protagonista ressuscitado de
"O Percevejo", Prissípkin, congelado durante 50 anos -e que,
boêmio, se transmuta ao longo
do texto de símbolo da decadência "burguesa" em reservatório de humanidade num futuro planejado e asséptico.
Mesclando elementos das
realidades russa e brasileira, a
encenação de 1981, no teatro
Dulcina, no Rio de Janeiro, intercalava o texto da peça, trechos de outras obras de Maiakóvski e episódios da sua biografia. A peça foi traduzida e dirigida por Luís Antonio Martinez Corrêa, que tentou montá-la no Brasil em 1974; houve, porém, o veto da censura.
Para o crítico literário Boris
Schnaiderman, o final alterado
na montagem brasileira destoa
do espírito original da peça,
que converge para a crítica que
faz Maiakóvski aos tempos
sombrios que se instalavam na
União Soviética do final dos
anos 20. Além disso, anuncia o
desencanto e o pessimismo do
poeta, que morreu com um tiro
em 14 de abril de 1930.
A estreia de "O Percevejo" tinha ocorrido em 1929 sob a direção de Vsiévolod Meyerhold.
Segundo Schnaiderman, a obra
é o ápice da obra dramatúrgica
de Maiakóvski. A presença de
elementos típicos do seu teatro
-o espetacular, o circense e o
sarcasmo feroz- realçam, ele
diz, a importância da obra.
Texto Anterior: O triste fim de Maiakóvski Índice
|