São Paulo, domingo, 13 de novembro de 2005

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Biblioteca básica

O Ofício de Viver

CARLOS REICHENBACH
ESPECIAL PARA A FOLHA

Leio trechos esparsos de "O Ofício de Viver", de Pavese, e de "Murilo Mendes - Poesia Completa e Prosa" praticamente todos os dias. Enquanto os pensamentos de Murilo Mendes são celebrações à vida, a obra de Pavese é um autêntico inventário do desespero. São obras de aguda sensibilidade e inteligência, que, paradoxalmente, se completam. Por via transversa, Mendes dá a chave para entender (e amar) "O Ofício de Viver": "Ler os textos da noite com a lente do dia". A obra terminal de Pavese é um alerta a respeito das perversões da melancolia. Um documento humano essencial da nossa época, transgressivo em sua "franqueza dilacerante".
Cheguei ao cinema via literatura, mas nunca foram romances ou textos de ficção que me estimularam a pensar e escrever os meus filmes. Minhas idéias brotam sempre de fragmentos poéticos, de mergulhos alheios na memória e meditações sobre a vida.
Sob esse prisma, as obras de Jorge de Lima, Murilo Mendes, além de "O Ofício de Viver", são inesgotáveis mananciais de inspiração; a mística insinuante de Lima, a vastidão intelectual, o prazer pela vida de Mendes e a dor crucial de Pavese, "gatilhos" da criação.


Carlos Reichenbach é cineasta. Dirigiu "Garotas do ABC" (2004) e "Anjos do Arrabalde" (1986), entre outros filmes.

A obra
"O Ofício de Viver", de Cesare Pavese. Tradução de Homero Freitas de Andrade. 412 págs., R$ 59. Editora Bertrand Brasil (tel. 0/ xx/21/2585-2070).


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